O ano de 2025 começou com um alerta para a economia americana: o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos recuou 0,3% no primeiro trimestre, em relação aos três meses anteriores. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (30) pelo Escritório de Análise Econômica (BEA), já mostram os primeiros efeitos das novas políticas comerciais adotadas pelo presidente Donald Trump.
Essa queda representa o primeiro resultado negativo do PIB americano desde o início de 2022, surpreendendo analistas que esperavam um desempenho positivo. Projeções atualizadas indicavam uma retração de 0,2%, mas o número final ficou ainda mais abaixo do esperado, impactando negativamente o mercado financeiro.
Em meio ao impacto causado pelos números do PIB, o Senado dos Estados Unidos deve votar ainda nesta quarta, segundo a Reuters, uma resolução para bloquear uma série de tarifas do presidente norte-americano.
A medida foi apresentada pelo senador democrata Ron Wyden como uma resolução privilegiada, que requer uma votação da câmara liderada pelos republicanos.
Se aprovado, o projeto encerraria a emergência nacional declarada por Trump e que foi usada como base para a aplicação das tarifas globais de 10% sobre parceiros comerciais dos EUA e das tarifas recíprocas mais altas sobre 57 parceiros comerciais, incluindo a União Europeia.
O que está por trás da quedo do PIB?
Segundo o BEA, a queda no PIB foi influenciada principalmente pelo aumento expressivo nas importações e pela redução nos gastos do governo. Como as importações são consideradas no cálculo do PIB como itens produzidos fora do país, seu crescimento tem efeito negativo na economia doméstica.
Apesar disso, alguns fatores evitaram um desempenho ainda pior: os investimentos, as exportações e o consumo das famílias registraram alta. No entanto, o ritmo de consumo desacelerou consideravelmente — os gastos dos consumidores cresceram apenas 1,8% em termos anualizados, bem abaixo dos 4,0% registrados no último trimestre de 2024.
Corrida para importar antes do tarifaço
O salto nas importações — que subiram a uma taxa anualizada de 41,3%, o maior avanço em quase cinco anos — tem explicação: a corrida de empresas para antecipar compras no exterior antes da entrada em vigor das novas tarifas anunciadas por Trump.
Pouco após tomar posse, o presidente implementou sobretaxas de 10% sobre produtos chineses, além de mirar outros parceiros históricos como México e Canadá. Em abril, o governo avançou com a proposta de tarifas universais mínimas de 10% para todos os países, atingindo também o Brasil. No caso da China, os tributos chegaram a 145%. Embora essas novas tarifas tenham sido suspensas por 90 dias, a incerteza gerou uma desorganização no comércio exterior americano.
Como consequência direta, o déficit comercial dos EUA disparou em março, registrando um salto de 9,6% em relação ao mês anterior e atingindo US$ 162 bilhões.
Um crescimento com base frágil
De acordo com o economista-chefe da gestora Quantitas, Ivo Chermont, os componentes que sustentaram o crescimento nos investimentos são preocupantes. O aumento foi impulsionado pela formação de estoques e por gastos em equipamentos — ambos indicativos de antecipação de compras, o que pode significar uma retração mais profunda à frente.
Segundo Chermont, os sinais apontam para um possível cenário de recessão: “Os únicos lugares (do PIB americano do primeiro trimestre) que foram muito fortes têm esse cheiro de antecipação. Quando isso acontece, para mim, significa um clima de calmaria antes da tempestade”, alertou.
Projeções em Queda
Após um crescimento de 2,8% em 2024, as expectativas para 2025 foram revisadas para baixo por diversas instituições. A pesquisa de abril da Bloomberg com analistas de mercado indicou uma previsão de crescimento de apenas 1,4% — bem abaixo dos 2,2% esperados em janeiro. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu sua estimativa para 1,8%, contra 2,7% na projeção anterior.
Sinais crescentes de recessão
A combinação de tarifas elevadas, instabilidade nas políticas econômicas e desaceleração do consumo aumentou a incerteza entre empresas e consumidores. Além disso, o mercado de trabalho também dá sinais de fraqueza. Em abril, o setor privado americano adicionou apenas 62 mil novas admissões — o ritmo mais fraco dos últimos nove meses, segundo a empresa ADP.
Outro relatório, da agência de estatísticas do trabalho (JOLTS), revelou a abertura de 7,2 milhões de vagas em março, menor nível desde setembro de 2024.
Índices de confiança do consumidor, encomendas industriais e o Índice Econômico Antecedente (LEI) também apresentaram quedas consecutivas, reforçando o cenário preocupante. Em março, o LEI recuou 0,7%, após uma queda de 0,2% em fevereiro.
Atualmente, 45% dos economistas ouvidos pela Bloomberg acreditam que uma recessão nos EUA pode acontecer ainda este ano — um número bem superior aos 30% registrados em março.
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