As relações tensas entre o governo Lula e a direção do Banco Central devem ter a temperatura elevada após a decisão do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, de tentar impedir o acesso da imprensa a Gabriel Galípolo, ex-número 2 do Ministério da Fazenda, e que foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Diretoria de Política Monetária do BC.
De acordo com informações da coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, coincidentemente após a posse de Galípolo no cargo, agora em julho, voltou a circular no banco um documento interno sugerindo que “assuntos afeitos à comunicação com os órgãos de imprensa fiquem subordinados diretamente ao presidente do BC”. O documento, segundo a coluna, tem gerado discussões acaloradas na instituição.
O presidente Lula e membros de seu governo têm sido muito críticos à condução da política monetária pelo Banco Central, por manter a taxa básica de juros (Selic) no patamar de 13,75% ao ano, o maior desde novembro de 2016, a despeito dos bons indicadores econômicos.
E a posição de Galípolo, alinhada com a do governo, é clara: ele acha que já passou da hora de o BC baixar os juros e que a manutenção das taxas em níveis elevados poderá comprometer o crescimento do país de forma fatal.
Por essa razão, o acesso dele à imprensa poderia expor o racha que existe hoje na instituição, o que estaria pressionando e incomodando Campos Neto, segundo a coluna.
Em resposta, Campos Neto estaria tentando aplicar uma espécie de “lei da mordaça” em seus diretores.
Campos Neto não teria direito de vetar entrevistas de Gabriel Galípolo e demais diretores
O comunicado tem gerado discussões acaloradas dentro do BC, uma vez que os diretores da autarquia têm mandato, independência e autonomia garantidos por lei, o que os deixaria livres para falar com jornalistas. Portanto, Campos Neto não poderia vetar as conversas, já que não é o chefe dos diretores.
Ainda de acordo com a colunista, a única regra a ser seguida por eles é a que proíbe os diretores de se manifestarem na semana que antecede a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que define as taxas de juros, e também na posterior. Os encontros acontecem a cada 45 dias. Eles também não podem tecer considerações sobre as taxas de juros.
Em sua sabatina no Senado, que o aprovou à vaga, Galípolo, sem mencionar diretamente a taxa de juros, chegou a dizer que “não cabe a nenhum economista, por mais excelência que tenha, impor o que ele entende ser o destino econômico do país à revelia da vontade democrática”.
Segundo a coluna da Folha, diretores alinhados com Campos Neto reclamaram das falas: vindo de um integrante do próprio BC, elas deixariam o presidente da instituição ainda mais exposto às pressões de Lula e de senadores descontentes com as altas taxas de juros no país.
Ainda assim, a iniciativa do presidente do BC está sendo vista por integrantes do banco e do governo Lula como tentativa de censura ao novo diretor de política monetária, e foi apelidada de “voto Galípolo”.
Em resposta à coluna, a autarquia disse: “O Banco Central (BC) vem a público trazer os seguintes esclarecimentos para estabelecer que não existe e jamais existirá censura ou cerceamento de qualquer espécie à livre manifestação dos dirigentes do BC. Pelo contrário, os dirigentes do BC têm sido incentivados a se manifestar mais em público, o que pode se notar pela maior frequência de entrevistas e de outras manifestações públicas, incluindo a recém-lançada live semanal do BC no YouTube”.
Procurado, Gabriel Galípolo não se manifestou sobre o assunto.
Redação ICL Economia
Com informações da coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo
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