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Economia

Entenda ameaça de Trump de sobretaxar Brics se bloco usar moeda alternativa ao dólar

Ideia de criar divisa para substituir dólar em negociações do bloco partiu do presidente Lula
02/12/2024 | 09h42

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou, no fim de semana, nova ofensiva ao Brics, bloco que originalmente reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O republicano ameaçou sobretaxar os países do grupo em 100% se for criada mesmo uma moeda alternativa ao dólar para as negociações, uma ideia do presidente Lula (PT).

“Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics, nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana”, escreveu Trump em sua rede social, Truth Social.

O recado acontece no momento em que o Brasil se prepara para assumir a presidência do bloco e quer colocar o debate da moeda como um dos pilares dos trabalhos em 2025.

A proposta do presidente brasileiro não é substituir as moedas nacionais, mas oferecer alternativas ao domínio do dólar nas transações internacionais, com o objetivo de diversificar as opções de comércio exterior, especialmente para os países do bloco Brics. Lula enfatizou a necessidade de implementar essa ideia com “cautela e solidez técnica”.

O Brasil já exporta mais para o Brics do que para Estados Unidos e União Europeia juntos, conforme dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). Os dados da pasta mostram que a balança comercial é favorável ao Brasil com os parceiros emergentes, enquanto para EUA e UE, o resultado é negativo.

Fundado há 15 anos, o Brics, além dos cinco países originalmente no bloco, teve a adesão de Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã em 2023.

Grande fatia das exportações para os países do bloco vão para a China. Em 2023, o volume de compras dos chineses de produtos brasileiros representava 84,5% do Brics.

Porta-voz do Kremlin diz que ameaça de Trump ao Brics pode ser um “tiro pela culatra”

Em resposta à ameaça de Trump, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta segunda-feira (2) que qualquer tentativa dos EUA de obrigar os países a usar o dólar será um “tiro pela culatra”.

Ele disse que o dólar está perdendo seu apelo como moeda de reserva para muitos países, e que a tendência estava ganhando ritmo.

Dois dos principais alvos de Trump estão no Brics: China e Rússia. A disputa é por hegemonia. Afinal, o bloco representa 46% da população mundial e o PIB (Produto Interno Bruto) combinado dos membros do grupo ultrapassa o das potências ocidentais, segundo as projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Economias do bloco incluem a China (2ª maior do mundo), Índia (7ª), Brasil (9ª) e Rússia (11ª).

Desde o Acordo de Bretton Woods, em 1944, o dólar tornou-se a moeda no comércio internacional. Sua aceitação universal e a ligação com instituições financeiras globais solidificaram sua posição como referência mundial.

Porém, a dependência das nações ao dólar gera vulnerabilidade às flutuações do dólar e à política monetária dos Estados Unidos, impactando economias emergentes.

Entre outros motivos para a substituição, estão os problemas geopolíticos, como a exclusão de bancos russos do sistema Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), após o país presidido por Vladimir Putin ter invadido a Ucrânia, há 2 anos e 11 meses. Essa foi uma das sanções sofridas pela Rússia desde então.

Ao ser excluída do sistema, a Rússia passou a reivindicar transações em outras moedas, que não o dólar, para não ficar muito dependente do sistema internacional e não ver suas transações diminuírem.

Na avaliação do economista Paulo Nogueira Batista Jr., em artigo publicado no Brasil de Fato, a atual ordem monetária e financeira internacional, dominada pelo dólar americano, demonstra-se “disfuncional e insegura”. “O sistema foi transformado em arma geopolítica para aplicação de sanções, punições e confiscos”, argumentou.

Segundo ele, o sistema de pagamentos Swift, controlado especialmente pelos Estados Unidos, é “sistematicamente usado como instrumento para punir e ameaçar países e entidades vistas como hostis ou pouco amigáveis”. “Bancos desses países são sumariamente excluídos do sistema, como aconteceu com a Rússia”, exemplificou.

 

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