Pela primeira vez em duas décadas, o euro atingiu, nesta terça-feira (12), a paridade com dólar. O acontecimento foi ocasionado pela ameaça de corte de fornecimento do gás russo para a União Europeia no contexto do conflito entre Rússia e Ucrânia. O dólar valorizou 14% desde o início do ano e chegou a ser negociado a US$ 1 por euro às 9h50 GMT (6h50 de Brasília), a maior cotação diante da divisa europeia desde dezembro de 2002.
A desvalorização da moeda europeia frente à norte-americana vem sendo acentuada por conta de preocupações de que uma crise de energia poderá levar a Europa à recessão. O mercado teme um agravamento da crise energética na região devido à interrupção do fluxo de gás russo que chega pelo gasoduto Nord Stream 1, atualmente em manutenção.
O gás procedente da Rússia está no centro da tempestade na Europa e o anúncio de sábado (9), de que o Canadá devolverá turbinas à Alemanha para aliviar a crise energética com a Rússia, “não teve um impacto positivo”, disse o analista Jeffrey Halley, da empresa Oanda.
O grupo russo Gazprom iniciou os trabalhos de manutenção na segunda-feira (11) no gasoduto Nord Stream 1, que transporta gás diretamente da Rússia para a Alemanha. Os países europeus estão na expectativa para saber se Moscou vai restabelecer o fornecimento após as obras, previstas para durar dez dias. A dúvida é saber se o gás voltará depois de 21 de julho.
Por sua vez, a moeda dos EUA está sendo valorizada com as expectativas de que o Federal Reserve (Banco Central do EUA) continuará a aumentar agressivamente as taxas à medida que enfrenta a inflação crescente. Inclusive, nesta terça-feira o mercado vive forte expectativa com o anúncio da inflação de junho dos EUA, amanhã (13). A próxima reunião do Fed para definir os juros será nos dias 26 e 27 de julho.
Paridade com o dólar é resultado de sanções da Europa
Na opinião do economista do ICL, André Campedelli, a paridade do dólar com o euro também é resultado das sanções que a própria Europa está realizando contra a Rússia, por ter entrado em guerra contra a Ucrânia, o que encareceu o custo de vida dos europeus. “É preciso lembrar que a moeda internacional serve para compras de bens entre países. E, hoje, a Europa realiza a compra de gás e de petróleo com o rublo da Rússia (por força das sanções). Isso já é causa da desvalorização (do euro). Além disso, aumenta a inflação do euro. Nesse cenário de crise, todos procuram proteção no dólar. Há a fuga de capital para os EUA”, explica Campedelli.
Um cenário de recessão pode dificultar os planos do Banco Central Europeu (BCE), caso a instituição queira pôr fim à política de juros baixos e passar a subir a taxa para combater a inflação que agrava a situação econômica da região.
Ao mesmo tempo, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tem mais margem de manobra para continuar elevando as taxas, já que os números de emprego divulgados na sexta-feira (8) provaram que a economia dos Estados Unidos apresenta maior resiliência no momento.
Na opinião de alguns economistas, caso a inflação nos Estados Unidos seja maior do que a esperada pelo mercado, isso pode beneficiar o dólar, já que os investidores apostam que o Fed terá que seguir ainda mais rápido para aumentar as taxas.
Na Europa, os altos preços de importação, especialmente de energia, também estão impulsionando a inflação. E isso não é bom para o BCE, afinal, ele quer contrabalançar a inflação com aumentos planejados das taxas de juros.
Se o BCE realmente fizer o primeiro aumento da taxa de juros em julho e outros aumentos se seguirem, talvez até elevando as taxas de juros um pouco mais do que se pensava, a moeda comum europeia poderia voltar a ser cotada a US$ 1,10 ou até mais, segundo analistas.
Uma moeda fraca pode ter suas vantagens, pois ajuda as empresas exportadoras, pois os produtos domésticos ficam mais baratos no exterior, o que impulsiona as vendas. Contudo, a vantagem para as empresas exportadoras locais só existe enquanto os empresários alemães fabricarem seus produtos inteiramente na Alemanha ou na zona do euro e depois os exportarem.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do economista do ICL, André Campedelli
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