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Haddad cita ‘surpresa’ com alta da Selic; Brasil volta a ter o 2º maior juro real do mundo

Com a decisão anunciada ontem (11) pelo Copom, os juros reais do país ficaram em 9,48%
12/12/2024 | 09h02

Depois da dose agressiva de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, anunciada ontem (11) pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, o Brasil voltou a ocupar o segundo lugar no ranking do maior juro real (descontada a inflação) do mundo. Com a decisão, a Selic subiu de 11,25% para 12,25% ao ano. Após o anúncio da decisão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, citou “surpresa” com a magnitude do ajuste.

Além disso, no comunicado divulgado com a decisão, o Copom sinaliza mais duas altas da mesma magnitude nas próximas reuniões.

“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, diz trecho do comunicado.

O juro real é formado, entre outros pontos, pela taxa de juros nominal do país – no caso do Brasil, a Selic – subtraída a inflação prevista para os próximos 12 meses.

Segundo levantamento do site MoneYou, os juros reais do país ficaram em 9,48% com o aumento de ontem. O líder do ranking é a Turquia, com taxa real de 13,33%.

Depois do Brasil, estão Rússia (8,91%), Colômbia (6,46%), México (5,75%), África do Sul (4,48%), Indonésia (4,19%), Filipinas (2,92%), Índia (2,43%) e Hong Kong (2,13%) (veja a lista completa clicando aqui)

Na última divulgação, em novembro, o Brasil ocupava a terceira posição da lista. Fatores como o risco fiscal, o câmbio, a inflação e os receios em relação ao pacote de corte de gastos do governo pressionaram o fechamento da taxa real de juros, segundo o MoneYou.

Nesta edição do ranking, destaque também para a Argentina, que saltou da última para a 28ª colocação e retornou aos juros reais positivos após “muitos anos”. O movimento é resultado das quedas na taxa de juros e na inflação do país. Agora, a lanterna do ranking ficou com a Holanda.

Em relação aos juros nominais (sem descontar a inflação), o Brasil ocupa a quarta colocação. A Turquia também ocupa a primeira colocação, com taxa de 50%; a Argentina, 32%; Rússia, 21%; Brasil, 12,25%; México, 10,25%; Colômbia, 9,75%; África do Sul, 7,75%; Hungria, 6,50%; Índia, 6,50%; e Filipinas, 6%.

Haddad cita “surpresa”, mas diz que alta da Selic já estava “precificada”

Ao ser abordado por jornalistas na saída do Ministério da Fazenda ontem, logo após o anúncio da decisão do Copom, Haddad disse que a alta dos juros gerou “surpresa”, apesar de já estar precificada. “Foi uma surpresa por um lado, mas por outro já tinha uma precificação nesse sentido”, disse.

Questionado se o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo pesou na decisão dos diretores do BC, ele afirmou que os cálculos dos bancos com relação ao impacto esperado estão se aproximando aos do governo.

“Hoje saiu um relatório de um grande banco aproximando os cálculos dos nossos. E ainda com vários pontos pendentes, que não foram considerados. Se tivessem sido considerados, já chegariam mais perto de R$ 65 bilhões nos dois anos”, frisou.

“Mandamos um ajuste que consideramos adequado e viável politicamente. Você pode mandar o dobro para lá [Congresso)], mas o que vai sair é o que importa”, completou o ministro.

A alta de 1 ponto na Selic foi o choque mais intenso desde fevereiro de 2022, quando os juros subiram 1,5 ponto. A taxa também voltou ao patamar no qual estava em novembro de 2023.

O ajuste para cima foi maior que o previsto pela mediana dos analistas consultados para o Boletim Focus, do Banco Central, que previa o fechamento da Selic em 12% este ano, o que corresponderia a uma alta de 0,75 ponto percentual na taxa.

Foi a terceira vez seguida que o colegiado acelera o ritmo de aperto dos juros. O atual ciclo de alta foi deflagrado pelo BC em setembro, com alta de 0,25 ponto, elevando a taxa a 10,75%. Em novembro, o ritmo escalou para avanço de 0,5 ponto, trazendo a taxa básica ao atual patamar de 11,25%.

Setor industrial critica

Em um momento em que o setor industrial voltou a recuar, após dois meses de alta, a elevação da Selic foi criticada por representantes desse segmento econômico.

Em nota divulgada pela CNN, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) classificou a elevação dos juros como “incompreensível e totalmente injustificada”, uma vez que significará menos investimentos e, consequentemente, menos emprego e renda.

A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) pontuou que o aumento é excessivo e que representa mais um obstáculo para a atividade da indústria nacional.

Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, a decisão do Copom intensifica uma postura contracionista da política monetária na contramão da política fiscal.

“É uma situação de causa e consequência, se os juros sobem, a economia inteira entra em retração. As pessoas e as empresas veem o crédito sumir e quem ganha? Aquele que especula de olho no retorno no curto prazo, não quem produz e aposta no país”, disse em nota.

 

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