No primeiro dia em vigor da nova regra que reduz o controle cambial na Argentina, na segunda-feira (14), o peso argentino despencou enquanto os mercados de ações e títulos do Tesouro registraram fortes altas.
No primeiro dia útil após os anúncios, o peso argentino se desvalorizou 11,38% em relação ao dólar, enquanto o S&P Merval, índice que mede o desempenho das ações mais líquidas da Argentina, registrou alta de 4,70%.
O chamado “cepo” foi anunciado na sexta-feira passada (11) pelo governo do presidente anarcocapitalista, Javier Milei. Isso significa que a Argentina eliminou a maior parte dos controles cambiais e permitiu que o peso flutuasse dentro de bandas cambiais.
O banco central do país anunciou que permitirá que o peso seja negociado em uma faixa de 1.000 a 1.400 pesos por dólar, encerrando efetivamente o sistema de “cepo cambiário” que estava em vigor.
O “cepo cambiário” é o controle ao câmbio que vigorou por anos no país, como medida para conter a desvalorização do peso em meio ao cenário de hiperinflação do país. A medida permitiu que o dólar oficial subisse de maneira estável e abaixo dos níveis de inflação da Argentina
A mudança pode exigir que o banco venda dólares de suas reservas, que serão aumentadas por um desembolso de 15 bilhões de pesos argentinos de fundos do FMI (Fundo Monetário Internacional). O montante representa 75% do total do programa aprovado pelo credor com sede em Washington.
As autoridades também informaram que estão encerrando o limite de US$ 200 para a compra de dólares por pessoas físicas, além de permitir que empresas enviem alguns dividendos para o exterior.
Com a mudança, o governo Milei ensaia o fim do sistema de restrição cambial que estava em vigor desde 2019, limitando a compra de dólares e outras moedas estrangeiras pelos argentinos.
Argentina fecha acordo de US$ 20 bi com o FMI
Ao mesmo tempo em que anunciou a mudança nas regras, na sexta-feira passada, a Argentina também fechou um acordo de US$ 20 bilhões (R$ 116,9 bilhões) com o FMI. O acordo tem prazo de 48 meses.
Segundo o ministro da Economia, Luis Caputo, o dinheiro permitirá a “recapitalização do BC para ter uma moeda mais saudável e continuar o processo de desinflação”.
Segundo o governo argentino, o país deve receber US$ 28 bilhões (R$ 163,6 bilhões) somente em 2025, incluindo:
- US$ 15 bilhões (R$ 87,6 bilhões) do FMI;
- US$ 6,1 bilhões (R$ 35,6 bilhões) de outros credores multinacionais;
- US$ 2 bilhões (R$ 11,7 bilhões) de bancos globais; e
- US$ 5 bilhões (R$ 29,2 bilhões) da extensão de um swap cambial com a China — esse é um acordo feito entre os bancos centrais dos dois países que permite que as instituições troquem moedas, o que ajuda a fortalecer suas respectivas reservas internacionais.
A ideia é que o FMI desembolse US$ 12 bilhões nesta semana, seguido de uma revisão do programa em junho que deverá liberar mais US$ 2 bilhões, e uma nova revisão no final do ano com mais US$ 1 bilhão.
Segundo o banco central da Argentina, “esses recursos líquidos serão usados para fortalecer o balanço patrimonial [do banco central] por meio da recompra de títulos intransferíveis pelo Ministério da Economia”.
Pelo acordo, a Argentina deve acumular reservas internacionais líquidas no valor de US$ 4 bilhões até o final deste ano, em comparação com o nível registrado em 31 de dezembro de 2024. Essa meta acelera para um aumento de US$ 8 bilhões no próximo ano.
Também está previsto um superávit fiscal primário (receitas maiores que despesas) de 1,3% do PIB neste ano.
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