A Petrobras encerrou 2024 sem ter promovido um único reajuste nos preços do diesel em suas refinarias. É a primeira vez que isso acontece em 13 anos. Além disso, a gasolina subiu só uma vez no ano que acabou de terminar.
No ano passado, o preço da gasolina subiu em julho, com aumento de 7,04%. No mesmo dia, o gás de cozinha subiu 9,72%. A última alteração do diesel foi um corte de 7,85% em dezembro de 2023, ainda na gestão do ex-presidente da estatal Jean Paul Prates.
A explicação para esse feito, a despeito da volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional e do dólar, foi a mudança na política de preços aplicada pela companhia.
Em maio de 2023, a estatal anunciou o fim do PPI (Paridade de Preço de Importação), que acaba provocando muita volatilidade nos preços dos combustíveis no Brasil, uma vez que a antiga política estava atrelada ao dólar e ao preço do barril do petróleo no mercado internacional.
Na ocasião, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, comentou que a mudança na política é bastante positiva, pois tira do foco os importadores de combustíveis para priorizar quem deve ser prioridade, neste caso, o consumidor brasileiro.
“O PPI era uma maluquice! O Brasil não tem a quantidade de gasolina suficiente para abastecer o mercado, pois o Brasil não refina tudo [o petróleo] e temos que importar. Então, em vez de aumentar a capacidade de refino, optou-se por estimular os importadores [de derivados de petróleo]”, disse o economista.
À reportagem da Folha de S.Paulo, o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo e Gás), que fez o levantamento, disse que a falta de reajuste trouxe efeitos positivos para a economia, ao evitar pressões inflacionárias com o repasse do aumento de preços dos combustíveis a outros produtos. No Brasil, o principal modal logístico é o rodoviário. Portanto, subiu o diesel encarece o frete usados pelos caminhões e, consequentemente, os preços dos produtos transportados por eles.
Segundo o instituto, a estatal passou a maior parte de 2024 com o diesel abaixo da paridade de importação da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). Esteve acima apenas em seis semanas, nos meses de setembro e outubro.
Petrobras vendeu diesel, em média, a R$ 3,53. Mas dólar deve pressionar
Ainda de acordo com o levantamento, a Petrobras vendeu o diesel a, em média, R$ 3,53 por litro. Até a primeira semana de dezembro, a paridade média de importação da ANP foi de R$ 3,70 por litro. Isto é, a estatal vendeu o produto com uma defasagem média de 5%.
Diante da desvalorização do real frente ao dólar, o valor do produto disparou nas últimas semanas. Porém, esses dados ainda não foram captados pelos dados semanais da ANP.
Pelas contas da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Petróleo), a defasagem chegou a bater 15% no dia 19 de dezembro.
Em entrevista à Band TV exibida no domingo (29/12), a presidente da estatal, Magda Chambriard, disse que a Petrobras cumpriu a missão de “abrasileirar” os preços dos combustíveis no país, vendendo mais barato do que no exterior e mantendo lucro.
Para o Ineep, a política garante estabilidade de preços. “Desde a adoção de sua nova política de preços, em maio de 2023, a estatal, além de adequar a precificação de seus derivados à realidade produtiva e logística nacional, contribuiu para mitigar os efeitos das flutuações dos preços internacionais sobre os consumidores brasileiros”, disse o instituto.
Porém, a escalada do dólar no país voltou a pressionar os preços dos combustíveis, elevando a defasagem em relação às cotações internacionais ao maior patamar desde julho. O cenário já provocou aumento na maior refinaria privada brasileira, mas a Petrobras deve esperar antes de decidir por reajustes.
Gleisi comemora resultado da política
Em seu perfil oficial da rede X (antigo Twitter), a presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) relembrou a promessa do presidente Lula (PT) de “abrasileirar preços dos combustíveis” e celebrou o atual preço do diesel e da gasolina.
Gleisi lembrou que a imprensa criticou a promessa do presidente e disse que alguns veículos chegaram a sugerir “que a Petrobras ia quebrar”.
“Felizmente para o Brasil, erraram de novo. As ações da estatal mais que dobraram de valor e a gasolina parou de subir toda semana. Tivemos reajuste zero do diesel em 2024 e apenas um reajuste da gasolina em 2024”, afirmou a presidente do PT.
Desde o primeiro dia de negociação de 2024 até 26 de dezembro, as ações da petroleira acumularam uma valorização de 16,71%, destacando-se no mercado mesmo com as turbulências enfrentadas.
Além disso, a estatal continuou pagando dividendos a seus acionistas.
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