O Natal é a data em que o Cristianismo celebra o momento em que um casal pobre e sem teto, formado por Maria e José, teve que se abrigar em um espaço dedicado a animais para o nascimento do filho, Jesus Cristo. Essa história, segundo a Bíblia, aconteceu há 2023 anos. De lá para cá, o drama das pessoas sem casa para morar tornou-se um enorme desafio para governantes de todo o mundo. O Brasil tem 227.087 pessoas vivendo nas ruas, segundo inscrições no Cadastro Único do governo federal.
O número de pessoas vivendo nessas condições foi praticamente multiplicado por 10 na última década, já que em 2013 eram 21.934.
Segundo levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), entre os motivos para esse quadro estão a exclusão econômica, que envolve insegurança alimentar, desemprego e déficit habitacional; ruptura de vínculos familiares; e questões de saúde, especialmente de saúde mental.
Problemas familiares ou com companheiros foram causas apontadas para a saída de casa por 47,3% das pessoas em situação de rua. O desemprego foi citado por 40,5%, enquanto alcoolismo e abuso de outras drogas foram mencionados 30,4%. Perda de moradia foi citada por 26,1%.
Marco Natalino, pesquisador do Ipea, avalia o quanto a falta de renda pesa na decisão de uma pessoa passar a viver em situação de rua.
“O fator econômico inclui falta de renda e de oportunidade de trabalho nos locais de moradia. Isso se manifesta também no caso de pessoas que até têm uma habitação longe dos grandes centros, mas passam a semana ou vários dias dormindo de forma improvisada nas ruas e trabalhando como lavador de carro, ambulante e outras coisas”, disse ele, em entrevista ao site G1.
Estudo feito por Natalino mostra que quanto maior o tempo de permanência na rua, maior a probabilidade de problemas com familiares e companheiros serem um dos principais motivos que levaram a pessoa à situação de rua. “O mesmo ocorre, e de forma ainda mais intensa, com os motivos de saúde, particularmente o uso abusivo de álcool e outras drogas. As razões econômicas, por sua vez, tais como o desemprego, estão associadas a episódios de rua de mais curta duração”, escreveu ele na pesquisa.
A análise aponta que 60% das pessoas em situação de rua não vivem na cidade em que nasceram, mas 70% delas vivem no mesmo estado de nascimento. O levantamento mostra ainda que, no geral, o movimento é das periferias em direção aos centros metropolitanos.
Depois de quatro anos de virtual abandono das políticas sociais, durante a gestão de Jair Bolsonaro, o governo atual retomou os investimentos na área e tomou algumas iniciativas para ajudar as pessoas em situação de rua, como repassar recursos a prefeituras que tivessem projetos de acolhimento no inverso e lançamento de moradias para alguns grupos de sem teto. No entanto, essas medidas estão longe de resolver o problema.
A maior ajuda vem de projetos sociais como o que é mantido pelo padre Julio Lancellotti, em São Paulo. Além das doações de itens de primeira necessidade ou dinheiro, o religioso pede também que essas pessoas sejam olhadas de forma mais humana. Leia o texto dele aqui
Sobre o drama de passar o Natal na rua, o ICL Notícias ouviu algumas das pessoas que estão nessa situação e são atendidas pelo projeto do Padre Julio.
Nesse Natal, são esses brasileiros em situação tão difícil que ocupam os espaços de destaque do nosso noticiário, normalmente dedicado a políticos e outras autoridades. Quebrar a invisibilidade a que eles são relegados talvez seja o primeiro passo para tratá-los como merecem.
Veja os depoimentos:
‘Eu não gosto do Natal. É uma data muito triste pra mim’
‘Acham que por estarmos na calçada somos qualquer um, que somos ladrão, viciado’
‘É sofrido você olhar para as casas, ver luzinhas piscando, as pessoas comemorando’
‘O Natal na rua é motivo de muita tristeza, de muita saudade’
Deixe um comentário