O presidente Lula (PT) saiu publicamente em defesa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e justificou o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) como uma medida justa e necessária para corrigir distorções no sistema tributário. A declaração foi feita durante entrevista ao podcast Mano a Mano, comandado pelo rapper Mano Brown e pela jornalista Semayat Oliveira, e publicada na madrugada de quinta-feira (19).
Segundo Lula, setores altamente lucrativos, como as plataformas de apostas online (bets) e as fintechs, pagam proporcionalmente menos impostos do que deveriam. A tentativa de elevar o IOF sobre essas operações, no entanto, enfrenta resistência parlamentar e reações negativas no mercado financeiro.
O governo federal anunciou, em maio, um conjunto de medidas para promover justiça tributária, especialmente sobre investimentos isentos de IR (Imposto de Renda), como as LCIs (Letra de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), o que contribuiria para o equilíbrio das contas públicas. O governo também promoveu cortes no Orçamento de 2025, mas esbarra em entraves como as emendas parlamentares, das quais deputados e senadores não querem abrir mão e, por isso, pressionam o governo. O que eles querem é que o Executiva promova cortes em programas sociais, mas isso já tem sido feito.
A proposta do IOF encontrou forte oposição no Congresso. a Câmara dos Deputados aprovou por 346 votos a 97 um requerimento para acelerar a tramitação de um projeto que visa anular o aumento do IOF, impondo uma derrota simbólica ao governo.
Para Lula, a reação não se sustenta diante da realidade econômica: “As bets pagam 12%, nós queremos que paguem 18%. Eles ganham bilhões e não querem pagar. As fintechs hoje são quase que uns bancos. Não querem pagar”, disse. E concluiu: “Não dá para ceder toda hora.”
Lula sai em defesa de Haddad
As críticas ao ministro Fernando Haddad se intensificaram desde o anúncio do pacote fiscal que envolve a cobrança de IOF de investimentos hoje isentos de pagamento de impostos.
A Mano Brown, Lula defendeu enfaticamente seu ministro: “O IOF do Haddad não tem nada demais”, afirmou. Segundo o presidente, a política econômica busca cumprir as metas fiscais sem desmontar programas sociais ou cortar investimentos públicos — algo que considera essencial para o crescimento econômico e a justiça social.
A estratégia do governo inclui, além do IOF, o fim da isenção de Imposto de Renda sobre investimentos como LCI e LCA, e a revisão de benefícios fiscais sobre JCP (Juros sobre Capital Próprio), instrumento usado por grandes empresas para remunerar acionistas e reduzir a carga tributária.
Justiça tributária como princípio
No centro do discurso de Lula está a defesa da progressividade tributária. Para ele, o atual sistema beneficia setores de alta lucratividade com isenções e mecanismos de elisão fiscal, enquanto onera desproporcionalmente os mais pobres.
“A gente quer fazer justiça tributária, que as pessoas que ganhem mais paguem mais, e quem ganha menos pague menos”, declarou. A fala reforça uma diretriz política do atual governo: redistribuição de renda via sistema tributário.
Reconstrução institucional pós-Bolsonaro
Lula também aproveitou a entrevista para criticar o legado de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL). Usando uma analogia controversa, o presidente comparou o Brasil herdado em 2023 à Faixa de Gaza, sugerindo que havia uma destruição deliberada das instituições sociais.
“Não tínhamos mais Ministério do Trabalho, de Igualdade Racial, de Direitos Humanos, de Cultura. Foi uma destruição proposital”, afirmou. Para Lula, a ausência dessas pastas simbolizava um desmonte do papel do Estado na promoção da cidadania e da cultura. “O presidente anterior não gostava de ministério que organizasse a sociedade.”
Economia: crescimento como resposta à crítica
Lula destacou os indicadores econômicos positivos de seu governo para sustentar o argumento de que a política econômica está no caminho certo. O presidente afirmou que o país voltou a crescer de forma consistente após anos de estagnação.
Segundo dados citados por ele, o Brasil cresceu 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024. “Sabe quanto tempo fazia que esse país não crescia acima de 3%? A última vez foi em 2011”, disse. Ele ainda comparou com seu segundo mandato: “Quando deixei a Presidência, o país crescia 7,5%.”
Emprego e renda
O otimismo econômico foi reforçado por indicadores de emprego. Lula celebrou os dados da PNAD Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que apontaram taxa de desemprego de 6,6% entre fevereiro e abril de 2025 — a menor para o período desde o início da série histórica.
Além disso, o Brasil ultrapassou pela primeira vez a marca de 48 milhões de vínculos com carteira assinada, com um saldo positivo de 257.528 empregos formais em abril, o melhor desempenho desde 2020, quando começou a nova metodologia do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Educação como política de segurança pública
No campo social, Lula destacou o programa Pé-de-Meia, voltado à permanência de estudantes no ensino médio, e o incentivo à escola em tempo integral como estratégias para reduzir a evasão escolar e, por extensão, a violência urbana.
“O Pé-de-Meia é um programa educacional que livra a meninada de 14, 15, 16 anos da violência. Ela vai ficar na escola, não vai ficar na rua”, disse. Ele também defendeu a ampliação do tempo de permanência dos jovens na escola como forma de promover segurança e qualificação profissional.
Desmatamento zero
Na entrevista, Lula lembrou que o Brasil está comprometido a zerar o desmatamento na Amazônia. “A Amazônia ainda hoje tem grande parte dela com floresta intacta. Meu compromisso é chegar até 2030 com desmatamento zero. Por isso eu estou levando a COP30 [Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas] para lá”, frisou o presidente, em referência ao evento que vai acontecer pela primeira vez na região Amazônica, mais especificamente em Belém, no Pará, daqui a cinco meses.
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