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Ata do Copom destaca cenário ‘mais adverso’ e admite estouro da meta da inflação em junho

"A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida", diz trecho da ata
04/02/2025 | 09h17

A pressão dos preços dos alimentos deve fazer com que ocorra estouro da meta de inflação em junho, o que vai forçar o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central a elevar a taxa básica de juros, a Selic, em mais 1 ponto percentual na reunião de março. Se confirmado o ajuste para cima, a taxa passará de 13,25% para 14,25% ao ano, mesmo patamar de 2016. É o que mostra a ata da última reunião do colegiado, divulgada nesta manhã de terça-feira (4).

Na reunião realizada nos dias 28 e 29 de janeiro, a Selic subiu 1 p.p., de 12,25% para 13,25% a.a. Foi a primeira reunião conduzida por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula (PT) à presidência do BC. A maior parte do colegiado também é formado por diretores indicados pelo petista.

Trecho da ata do Copom diz que “as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se de forma significativa em todos os prazos, indicando desancoragem adicional e tornando assim o cenário de inflação mais adverso. A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”.

A instituição também observou que os preços de alimentos se “elevaram de forma significativa”, em função, dentre outros fatores, da estiagem observada ao longo do ano e da elevação de preços de carnes, também afetada pelo ciclo do boi. E concluiu: “esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”.

O documento ainda diz que o movimento recente de alta do câmbio pressiona preços e margens, sugerindo maior aumento de bens industrializados nos próximos meses.

O tema fiscal também foi abordado pelo Copom na ata: “No período recente, a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos [juros futuros e dólar] e as expectativas dos agentes. O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.

O reajuste para cima da Selic na semana passada foi a quarta alta consecutiva da taxa. E a projeção do mercado é de que o Copom fará novos aumentos nos próximos meses, com taxa superando 15% ao ano em meados de 2025, maior nível em quase 20 anos.

Copom prevê estouro da meta de inflação em junho

A partir deste ano, houve mudança no regime de metas de inflação, que passou do ano-calendário para regime de meta contínua. Isso significa que, se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.

A mudança no sistema era defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por entender que o regime de metas contínuas de longo prazo, com calibragem mensal, é menos suscetível a volatilidades. Esse modelo é mais parecido com o dos Estados Unidos.

Para 2025, o CMN (Conselho Monetário Nacional) manteve o centro da meta de inflação a ser perseguida pelo Copom em 3%, podendo oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

O Copom avaliou que, em se concretizando as projeções do cenário de referência da instituição, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos.

“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, acrescentou o Copom na ata.

O documento do Copom destaca ainda que “o cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”.

Com isso, “o Copom então decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 13,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”.

Por fim, o colegiado diz que “diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, que será realizada em março.

“Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, aponta outro trecho.

 

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