O presidente Lula (PT) deve coordenar uma reunião ministerial, nesta sexta-feira (24), para discutir formas de baixar os preços dos alimentos no país, que têm sido o principal componente a pesar na inflação. O tema ganhou centralidade no governo esta semana, quando o próprio presidente afirmou, em outra reunião realizada com ministros na segunda-feira (20), que esta é a prioridade da gestão em 2025.
Foi o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, quem informou que Lula fará novo encontro ministerial hoje. Ontem (23), Teixeira participou, no Palácio do Planalto, de um encontro preparatório que contou com a participação dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Carlos Fávaro (Agricultura), além de representantes do Ministério da Fazenda.
A expectativa é que Lula analise possíveis medidas que contribuam para conter a inflação de alimentos. Questionado por jornalistas sobre uma proposta apresentada pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados), para flexibilizar a validade de alimentos, Paulo Teixeira afirmou que a iniciativa “está fora de cogitação”.
Teixeira reiterou ainda que o governo descarta qualquer tipo de intervenção nos preços dos alimentos, e classificou como “equívoco de comunicação” a hipótese de que o Executivo buscar medidas nesse sentido. Ele não citou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, autor da fala sobre intervenção que provocou polêmica e que depois se corrigiu. Costa, no entanto, corrigiu-se depois.
A Abras sugeriu inserir o modelo “best before”, que do inglês quer dizer que o consumo deve ser “de preferência antes de”, o que, na prática, permite que mercados mantenham produtos nas prateleiras por mais tempo.
Por sua vez, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta quinta-feira que a expectativa do governo é uma diminuição no preço dos alimentos nos próximos meses, em função da trajetória de queda do dólar e de uma safra recorde, prevista para este ano.
Desde a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o dólar tem registrado quedas no Brasil, firmando-se abaixo dos R$ 6 pela primeira vez desde dezembro. A divisa impacta no preço final dos alimentos devido aos insumos utilizados para a produção que são importados pelo setor do agronegócio, como os fertilizantes.
“Primeiro nós vamos ter uma grande safra. Em segundo lugar o dólar começou, na minha opinião, uma trajetória que, eventualmente, pode ser interrompida, momentaneamente, pela boataria […]”, ponderou o ministro da Fazenda.
“O que nós sabemos é que o que afetou o preço de alimentos, especialmente leite, café, carne e frutas, é porque são commodities, são bens exportáveis, faz parte da nossa pauta de exportações. Então, quando o dólar aumenta, isso afeta os nossos preços internos. Quando o dólar se acomodar, vai afetar favoravelmente os preços também”, completou Haddad.
Haddad diz que governo estuda mudar regras no VA e VR para ajudar a baixa preços dos alimentos
Em conversa com jornalistas ontem, Haddad confirmou ainda que o governo estuda mudar regras do vale-alimentação e vale-refeição concedidos a trabalhadores. O objetivo, segundo ele, seria aumentar a concorrência no setor, o que teria impacto nos preços finais dos alimentos.
“Muitas vezes o trabalhador perde na intermediação, em função do fato de que as taxas cobradas são muito elevadas. E tem uma questão de portabilidade que precisa ir à frente, ela está prevista em lei, mas a portabilidade não está funcionando adequadamente por falta de regulamentação por parte do Banco Central”, explicou o ministro.
Os preços dos alimentos pesam na inflação e, principalmente, no bolso do brasileiro de mais baixa renda. Essa é uma variável importante, que tem, inclusive, se refletido nas pesquisas de popularidade do governo Lula 3, embora o desemprego esteja no menor patamar histórico e a renda tenha aumentado.
Em 2024, a inflação estourou o teto da meta e fechou o ano a 4,83% — o limite era 4,5%. O preço dos alimentos puxou o indicador e foi o que mais subiu no período. O café, por exemplo, subiu quase 40% no ano passado.
Sobre os programas de alimentação do trabalhador, o ministro da Fazenda disse que, se a regulamentação for aprimorada, os preços dos produtos devem cair.
“A única coisa que nós estamos trabalhando é, eu acredito que nós temos um espaço para melhorar a qualidade do programa em torno, sei lá, eu diria entre 1,5% e 3%, que é o programa de alimentação do trabalhador”, afirmou.
Haddad afirmou que “tem um espaço ali, regulatório, que caberia ao Banco Central já pela lei, mas que não foi feito até o término da gestão anterior, eu penso que há um espaço regulatório que nós pretendemos explorar no curto prazo”.
Para economista do ICL, estoques reguladores são boa alternativa
O economista e apresentador do ICL Mercado e Investimentos, André Campedelli, criticou na edição de ontem do programa a ideia dada pela Abras de mudar as datas de validades dos produtos nas gôndolas dos supermercados como medida para baixar os preços dos alimentos. “Mudar data de validade dos produtos não impacta inflação”, apontou.
Na avaliação dele, os estoques reguladores, que o governo Lula prometeu retomar, podem ser uma boa saída. “A gente até tem uma boa quantidade de milho, mas o milho não vai resolver o problema da inflação de alimentos, e um pouco de arroz e feijão, que estão sendo comprados agora da agricultura familiar. Mas o ano de 2024, quando as safras estiveram muito baixas, seria um péssimo momento para comprar estoque regulador. