Mesmo com a economia dando sinais de desaceleração, o mercado financeiro segue turbinando a projeção de inflação no Boletim Focus, relatório que reúne a mediana das projeções de mais de cem analistas semanalmente. Para a economista e apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna, a estratégia tem uma finalidade: forçar a taxa básica de juros, a Selic, em patamar alto. “O relatório Focus é conhecido como um garoto de recados do mercado”, disse em entrevista à edição de terça-feira (11) do videocast ICL Em Detalhes.
No Boletim Focus divulgado na segunda-feira (10), o mercado financeiro voltou a subir as projeções de inflação para este ano. A mediana das projeções passou de 5,65% para 5,68%. Foi a vigésima vez em cerca de cinco meses que o indicador é elevado, tendo apenas uma pausa no relatório divulgado na semana de Carnaval.
Assim, a projeção para a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) segue acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central, que é de 4,5% ao ano.
Para Deborah, os agentes do mercado financeiro sobem a projeção de inflação para sustentar a Selic em 15% [ao ano], que também está sendo projetada no relatório”.
“Antes, qual era a história que o mercado financeiro estava contando: ‘a nossa atividade econômica está muito aquecida, essa atividade econômica acima do que o Brasil poderia crescer estaria causando a inflação’. Então você aumenta a taxa de juros para desaquecer a economia e controlar essa inflação”, disse.
Mas, segundo a economista, o PIB (Produto Interno Bruto) de 2024, que avançou 3,4%, a maior taxa desde 2021, já mostrou desaceleração da economia no último trimestre do ano, efeito da sucessão de altas da taxa básica de juros.
“A divulgação do PIB mostrou que a nossa economia já está desacelerando. Não está sendo um pouso suave como se esperava – a economia está desacelerando bem rápido com essa alta da Selic. Mesmo assim, a Selic continua projetada em 15% no Focus (…) É uma forma de pressionar o governo”, pontuou.
Boletim Focus: diagnóstico errado e remédio errado
Manter a Selic alta, na avaliação de Deborah, é fruto de um “diagnóstico [do mercado] e remédio errados”.
“A gente tem que entender a composição de inflação aqui no Brasil. Hoje, a gente tem uma inflação muito voltada para alimentos e energia – energia quando a gente fala não é só energia elétrica, estamos falando de combustíveis e outras fontes energéticas. Isso vem pressionando a nossa inflação, mas principalmente alimentos. Parte disso respondendo a preço internacional de commodities e parte disso respondendo a fatores climáticos mesmo”, explicou.
A inflação de alimentos tem sido provocada principalmente por questões climáticas, o que tem penalizado o indicador desde o meio do ano passado.
Tanto que controlar a alta dos preços dos alimentos tem sido a tônica do governo do presidente Lula (PT) este ano. Na semana passada, foram anunciadas uma série de medidas para reduzir os preços, como zerar o imposto de importação de alguns produtos, como café, azeite e carnes.
Isso tudo faz com que o problema da inflação brasileira seja de oferta e não de demanda. A Selic, segundo ela, atua na inflação de demanda, pois a subida dos juros encarece a oferta de crédito e dificulta o consumo.
“Se fosse [inflação] de demanda excessiva, faria sentido talvez mexer nos juros, mas não é o nosso caso, que vem da oferta: ou uma oferta reprimida por uma questão climática, ou por um preço internacional de commodities que está subindo”, disse.
“Quando sobe os juros, você estrangula a economia urbana. Você acaba com serviços, indústria, com o comércio, e aí o que acontece? As pessoas vão ter menos demanda”, completou.
Assista à entrevista completa de Deborah Magagna ao videocast ICL Em Detalhes no vídeo abaixo:
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