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Bem preparado na entrevista ao JN, Lula fala sobre corrupção, exalta feitos na economia e promete ajudar mulheres endividadas

"Meus economistas diziam que o Brasil estava quebrado. Peguei o país com mais de 10% de inflação, desemprego de 12%, devendo ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Reduzimos a inflação para a meta durante todo o meu período, a dívida pública caiu de mais de 60% para 39% do PIB, tínhamos reserva e ainda emprestamos para o FMI."
26/08/2022 | 13h01

O candidato do PT à Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, concedeu, na noite de ontem (25), aquela que vem sendo considerada por jornalistas e até mesmo por críticos de seu governo uma das melhores entrevistas de sua vida. Na bancada do Jornal Nacional, Lula demonstrou excelente preparo para responder temas sobre os quais, muito provavelmente, ele já sabia que seria questionado, e não se intimidou quando confrontado pelos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos sobre os erros de seu governo, como os casos de corrupção envolvendo a Petrobras. No âmbito econômico, Lula defendeu o legado deixado pelo seu governo e o de sua sucessora, a ex-presidenta Dilma Rousseff.

“Reduzimos a dívida pública para 39%. Fizemos uma reserva de US$ 370 bilhões. Fizemos a maior política de inclusão social deste país. É assim que vamos governar. Tem três palavras mágicas: credibilidade, previsibilidade e estabilidade”, prosseguiu. “A Dilma fez um primeiro mandato extraordinário. A crise se agravou e ela se endividou para manter políticas sociais e manter desemprego em 4,5%.”

Dizendo que Dilma foi competente e importante na Casa Civil, Lula reconheceu, no entanto, que a ex-presidenta errou ao segurar o preço dos combustíveis e ao conceder desonerações da folha de pagamentos e isenções de impostos. Em seguida, porém, ele disse que sua sucessora tentou reverter os erros e foi impedida pelo Congresso.

Ao ser questionado sobre como enfrentar as perspectivas de um ano difícil para a economia em 2023, com as contas públicas comprometidas diante da medidas eleitoreiras do presidente Jair Bolsonaro para tentar se reeleger, o petista afirmou que já passou por situação semelhante em sua primeira eleição.

“Meus economistas diziam que o Brasil estava quebrado. Peguei o país com mais de 10% de inflação, desemprego de 12%, devendo ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Reduzimos a inflação para a meta durante todo o meu período, a dívida pública caiu de mais de 60% para 39% do PIB, tínhamos reserva e ainda emprestamos para o FMI.”

O petista também afirmou que o apoio de parcela expressiva do agronegócio ao presidente Bolsonaro se deve à falta de políticas de defesa da Amazônia, do Pantanal e da Mata Atlântica e de controle do desmatamento, que o PT pretende retomar. “Esse é o agronegócio fascista e direitista. O empresário sério, que exporta, quer preservar”, afirmou.

Sobre sua conexão com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), Lula disse que os fazendeiros não têm motivos para temer. “O MST está fazendo uma coisa extraordinária hoje, que é cuidar de produzir. O MST é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil! O MST de 30 anos atrás não existe mais”, disse Lula, convidando a apresentadora Renata Vasconcellos a conhecer um assentamento do movimento.

Dentro desse mesmo tema, ele aproveitou para criticar a política de facilitar a compra de armas por produtores rurais. “Nós queremos pacificar o país. O Brasil pode ter tanto o grande quanto o pequeno produtor.”

O candidato afirmou ainda que pretende deslanchar um grande plano de investimento em infraestrutura e recuperar obras paradas: “Este país vai andar”.

Com 47% das intenções de votos nas pesquisas contra 32% do presidente Bolsonaro, Lula ainda mandou um recado às famílias endividadas, com foco nas mulheres. “Nós temos quase 70% das famílias brasileiras endividadas e a grande maioria delas é mulher, 22% endividada porque não pode pagar a conta de água, a conta de luz, a conta do gás. Nós vamos negociar essa dívida. Pode ficar certo que nós vamos negociar com o setor privado e com o sistema financeiro”, disse.

Sem poupar críticas à Lava Jato, Lula reconhece corrupção envolvendo a Petrobras. O próprio William Bonner ressaltou que petista foi inocentado pela Justiça

A entrevista com o presidente Lula no JN começou com uma pergunta sobre corrupção do jornalista William Bonner, que, na formulação, reconheceu que Lula foi inocentado pela Justiça de todos os crimes que havia sido acusado, como o caso do Triplex do Guarujá.

