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Sozinho, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula (PT) ao cargo, “não vai fazer a revolução”. Na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC conduzida por ele, o colegiado subiu a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, de 12,25% para 13,25%, conforme antecipado pela ata da reunião de dezembro do Copom e dentro do esperado pelo mercado. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (29).
“O Galípolo vai querer dar um choque de credibilidade atendendo ao mercado – não vamos nos enganar! E por que ele está fazendo isso? Primeiro, porque foi uma bomba deixada pelo Roberto Campos Neto. Segundo, porque este não é um governo revolucionário. Dentro da lógica do governo, ele fez o que tinha que ser feito”, analisou o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, na edição desta quinta-feira (30) do ICL Notícias 1ª edição.
Experiente, Galípolo está tendo uma postura cuidadosa, principalmente porque assumiu o BC em um momento de muito estresse do mercado financeiro. Em dezembro, a desconfiança da Faria Lima com o pacote fiscal do governo fez o dólar disparar, chegando a R$ 6,30. Em 2024, a moeda norte-americana se valorizou 27% frente ao real.
“Se o Galípolo dissesse ‘vou chutar o balde’ ontem, sabe como a gente ia acordar hoje? O dólar ia estar de volta nos R$ 6,20. Aí sabe o que ia acontecer? A gente queimou bilhões de reservas [em dólares para fazer leilão para conter a alta da moeda], a gente fez todo um esforço de corte fiscal. Voltaríamos para a casa zero do jogo”, explicou Edu.
Galípolo e o governo federal
Outro aspecto abordado por Moreira é que Galípolo, embora o BC seja independente, é alinhado ao governo, pois foi indicado por Lula. Assim como Campos Neto é claramente alinhado ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Ele [Galípolo] não ia fazer essa revolução que a gente quer, porque o governo não vai fazer essa revolução. O governo está com uma aliança de partidos que está até votando para ter impeachment do governo. É esse governo que vai fazer a revolução? Você tem que entrar fazendo o que precisa ser feito, porque ninguém faz impeachment de governo no primeiro mês. Esse governo não quer fazer, nunca quis, porque esse é um governo de conciliação”, disse o fundador do ICL.
Portanto, “dentro da lógica do governo, Galípolo fez o que precisava ser feito”, segundo Edu Moreira. “Ele [o presidente do BC] não ia ganhar nada com isso [se não tivesse subido os juros], porque não ia começar a revolução. Teria um prejuízo gigante para aquilo que o governo tentou fazer ao longo dos últimos meses e ele não ia conseguir manter essa queda de juros porque as coisas sairiam do controle”, completou.
Previsibilidade ao mercado
Com a alta da Selic de ontem e uma possível alta de 1 ponto percentual na taxa básica de juros na reunião de março, que também está prevista na ata da última reunião e no comunicado divulgado ontem com a decisão do Copom, Galípolo quer dar previsibilidade ao mercado.
“O que ele está tentando fazer é dizer: ‘olha só, é isso mesmo, eu vou seguir com aquilo que foi combinado. Vocês [mercado] podem esperar de mim previsibilidade’. Essa é a grande mensagem de ontem”, disse Edu.
Trump e o Fed
O fundador do ICL lembrou ainda que a decisão do Copom veio no mesmo dia em que o Fed (Federal Reserve, o banco central estadunidense] anunciou manutenção das taxas de juros por lá na banda entre 4,25% a 4,50% ao ano.
“A verdade é que tem um fator adicional agora que é a questão dos EUA, porque juros do Brasil não é só os juros do Brasil, é sempre em relação aos juros dos EUA, que são o benchmark [padrão de referência do mercado] do mundo. A partir dali que a gente compara as outras taxas de juros e ontem parou de cair juros nos Estados Unidos. O BC de lá justificou o seguinte: entrou um governo novo, esse governo está fazendo várias medidas que a gente quer ver o impacto delas. A inflação caiu, mas ela ainda está resiliente, ela não está conseguindo cair mais do nível que ela tinha caído, e essas medidas do Trump [Donald Trump, presidente que tomou posse em 20 de janeiro] podem ter impacto inflacionário”, explicou Edu.
De acordo com o economista, a política anti-imigração de Trump pode elevar o custo da mão de obra nos EUA e sua anunciada política tarifária contra países pode elevar os preços dos produtos nos Estados Unidos, impactando a inflação. “Se isso acontecer, ele [o Fed] não vai poder continuar reduzindo os juros”, disse.
Armadilhas para Galípolo
Na avaliação de Moreira, o Brasil vai sangrar por alguns meses e só daqui a seis meses será possível avaliar os efeitos da política monetária e a gestão de Galípolo.
“Passado esse começo em que a armadilha foi deixada pelo Roberto Campos Neto, qual vai ser o comportamento desse Banco Central? Ele vai entrar em conflito com o governo ou ele vai adotar outra postura que a gente chama de dovish [conduta voltada ao estímulo econômico, de redução ou manutenção dos juros em patamares baixos]? Isso só daqui a seis meses que a gente vai saber – não vai ser nem agora, nem na próxima reunião do Copom [em março]”, disse.
Governo de conciliação
Por essas razões, Edu Moreira acredita que não dá para esperar de Galípolo um papel disruptivo, até porque o próprio governo não é assim.
“Não adianta a gente querer que o Banco Central, que o Galípolo, que o [Fernando] Haddad no Ministério da Fazenda façam o que a gente gostaria de fazer se o mandato dessas pessoas não é quebrar com a lógica desse sistema. O mandato dessas pessoas é: vamos fazer o Brasil ter um crescimento justo no PIB [Produto Interno Bruto], dar um ganho real no salário mínimo – que é R$ 10, uma coxinha por mês. Claro, tudo isso é importante, o programa de refinanciamento da dívida do estudante, o pé de meia, tudo isso é legal, mas não é quebra de sistema”, pontuou Edu.
Assista ao comentário completo dele no vídeo abaixo:
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