Aos poucos, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começa a cumprir as medidas prometidas durante a sua campanha, como de sobretaxar produtos importados de países como México, Canadá e China, inaugurando uma guerra comercial com esses países, que já confirmaram retaliações.
Por ora, nada foi confirmado contra o Brasil, embora o republicano já tenha ameaçado sobretaxar o Brics, grupo originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, caso o bloco prossiga com a ideia de criar uma moeda alternativa ao dólar nas transações comerciais. Essa proposta é particularmente defendida por Brasil e China.
Mas, embora o Brasil ainda não esteja na primeira lista de países atingidos pelas medidas, o tarifaço promovido por Trump pode ganhar escala global, afetando as cadeias de suprimentos e atingindo o Brasil mais adiante.
Além disso, especialistas afirmam que o Brasil não está na mira de Trump porque os Estados Unidos não têm déficit comercial na relação com o país. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China.
Em 2024, os Estados tiveram superávit e o Brasil teve déficit de US$ 253 milhões na balança comercial entre os dois países, o que faria com que não fosse tratado como prioridade por Trump. Contudo, em um mundo globalizado, o tarifaço de Trump, a depender da escalada, pode, sim, afetar o país.
No sábado (1º), Trump anunciou a imposição de tarifas, ou seja, impostos de 25% sobre bens importados do México e do Canadá. A exceção é para o petróleo canadense, que terá sobretaxa de 10%. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, reagiu à medida, anunciando tarifas de 25% sobre produtos importados dos EUA.
Por sua vez, a presidenta do México, Claudia Sheinbaum, disse em um post em uma rede social que vai implementar um plano B, que abrange medidas tarifárias e não tarifárias, sem dar detalhes. O governo de Xi Jinping, na China, afirmou que adotará contramedidas correspondentes e que pode levar o caso ao âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Os três países são os maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Segundo a Casa Branca, as medidas passam a valer a partir desta terça-feira (4). Porém, Trump deve conversar com esses países ainda nesta segunda-feira (3).
A União Europeia deve ser o próximo alvo de Trump. O bloco antecipou que, se isso acontecer, responderá “com firmeza”.
Tarifaço de Trump já preocupa empresas
O setor de energia norte-americano já vê com preocupação a tarifa de 10% sobre o petróleo canadense. Isso porque as refinarias norte-americanas processam grande volume de óleo canadense e a tarifa mais alta pode se refletir no preço da gasolina, com impactos inflacionários, o que pode retardar ainda mais a queda da taxa de juros nos Estados Unidos.
O Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) manteve a taxa de juros referencial inalterada devido às incertezas sobre o futuro da economia.
No caso da China, Trump anunciou sobretaxa de 10%. Uma das cláusulas previstas na ordem executiva anunciada pelo republicano prevê que as tarifas podem subir ainda mais em caso de retaliação.
No domingo (2), Trump já afirmou que o déficit comercial com a União Europeia soma US$ 350 bilhões e que pretende anunciar algo em breve.
Dentro do seu lema “América primeiro (America First)”, Trump vende a ideia de que sobretaxar produtos importados fortalece a economia doméstica. No entanto, muito do que é consumido nos Estados Unidos não é produzido dentro do país. Isso significa que, ao sobretaxar esses produtos, Trump os torna mais caros ao consumidor final, desestimulando, portanto, o consumo desses itens.
Medo como arma política e econômica
As três ordens executivas assinadas por Trump no sábado são baseadas em uma lei de 1977, a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacionais. A legislação permite que um presidente congele e bloqueie transações em resposta a uma ameaça incomum e extraordinária contra os Estados Unidos.
O argumento do republicano é que as tarifas são consequência da imigração ilegal e do contrabando de drogas. Sobre o México, afirmou que os traficantes de drogas e o governo têm “uma aliança intolerável” que coloca em risco a segurança nacional americana.
Ele ainda afirmou que os cartéis mexicanos estão operando no Canadá e que a quantidade do anestésico fentanil interceptada seria suficiente para matar 9,5 milhões de americanos. A ordem executiva sobre a China diz que o país representa refúgio seguro para organizações criminosas lavarem a receita da produção, envio e venda de opioides sintéticos.
Na avaliação de especialistas, o tarifaço promovido por Trump pode levar a um ciclo negativo de aumento de custos, os quais, por sua vez, geram redução na demanda por produtos, o que pode acabar freando a economia. As consequências esperadas são aumento da inflação e do desemprego.
Indústrias mais afetadas
O tarifaço de Trump afeta, principalmente, as cadeias de insumos e comércio transfronteiriço. O setor automotivo deve ser fortemente afetado.
Estimativas publicadas pelo jornal O Globo apontam que 16% do valor de um automóvel fabricado nos EUA são resultado de trabalho executado no México e no Canadá. Outros segmentos afetados são a produção de alimentos e a construção.