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Jorge Mizael

Cientista político, doutorando pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), com foco em comportamento político e estudos sobre mudanças constitucionais. Fundador da Metapolítica, consultoria premiada no Oscar da Comunicação Política Mundial em 2020 pela The Washington Academy of Political Arts Sciences. Indicado, em 2021, como Consultor Político Revelação pela mesma instituição. Colunista do portal ICL Notícias, onde analisa questões políticas e institucionais com ênfase em governança e a relação entre o Legislativo e o Executivo.

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Diretor do INSS diz em reunião que servidor que não quiser trabalhar vai entrar em depressão

Declaração de Ismênio Bezerra durante reunião sobre gestão por desempenho no INSS gerou forte reação entre os servidores e levanta debate sobre liderança, saúde mental e condições de trabalho no setor público
01/02/2025 | 23h59

Recentemente, a reunião sobre o Programa de Gestão por Desempenho (PGD) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) gerou controvérsia ao expor uma fala do Diretor de Governança, Planejamento e Inovação, Ismênio Bezerra. Durante o encontro, Bezerra afirmou: “Quem não quer trabalhar vai entrar em depressão, sabe?”. A declaração foi prontamente reprovada pelos servidores, e a repercussão no ambiente organizacional foi imediata.

Este episódio lança luz sobre o assédio Institucional no setor público e o delicado equilíbrio entre a liderança e as condições de trabalho. A fala do diretor não só expõe uma visão limitada sobre os fatores que influenciam o desempenho dos servidores, como também revela uma compreensão superficial dos desafios emocionais e psicológicos que podem surgir no contexto de uma administração pública com altos níveis de pressão.

A afirmação de Bezerra parece simplificar questões complexas como motivação, saúde mental e bem-estar dos servidores. Quando um líder, especialmente de uma instituição pública relevante como o INSS, utiliza um tom tão desconsiderado sobre o estado emocional dos seus funcionários, a mensagem que se passa não é de incentivo, mas de deslegitimação das dificuldades que impactam muitas vezes a produtividade e a qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Gestão por desempenho: a questão das expectativas e da saúde mental

A gestão por desempenho, tema central do programa discutido na reunião, é uma abordagem cada vez mais presente no setor público, que visa melhorar a eficiência e a eficácia dos serviços prestados à população. No entanto, a sua implementação tem gerado preocupações, especialmente quando mal administrada. A pressão para atingir metas rígidas, sem considerar a realidade dos servidores ou a disponibilização dos recursos adequados para o seu apoio, pode gerar uma cultura de exaustão e desânimo.

Em vez de promover um ambiente de cooperação e melhoria contínua, afirmações como a de Bezerra podem criar um clima de desconfiança, de desvalorização do papel do servidor público e de estigmatização das questões relacionadas à saúde mental. Isso é particularmente problemático em um contexto em que os servidores públicos desempenham funções essenciais para a sociedade, como no caso do INSS, onde a população depende do bom funcionamento da instituição para acessar seus direitos.

Reflexões sobre liderança e gestão pública

É crucial entender que um líder não apenas organiza e orienta, mas também influencia diretamente o bem-estar da equipe. Estudos sobre liderança mostram que a maneira como um líder se comunica e estabelece suas expectativas tem um impacto profundo sobre a moral e o comportamento dos funcionários.

Portanto, a liderança eficaz no serviço público exige mais do que apenas cobranças por metas. É necessária uma comunicação empática, que considere as dificuldades que os servidores enfrentam no dia a dia. Além disso, os gestores devem ser preparados para lidar com a diversidade de condições psicológicas dos colaboradores, incluindo aqueles que podem estar enfrentando problemas de saúde mental, como a depressão, que não se resolve com a simples imposição de trabalho ou pressão.

Conclusão: a necessidade de empatia na gestão pública

Esse episódio não é apenas sobre uma fala infeliz, mas uma reflexão necessária sobre a forma como se vê e trata o servidor público. Ao invés de minimizar os problemas enfrentados, é necessário que os gestores adotem uma postura mais sensível, acolhedora e transparente. A gestão pública precisa ser mais humana, com foco na melhoria do ambiente de trabalho, na valorização do servidor e na criação de condições adequadas para que ele possa desempenhar suas funções com qualidade e sem comprometer sua saúde.

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