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Cresce cada vez mais o número de investidores que acionam corretoras e escritórios por investimentos “furados”. Entre os principais alvos está o COE (Certificado de Operações Estruturadas), que combina renda fixa e ativos mais arriscados, como commodities, moedas e bolsas estrangeiras.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, os processos são movidos por clientes que teriam sido orientados a fazer operações financeiras que acabaram em prejuízo, sem que os riscos da estratégia fossem devidamente explicados.

Esse tema não é novo. O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, comentou um processo movido contra a XP Investimentos, pela mesma razão e investimento.

“Os principais relatos dizem respeito aos COEs. Eu, sozinho, há 5 anos, digo: ‘o investimento da moda no Brasil é um desastre em potencial: porque os COEs podem ser o pior investimento que você tem para fazer com seu dinheiro’””, disse Edu na ocasião.

Segundo Moreira, as instituições financeiras ganham bilhões lucrando com o “prejuízo das pessoas”. “Não é plantando alface, tomate, milho, soja – não é produzindo nada”, disse.

A exemplo da história da XP, ex-funcionários de corretoras relataram à Folha que sofriam pressão e ameaças para bater metas de venda de COE, que rende uma das comissões mais vantajosas para o assessor e para a empresa.

Ou seja, eles eram pressionados a “empurrar” o investimento aos clientes sem, obviamente, falar dos riscos.

A reportagem procurou nove assessores que trabalham ou tiveram passagem por diferentes instituições do mercado financeiro, como XP Investimentos, Bradesco, BTG e Safra. Desses, quatro aceitaram falar sob condição de anonimato.

Os que aceitaram trabalharam na XP ou em escritórios da rede. Alguns, contudo, tiveram experiência semelhante em outras instituições do setor.

Assessores dizem que XP é a empresa que mais pressiona por venda de produtos como o COE a investidores

Os quatro assessores ouvidos pela Folha disseram que a cobrança por metas é mais forte na XP pelo fato de a empresa ser a maior do Brasil no ramo e de ter uma cultura mais agressiva.

Um dos entrevistados pela Folha, ex-funcionário da XP, disse que sofria pressão para vender COE e bater as metas de vendas. Segundo ele, todas as instituições do setor têm suas cobranças e procedimentos, o problema é que o grupo XP começou a querer empurrar produtos para os clientes e fazer disso uma obrigação.

Conforme o relato desse ex-funcionário, a XP fica com algo entre 3% e 5% do valor alocado pelo investidor no COE, enquanto o assessor recebe uma fração disso. Produtos mais comuns, como CDB (Certificado de Depósito Bancário), pagam menos de 1%.

Os processos, petições iniciais e reclamações feitas à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por clientes que tiveram prejuízo com COE mostram que as operações foram feitas dentro de um “combo” que envolvia um empréstimo.

A estratégia era a seguinte: o investidor era incentivado a fazer um empréstimo para alavancar o investimento ou permitir que tivesse liquidez (dinheiro disponível). A lógica era que os rendimentos pagariam com sobra os juros do empréstimo.

O assessor compartilhou com a Folha capturas de tela de grupos de WhatsApp da XP. Uma das mensagens mostra uma campanha de vendas de COE. Em outra, funcionários escreviam quanto tinham captado em produtos, recebendo elogios dos chefes.

Em agosto passado, veio a público o caso envolvendo o empresário Marco Antonio Puerta, que recorreu à Justiça contra a XP Investimentos, pedindo que a corretora lhe devolva os valores perdidos numa transação de R$ 15 milhões. Ele é pai de um ex-funcionário da corretora, que teria mediado a operação com o empresário após ser pressionado pelo chefe.

Em nota à reportagem, a XP afirma que desenvolveu rigorosos processos para selecionar e formar os melhores assessores de investimento.

“A instituição atua em conformidade com a regulamentação do mercado financeiro, assegurando que as operações estejam alinhadas ao perfil de risco do cliente, previamente definido pelo questionário de Suitability [verificação da adequação do produto ao cliente]. Nenhuma transação é concluída sem o consentimento expresso do cliente, formalizado por meio de assinatura eletrônica. Em casos de eventuais discrepâncias, são adotadas medidas rápidas de diligência”, afirmou a empresa.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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