O dólar teve uma queda expressiva nesta quarta-feira (22), de -1,40%, e fechou pela primeira vez abaixo dos R$ 6 desde dezembro. Esse movimento é explicado por três fatores, segundo a economista e apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna: um discurso mais moderado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a respeito das prometidas tarifas de produtos, principalmente os comprados da China; a entrada de recursos estrangeiros no Brasil em janeiro; e os leilões de compra de dólares realizados pelo Banco Central do Brasil para controlar a volatilidade da moeda.
Abaixo, Deborah explica ponto a ponto esses movimentos:
Trump mais moderado
Segundo a economista, não se pode atribuir a queda do dólar a um fator específico, mas o discurso mais moderado do presidente dos EUA, Donald Trump, empossado na segunda-feira (20), ajudou.
“O que se esperava da posse do Trump, dos decretos, era que ele fosse ter um posicionamento mais duro em relação às tarifas comerciais. Esperava-se que ele já ia chegar colocando tarifas altas na China, de pronto, que ele já ia subir as tarifas comerciais globais. Mas, na posse, ele só tangenciou a China. A expectativa com a China era de uma tarifa comercial de até 60% e que ela fosse ser colocada de uma vez e em outros países também, mas, conforme passou o dia 1 [da posse], as pessoas entenderam que não vai ser de uma vez essas medidas”, apontou a economista e também historiadora.
Proteção em dólar

A economista Deborah Magagna. Crédito: Reprodução ICL Mercado e Investimentos/YouTube
Um Trump menos agressivo do que se esperava, portanto, contribuiu bastante para o movimento que se viu com a moeda no mundo todo. “Os mercados se posicionam na expectativa, vendo esse cenário que estava se desenhando antes da posse, de tarifas mais agressivas, todo mundo foi se proteger em dólar. Isso fortalece o dólar frente aos pares [outras moedas], fortalece os pares frente aos [países] emergentes, porque sai dinheiro desses países para se proteger em dólar, porque todo mundo acredita que o dólar vai subir”, explicou.
Portanto, segundo Deborah, quando essas medidas fossem tomadas “as pessoas já queriam estar posicionadas para ganhar nessa alta, só que essas medidas não aconteceram”.
“Foi dito que vai ser gradual [as medidas]. A da China não era o que se esperava. Como esse protecionismo não veio tão forte, as pessoas já realizaram que elas já ganharam no dólar e tem um movimento de ajuste, o que faz o dólar cair”, apontou.
Bolsa de Valores do Brasil
Em 2024, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa brasileira, acumulou uma queda de 10% no ano, muito em função do turbilhão ocorrido no fim do ano, mais especificamente entre novembro e dezembro, além da expectativa do que Trump anunciaria e, principalmente, com o que acontecia no cenário interno
“O Brasil também estava sofrendo pelo lado doméstico, com o câmbio e nossos ativos também. Essa parte doméstica está muito em compasso de espera, mesmo porque a parte que estava pressionando o mercado doméstico era o fiscal, que não vai andar muito enquanto o Congresso estiver de recesso. Então, isso está muito em segundo plano neste momento. Essa pressão já não está mais atuando forte no câmbio nem na nossa Bolsa. Só que atuou muito forte no mês de dezembro”, disse Deborah.
Real vive momento de ajuste
“Nossa moeda se desvalorizou mais do que as outras, mais do que os outros pares emergentes. Por exemplo: o dólar estava mais valorizado aqui, então esse movimento de ajuste vai vir mais forte aqui. Nossos ativos domésticos, nossas ações da Bolsa, elas também caíram muito em novembro, dezembro. A gente chama esse movimento de ‘está descontada’, porque são vários fatores domésticos que estavam atuando para a nossa Bolsa cair, como uma descrença com o Brasil, um ceticismo em relação ao fiscal”, explicou a economista.
O discurso de Trump durante a campanha, de que ia pesar a mão sobre os emergentes, sobre a questão tarifária, contribuiu para o pessimismo por aqui.
“Ninguém quer muito se posicionar nesses ativos [emergentes] e por isso eles caíram bastante. São ativos que têm fundamentos bons, mas caíram de preço devido a todas essas pressões. Por isso a gente fala que os preços ‘estão descontados’. Se a gente tem um preço descontado, as pessoas começam a ver oportunidade de compra”, apontou.
Mais capital estrangeiro na Bolsa
Com os preços dos ativos em queda aqui, os estrangeiros acabam vendo oportunidades de investimentos em Bolsa. “Veio um fluxo estrangeiro também [para a Bolsa] para se favorecer desses preços baixos. Esse dinheiro entrou muito em janeiro. Até o dia 20 de janeiro, teve um fluxo bem positivo de entrada de recursos estrangeiros na nossa Bolsa, principalmente na terceira semana, porque tem um ajuste de expectativa em relação ao Trump, que estava pintando um cenário pior”, disse Deborah.
A mudança de postura do presidente dos EUA trouxe um “certo alívio” aos agentes, segundo a economista.
Os três pilares da queda do dólar
Além do discurso de Trump e da entrada de mais capital estrangeiro, o Banco Central realizou leilões de dólares para ajudar a controlar a volatilidade da moeda. Nesta semana, já sob a direção de Gabriel Galípolo, o BC realizou a venda de US$ 2 bilhões da divisa norte-americana.
“As três forças atuaram juntas e o dólar caiu ontem [quarta-feira, 22]. Houve um movimento interessante ontem, pois a Bolsa não ficou no positivo e o dólar caiu, o que não é o muito comum. Mas é porque o dólar já estava sofrendo esses ajustes ao longo do tempo e ontem ele veio com mais força por conta do discurso [de Trump] em relação à China [em vez das prometidas tarifas de 60%, Trump falou em taxação de 10%] na terça-feira à noite [21], e isso repercutiu na quarta [ontem]”, afirmou Deborah.
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