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Orçamento do setor de Defesa dos EUA deve chegar a US$ 1 trilhão em 2023, afirma jornalista

"Enquanto isso, o número de mendigos e sem teto no Estados Unidos só aumenta"
20/05/2022 | 22h21

Em entrevista a Heloísa Villela durante o ICL Notícias desta sexta (20), o jornalista britânico Andrew Cockburn, especializado em reportagens sobre o setor de Defesa dos EUA, dá detalhes do que está por trás das decisões da área ao comentar seu último livro “Spoils of War”, lançado no final de 2021. Segundo Andrew Cockburn, o governo americano tem duas funções: a de comprar armamentos para o País e a de vendê-los ao exterior.

É tanto dinheiro envolvido no setor de Defesa dos EUA que Cockburn achava que o orçamento só chegaria a US$ 1 trilhão em 2025 ou 2026. Segundo ele, diante do conflito entre Rússia e Ucrânia, talvez a cifra seja alcançada em 2023. “Enquanto isso, o número de mendigos e sem teto no Estados Unidos só aumenta”, diz Andrew Cockburn.

“Biden pediu ao Congresso US$ 33 bilhões para armar a Ucrânia. O Congresso achou pouco e subiu o tamanho do pacote para US$ 40 bilhões. É preciso lembrar que, do pacote de US$ 40 bilhões, a maior parte do orçamento geral não será gasto no confronto entre a Rússia e a Ucrânia. O dinheiro será destinado primeiramente para aquisição de armamentos nucleares, como novas bombas nucleares, novos mísseis nucleares, novo submarino nuclear, novos mísseis teleguiados e ogivas nucleares. Realmente, não tem nada a ver com a Ucrânia e, muitas vezes, não tem nada a ver com a defesa”, afirma o jornalista britânico.

No livro, Cockburn menciona como desperdício de dinheiro o caça Strike Fighter. “Após 20 anos, recebendo investimentos do governo, a tecnologia aérea ainda não consegue passar nos testes operacionais. Seu software não funciona direito. O simulador para treinamento ainda não foi criado. A Agência de testes do Pentágono afirma que ele tem mais de 800 defeitos, que precisam ser corrigidos antes que possam ser aprovados para produção total. E, mesmo assim, gastam bilhões de dólares para construí-lo”, afirma.

Apoio à economia da guerra

O jornalista, autor de livros e documentários, explica que as empresas que atuam no setor de defesa dos EUA dividem os projetos de armas pelos estados. Para isso, compram o apoio de todos os senadores. Por sua vez, os senadores dizem adotar os projetos dessas empresas para a manutenção dos empregos de seus eleitores. Até mesmo o senador Bernie Sanders, considerado o mais progressista do Congresso, briga para que os F35 continuem usando o aeroporto da cidade dele. “Bernie diz representar a comunidade que mora ao redor do aeroporto do Burlington, onde os caças F35 são avistados. Mas, por causa dele, as crianças estão traumatizadas”, afirma o jornalista. “O sistema corrupto continua porque o defensor do povo, Bernie Sanders, está disposto a apoiar a economia da guerra”, completa.

Outro exemplo, mencionado no livro Spoils of War, é o de Bruce Jackson, vice-presidente da Lockheed Martin, uma das maiores fabricantes de armas dos Estados Unidos. Nos anos 90, Jackson se posicionou em favor da expansão rápida da OTAN para, depois, as empresas de armas dos Estados Unidos venderem seus produtos para o leste europeu. Bruce Jackson ainda criou o comitê de libertação do Iraque antes da guerra começar. Também é o responsável pela criação do comitê de libertação da Ucrânia.

O interesse da área de defesa dos EUA também é mencionado no caso da Boeing, maior empresa de aviação aérea civil dos Estados Unidos. Cockburn explica que a empresa de aviação norte-americana sempre teve um braço militar internamente, com uma chamada cortina de ferro. O objetivo era evitar a contaminação de práticas militares (entrega de produto atrasado, com defeito, prática abusiva de preço etc) ao setor civil na mesma empresa.

Caso Boeing e a defesa dos EUA

Após a Boeing adquirir a companhia McDonnell Douglas – uma das maiores fabricantes de aviões comerciais e militares do mundo – a cortina de ferro desapareceu e o braço militar passou a trabalhar ao lado do braço civil.

Em janeiro de 2016, houve o primeiro voo do 737 MAX, com motor mais eficiente, melhoria aerodinâmica, modificação na fuselagem.

Após 2 acidentes com esse modelo, em 2018 e 2019, as agências regulatórias ao redor do mundo suspenderam a operação dessa série até segunda ordem. Em 19 de março de 2019, o Departamento dos Transportes dos Estados Unidos solicitou uma audição no processo regulatório que levou à certificação da aeronave em 2017. A Boeing foi multada por ter mentido para a Administração Federal de Aviação (FAA), a agência regulatória do país, antes e depois dos acidentes fatais, envolvendo a linha de aeronaves em 2018 e 2019. Em nota à imprensa, a fabricante confessou que dois funcionários fraudaram e enganaram o grupo para obter “lucros”.

Redação ICL Economia 
Com informações do ICL Notícias

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