O economista e filósofo Eduardo Giannetti diz, em entrevista à edição desta segunda-feira (23) do jornal O Estado de S.Paulo, que há uma reação exagerada do mercado financeiro com os números da economia brasileira. “Claramente, há uma reação exagerada do mercado financeiro”, afirma. “Os indicadores fiscais brasileiros, embora preocupantes, não são calamitosos. Longe disso. Nós não estamos na beira de nenhum precipício fiscal.”
As falas do economista e filósofo estão no âmbito do nervosismo visto no mercado financeiro nos últimos dias, com disparada do dólar e queda na Bolsa. Na quinta-feira passada (19), a divisa norte-americana chegou a bater na casa dos R$ 6,30 e fez os juros futuros dispararam.
Somente depois de leilões de dólares do Banco Central, da aprovação do pacote fiscal pelo Congresso e de falas do presidente Lula (PT) de que não vai interferir na gestão de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central que a moeda norte-americana voltou a cair, embora ainda se mantenha acima dos R$ 6 nesta segunda-feira.
Na entrevista, Giannetti ainda criticou a alta da taxa básica de juros, a Selic, que subiu 1 ponto percentual na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, para 12,25% ao ano. O colegiado ainda prevê mais duas altas nesse patamar nas duas primeiras reuniões do ano que vem, o que colocaria a taxa em 14,25% ao ano.
Para Giannetti, o país enfrenta uma dominância do mercado financeiro “na formação das expectativas e no ambiente do debate público brasileiro”.
“O mercado financeiro é extremamente exigente quando se trata de pedir cortes de gasto primário, mas ele é completamente omisso quando se trata de trazer à tona o custo fiscal de um aumento extravagante de juros como esse que nós estamos vivendo no Brasil”, enfatiza.
Eduardo Giannetti vê “elemento especulativo” em exagero do mercado
Na contramão de alguns analistas e da grande mídia, Giannetti aponta um “elemento especulativo” no exagero do mercado. Isso porque, segundo ele, há “agentes poderosos do mercado financeiro”, que “adoram volatilidade, porque é dessa forma que ganham dinheiro”.
Ele também atribui esse movimento a outro motivo: “Eu acho que houve também um fato que o presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] apontou e é relevante: o movimento intenso de remessa de dividendos das empresas transnacionais que atuam no Brasil para suas matrizes. O que não deixa de representar um fato positivo, que é o fato de que elas tiveram bons resultados no Brasil este ano. Estão podendo mandar dinheiro para as matrizes. Isso também pressionou o câmbio”, diz.
Sobre a economia brasileira, ele aponta que os indicadores deste ano são positivos, com crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) da ordem de 3,5%, enquanto a previsão do mercado no início do ano era de 1%, 1,5%.
“Veja como o mercado financeiro erra para mais ou para menos nas suas projeções, nas suas expectativas. Criamos 3 milhões de empregos. Metade dos quais na economia formal. As nossas contas externas permanecem muito sólidas e equilibradas, tanto pelo resultado da balança comercial como pelo investimento direto estrangeiro. Não temos, portanto, nenhum tipo de vulnerabilidade externa. O que me causa uma certa estranheza é a dominância que o mercado financeiro exerce na formação das expectativas e no ambiente do debate público brasileiro, o que acaba exacerbando esses movimentos”, pontua.
Na avaliação dele, a deterioração das expectativas por aqui ocorre porque “o dólar se valorizou em todo mundo, especialmente nos mercados emergentes”. “Portanto, o ambiente externo não foi benéfico, embora, no ano passado, mesmo com os juros americanos mais altos, nós tenhamos assistido a uma apreciação do real, porque o governo foi bem ao apresentar o arcabouço fiscal e a proposta de reforma tributária. Mas o fato também é que a desvalorização do real este ano foi muito além do que aconteceu com as outras moedas relevantes do mundo emergente. Nós vivemos uma desvalorização do real que extrapolou muito o padrão do mundo. E aí nós temos que obrigatoriamente olhar para fatores domésticos, exacerbado nesse movimento”, diz.
Como fatores internos ele aponta “o desapontamento com a proposta de corte de gastos apresentada pelo governo”, e que a medida “é claramente insuficiente para endereçar a questão do cumprimento do arcabouço fiscal nos próximos anos”. “Ele [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] anunciou medidas muito pontuais, quase conjunturais. Não disse nada a respeito dos problemas de fundo do nosso desequilíbrio estrutural”.
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