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Por Daniel Mello — Agência Brasil 

Os 60 anos do golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil serão lembrados pela Caminhada do Silêncio pelas Vítimas da Violência de Estado, que ocorrerá no domingo (31), na zona sul paulistana.

Esta será a quarta edição do evento em São Paulo que se relaciona com as caminhadas que ocorrem em outros países que passaram por regimes autoritários no mesmo período, como a Argentina e o Uruguai.

“Muito inspirado por essas outras caminhadas que a gente passou a fazer aqui no Brasil também, e esse ano a gente não tem só em São Paulo, mas também no Rio de Janeiro”, disse o coordenador do Instituto Vladmir Herzog, Lucas Barbosa.

Além do instituto, participam da organização do ato o Movimento Vozes do Silêncio, o Núcleo de Preservação da Memória Política e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

Trajeto do ato

A caminhada sairá do local onde funcionou o Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Rua Tutóia, um dos principais locais responsáveis pela tortura e assassinato dos opositores à ditadura.

A concentração será às 16h e deve reunir pelo menos 10 organizações, como a União Nacional dos Estudantes, a Ordem dos Advogados do Brasil — São Paulo, a Comissão Arns e a Anistia Internacional. Por volta das 18h, o grupo segue em direção ao Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.

Na avaliação de Barbosa, a discussão do passado é necessária, para evitar que os crimes contra a humanidade, contra a democracia voltem a se repetir. “Por que aconteceu o 8 de janeiro?”, questiona. “Pela certeza da impunidade. Quando certas figuras das forças armadas, não vou dizer que a totalidade das forças armadas, mas quando certas figuras se permitem, digamos assim, sentar à mesa para discutir um plano golpista de ataque à democracia, é senão a certeza da impunidade, de que nada vai ser feito, de que nada vai acontecer”, compara.

Por entender essa relação é que, segundo Barbosa, a caminhada também faz homenagem às populações periféricas, que seguem sofrendo com a violência policial.

“Não é somente olhar para o passado, mas é entender que o passado reflete diretamente, quando não articulado, quando não encarado da maneira adequada, ele reflete diretamente no presente. Então, acho que vítimas de violência do Estado hoje, por exemplo, como as chacinas, é senão um reflexo de uma polícia truculenta do passado, e que nunca foi responsabilizada até hoje.”

Cordão da Mentira desfila contra ditadura e matanças do Estado brasileiro

Cordão da Mentira em desfile de 2023 contra ditadura: concentração às 17h e caminhada até o antigo DOPS

Cordão da Mentira em desfile de 2023 contra ditadura: concentração às 17h e caminhada até o antigo DOPS

“De Golpe em Golpe: tá lá um corpo estendido no chão” é o tema do cortejo do Cordão da Mentira de 2024. O ato carnavalesco reúne artistas, militantes e movimentos sociais no dia 1 de abril, Dia da Mentira e dia do Golpe de 1964, para denunciar as mentiras do Brasil contemporâneo e os massacres contra o povo brasileiro no passado e no presente.

O cortejo partirá do Centro Universitário Maria Antônia (Rua Maria Antônia 294 — próximo ao metrô Mackenzie), espaço histórico de resistência à ditadura, e seguirá até o antigo DOPS, hoje Memorial da Resistência, no centro de São Paulo. A concentração será às 17h com músicas e homenagens, seguida do cortejo até o antigo DOPS, com canções compostas para o Cordão por Douglas Germano, Renato Martins, Selito SD e Everaldo F. Silva.

Este ano, o Cordão sairá às ruas com três desafios: lembrar o aniversário de 60 anos do golpe de 1964, a tentativa de golpe de 2023 e a continuidade das matanças do Estado brasileiro nas periferias, favelas e no campo, ao longo de todo o processo de redemocratização do país. O enredo destaca também o horror do genocídio palestino e sua relação com as matanças em nossas periferias, discutindo a violência e o racismo e enaltecendo militantes das lutas sociais brasileiras, que estarão presentes no ato.

Como todos os anos, a comissão de frente será formada por mães de vítima de violência de todo o Brasil, sobretudo de Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Baixada Fluminense, Baixada Santista e São Paulo. As madrinhas do Cordão, as Mães de Maio, mais uma vez puxarão o cortejo. Este ano, Débora Maria, fundadora do movimento, será a homenageada ao lado de Milton Barbosa (MNU), Padre Julio Lancelotti e Rose Nogueira, sobrevivente da ditadura.

 

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