Não é só nos Estados Unidos que os preços dos ovos dispararam. No Brasil, esse movimento também tem acontecido. Informações de entidades do setor mostram que o valor do alimento disparou entre 30% e 40%, no atacado e no varejo, do começo do ano para cá.
Nos Estados Unidos, a disparada dos preços dos ovos aconteceu devido a um surto de gripe aviária, que reduziu a oferta do produto. No Brasil, há pelo menos dois fatores que afetam o preço: maior demanda devido à Quaresma (período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, quando o consumo de carne diminui) e ao estresse das galinhas provocado pelo calor extremo que temos visto no Brasil, que reduziu a produção.
Dados do Cepea/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo) mostram que, até 14 de fevereiro, o preço médio da caixa com 30 dúzias de ovos extra branco em Bastos, um dos principais polos produtores de São Paulo, chegou a R$ 194,16 no atacado, registrando alta de 36,5% em relação a janeiro e de 17,4% na comparação com o mesmo período de 2024.
Segundo entidades do setor, os ovos costumam ficar mais caros em momentos de aumento nos preços das carnes, quando os consumidores optam por uma proteína mais barata.
Mas associações que acompanham o mercado explicam que o movimento é sazonal. A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), por exemplo, diz que os preços dos ovos devem continuar pressionados nos próximos meses e só devem voltar ao padrão após o fim da Quaresma, que, neste ano, deve ocorrer em 17 de abril.
Além da Quaresma, o calorão afetou a produção. Janeiro foi o mês mais quente da história no Brasil, e o aumento de temperatura para além de 28 graus Celsius estressa as galinhas, que botam menos ovos.
As regiões que mais produzem ovos estão no interior do estado de São Paulo, onde a temperatura ultrapassou 30ºC.
Inflação dos preços de aves e ovos subiu 1,69% em janeiro
A inflação dos preços de aves e ovos subiu 1,69% em janeiro, conforme dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). No acumulado de 12 meses, a alta foi de 7,84%.
No atacado, a alta foi de 40% na semana passada, segundo dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
A Abras destacou também que o aumento dos preços dos ovos também pode estar atrelado à substituição da carne pelo produto.
O preço das carnes foi um dos “vilões” da inflação de alimentos no ano passado, com avanço acumulado de 20,84%, segundo dados do IPCA de 2024.
A alta se manteve em janeiro. A inflação do grupo de carnes encerrou o mês com avanço de 0,36%, e de 21,17% no acumulado de 12 meses.
Custos de produção e exportações
A ABPA ressaltou para o aumento do custo de produção dos ovos nos últimos oito meses como fator do encarecimento do produto.
Segundo a entidade, o preço do milho, usado na alimentação animal, subiu 30%, enquanto gastos de insumos de embalagens mais que dobraram.
Um fator que vem sendo apontado são as exportações. Porém, a associação acrescentou que as vendas externas de ovos, especialmente devido à crise de gripe aviária que atinge os EUA, têm efeito praticamente nulo sobre na oferta interna.
Segundo a ABPA, as exportações de ovos representam menos de 1% das 59 bilhões de unidades que deverão ser produzidas este ano, o que deve gerar um consumo per capita de 272 unidades anuais.
Em dezembro, as exportações brasileiras de ovos, tanto in natura quanto processados, somaram 2.054 toneladas em dezembro, um crescimento de 116,8% em relação ao mesmo mês de 2023.
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