O ex-presidente ficou 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal do Paraná em consequência dos processos contra ele no âmbito da operação Lava Jato, conduzida pelo ex-juiz e hoje candidato a deputado federal Sérgio Moro, e pelo ex-procurador Deltan Dallagnol, também candidato a deputado, ambos pelo estado do Paraná. Lembrando que Moro foi ministro da Justiça do governo Bolsonaro, de quem hoje é desafeto.

“Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram”, afirmou Lula, sobre o caso de corrupção envolvendo a Petrobras. “Se alguém comete um erro, investiga-se, apura, julga, condena ou absolve, e vai resolvendo o problema. O que foi o equívoco da Lava Jato? É que a Lava Jato enveredou por um caminho muito delicado. A Lava Jato ultrapassou o limite da investigação e entrou no limite da política, e o objetivo era tentar condenar o Lula”, disse.

Mas Lula lembrou na entrevista que, ao contrário do que faz o presidente Bolsonaro, que interfere na Polícia Federal para coibir investigações contra aliados e familiares, seu governo permitiu que a corrupção fosse investigada. “Foi no meu governo que a gente criou o Portal da Transparência, que a gente colocou a CGU (Controladoria Geral da União) com ministro para fiscalizar, que a gente criou a Lei de Acesso à Informação, que a gente criou a Lei Anticorrupção, a lei contra o crime organizado, que a AGU (Advocacia Geral da União) entrou no combate à corrupção. Criamos o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para cuidar de movimentações financeiras atípicas e colocamos o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para combater os cartéis.”

Ao analisar a relação entre o Executivo e o Legislativo, Lula afirmou que “a vida política estabelecida em regime democrático é a convivência democrática da diversidade”, mas ele não poupou críticas ao famigerado orçamento secreto. Aliás, sobre a relação de Bolsonaro com aliados, Lula chamou o presidente de “bobo da corte”, ao dizer que quem governa, de fato, é o presidente da Câmara, Arthur Lira, e Ciro Nogueira, da Casa Civil, que comandam o orçamento.

“Pode ficar certa (dirigindo-se à apresentadora Renata Vasconcellos) de que nós vamos resolver, conversando com os deputados”, disse.

Ainda sobre isso, Lula aproveitou para mandar um recado ao eleitor: “Eu espero que a sociedade aprenda nestas eleições uma lição muito grande. O Congresso Nacional é resultado da sua consciência política no dia da eleição”, disse, conclamando os brasileiros e as brasileiras a votarem “sem rancor”.

O petista também afirmou que deseja voltar à Presidência “para ser melhor” do que foi em seus dois governos, e pregou a unidade para “vencer o fascismo, a ultradireita”, em referência à candidatura de Jair Bolsonaro (PL).

“Quero fazer coisas que queria ter feito mas não sabia que era possível fazer. Por isso escolhi o Alckmin (ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin) de vice, para juntar duas grandes experiências: um cara que foi governador por 16 anos e um cara que foi considerado o melhor presidente da história. Esses dois vão governar o país.”

Entrevista de Lula “bomba” nas redes sociais e é elogiada na imprensa

Levantamento da Quaest mostra que a entrevista do ex-presidente Lula teve mais engajamento nas redes sociais que a do presidente Bolsonaro, na segunda-feira (22). A pesquisa mostra que 15 milhões de pessoas, em média, foram impactadas por postagens sobre o tema durante o programa, contra 9 milhões de Bolsonaro e 2 milhões de Ciro Gomes (PDT). O petista obteve 48% de menções positivas, contra 52% de menções negativas considerando a exibição completa. Foi pior que Ciro (54% a 46%) e melhor que Bolsonaro (35% a 65%).

Os três melhores momentos de Lula, segundo a Quaest, ocorreram quando ele citou medidas contra a corrupção em seu governo, quando defendeu a aliança com Geraldo Alckmin (PSB) e quando criticou o ódio na política. Já os três momentos em que recebeu mais críticas foram quando não respondeu como definiria o Procurador-Geral da República (PGR), quando chamou Bolsonaro de “bobo da corte” e quando defendeu o diálogo como solução para o orçamento secreto.

A entrevista de Lula foi elogiada pelos colunistas do UOL Reinaldo Azevedo  e Alberto Bombig. Para Azevedo, a entrevista de Lula, ainda que ele não ganhe as eleições, é “histórica”. Já Bombig avaliou que o candidato petista se saiu bem inclusive em temas mais sensíveis, como a corrupção. “Lula bateu o pênalti e fez o gol. Basicamente é isso. Ele acertou e fez um gol. Acho que ele conseguiu se sair bem na questão mais delicada, que é a corrupção. E acho que ele conseguiu passar a ideia que ele precisava, que é a de frente ampla”.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

 

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