Em ata do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgada nesta terça (6) o Banco Central demonstrou maior preocupação com a recente valorização do dólar e seu possível impacto na inflação futura, afirmando, que “não hesitará em aumentar a taxa de juros para garantir a convergência da inflação à meta, caso considere necessário”.
A ata se refere à reunião realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros foi mantida em 10,50% ao ano. Este foi o segundo encontro consecutivo em que a Selic permaneceu inalterada.
Conforme o BC, na reunião da semana passada foram amplamente discutidos os movimentos recentes de alguns fatores que influenciam a dinâmica da inflação, como as expectativas inflacionárias e a taxa de câmbio, com o dólar registrando forte alta nas últimas semanas.
“Observou-se que, se tais movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão devidamente incorporados pelo Comitê. Em função disso, o Comitê avaliou que o momento é de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação e de maior vigilância perante um cenário mais desafiador”, acrescentou o Banco Central.
Ata do Copom destaca percepção dos ‘agentes de mercado’ sobre a atual situação da economia. Eduardo Moreira já escancarou manipulação no Boletim Focus
O Copom também observou que há uma “percepção mais recente” dos agentes de mercado em relação ao aumento dos gastos públicos e à sustentabilidade do atual arcabouço fiscal, que é a regra das contas públicas. Junto a outros fatores, o comitê avaliou que isso “vem gerando impactos significativos sobre os preços de ativos, como o dólar e os juros futuros, além de influenciar as expectativas de inflação, que estão em alta”.
Como consequência, o Copom destacou que as projeções de inflação para os próximos anos têm aumentado, tornando o cenário atual mais arriscado e “desafiador”. Também enfatizou que o desenvolvimento desse cenário será crucial para determinar as próximas decisões sobre a taxa de juros da economia.
“À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, acrescentou o BC.
Vale destacar a nítida manipulação do mercado financeiro sobre o Boletim Focus do Banco Central, que traz estimativas econômicas de agentes do mercado.
O Boletim Focus é um documento divulgado todas as segundas-feiras pelo BC e traz projeções de inflação, PIB (Produto Interno Bruto), taxa Selic, entre outros.
“Como o BC mede a expectativa do mercado, ele faz uma pesquisa, a Focus, pela qual ele manda um questionário para todas as instituições financeiras, economistas e operadores, que respondem anonimamente, embora o BC saiba quem respondeu o que. Aí, o BC faz a média e diz assim: ‘a expectativa de inflação do mercado é tanto’”, explicou Moreira no ICL Notícias 1ª edição de 24 de maio.
Moreira falou especialmente sobre o pessimismo geral do mercado financeiro com a economia brasileira.
“O Banco Central parece técnico mas não é. [Ele] define as taxas de juros do país – todas as nossas taxas dependem da taxa do Copom [Comitê de Política Monetária]. E uma das componentes que o Banco Central diz que usa para poder decidir a taxa é a expectativa do mercado em relação à inflação. Se o mercado está com uma expectativa muito alta em relação à inflação, o BC diz o seguinte: ‘eu não vou baixar os juros ou, até no limite, eu vou baixar os juros’ (…)”, disse Moreira.
Depois dessa denúncia, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), ingressou com uma representação para “identificar eventuais desvios de finalidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na definição da taxa Selic”.
Segundo o subprocurador Lucas Furtado, a apuração se daria por suposta “grande influência as projeções constantes do chamado ‘Boletim Focus’, elaborado a partir de pesquisas macroeconômicas realizadas por diversas instituições, tais como bancos, consultorias, corretoras”.
De acordo com Furtado, as instituições “podem ter interesse na manipulação do índice para ganhos próprios e privados indevidos e em prejuízo aos interesses públicos e ao erário”.
Redação ICL Economia
Com informações do G1
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