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Haddad diz que juros altos não resolvem problemas e vê exagero em críticas

Ministro da Fazenda disse que críticas mais contundentes partiram de gestores de fundos de patrimônio de pessoas mais ricas
05/12/2024 | 08h32

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, observou ontem à noite (4) que subir a taxa básica de juros, a Selic, não resolverá o problema da dívida pública e da inflação no Brasil. “Temos que atuar no monetário e no fiscal para ancorar isso e não chegar em patamar de juros que vai prejudicar mais do que ajudar”, disse o ministro durante fórum promovido pelo portal Jota, em Brasília.

Segundo o ministro, o governo Lula (PT) está tomando todas as medidas para garantir que o crescimento da economia brasileira “seja sustentável”. “A trajetória que alcançamos não é trivial. Ela depende de ajustes que permitam estabilidade no longo prazo e segurança para os investimentos”, pontuou.

“O aumento do investimento foi de 11%, e o consumo cresceu 5%. O que vai melhorar a inflação também é o empresário não deixar de investir, porque aí tem problema de oferta”, continuou.

Atualmente, a taxa básica de juros está em 11,25% ao ano. Na próxima semana, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central realiza a última reunião do ano e deve elevar o indicador em 50 pontos-base.

Na última terça-feira (3), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto) do país cresceu 0,9% na passagem do segundo trimestre para o terceiro, puxado pelos setores de serviços (0,9%) e indústria (0,6%), ainda que a agropecuária tenha recuado 0,9% no período. No acumulado do ano (janeiro a setembro), a economia brasileira acumula alta de 3,3%, enquanto nos últimos quatro trimestres, a alta foi de 3,1%.

De acordo com Haddad, as políticas monetária e fiscal precisam andar juntas. “Não adianta só trabalhar em cima de juros, temos que trabalhar esse lado das medidas que foram mandadas e podem ser complementadas e aperfeiçoadas ao longo dos meses”, apontou o ministro, em referência ao pacote de corte de gastos encaminhado ao Congresso.

Ele destacou que as medidas de reforço das regras fiscais e equilíbrio das contas públicas aliam ajustes econômicos com justiça social e foram pensadas para não comprometer a trajetória virtuosa de crescimento econômico do país.

“Deu muito trabalho conversar com cada ministro, mexer no indexador do salário mínimo, no abono, no BPC [Benefício de Prestação Continuada], no Bolsa Família. Tudo isso foi feito no sentido de buscar justiça, e não de prejudicar os pobres, sabendo que é necessário fazer uma contenção de gastos para não comprometer a trajetória virtuosa que estamos vivendo”, afirmou.

O governo, segundo ele, enviou para o parlamento “o que estava maduro”. “Continuamos debruçados no problema fiscal. Daqui a pouco, novas medidas amadurecem, chega-se a um consenso em torno delas”, acrescentou.

“Se entendermos que essas não são suficientes, vamos voltar para a planilha para buscar novas soluções, mas acredito que o que foi endereçado atende o que a área econômica pretende de resultados fiscais nos próximos anos”, acrescentou.

Haddad ainda indicou 2025 como um ano estratégico para avançar em pautas estruturais, como o combate à desigualdade social.

Haddad critica reação exagerada do mercado financeiro

Sobre a recente disparada do dólar e dos juros futuros, e a queda na Bolsa brasileira depois que as medidas foram anunciadas, Haddad vê uma reação exagerada do mercado.

Segundo ele, há divergência no próprio mercado sobre essa reação. Por exemplo, bancos focados na intermediação financeira não reagiram de forma ruim. Os que reagiram de modo mais contundente foram gestores de fundos de patrimônio de pessoas mais ricas.

Isso porque o governo, conforme disse o mandatário da Fazenda, tenta criar um Estado que não seja “capturado por classes dominantes”. O ministro afirmou que esses grupos têm capacidade de pressão política e obtêm benefícios que prejudicam o restante da sociedade.

Para exemplificar, ele usou o pagamento de impostos. “Nós sabemos que existem cidadãos que, por uma série de artifícios de planejamento tributário, conseguem ter alta renda sem pagar IR [Imposto de Renda]. E cidadãos que estão na CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] não conseguem sair das malhas do Fisco”, pontuou.

Com o pacote do corte de gastos, o ministro anunciou um projeto que dará isenção de IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5 mil, promessa de campanha do presidente Lula, e cobrará mais de quem recebe mais de R$ 50 mil por mês ou R$ 600 mil anuais.

A medida foi chamada de populista, o que Haddad refuta. Ele argumenta que haverá justiça social e ressalta que a medida não representa aumento de arrecadação.

Ele ainda atribuiu a grupos de interessa a demora de 40 anos na reforma tributária, afirmando que a capacidade de pressionar integrantes do Executivo, Legislativo e Judiciário rende benefícios setoriais e engessam o avanço nacional.

Por fim, o ministro disse que muitos bancos têm dito que o corte de gastos está sendo subestimado. “Não me parece que as medidas de contenção de gastos são irrelevantes como alguns querem fazer parecer ser”, afirmou.

 

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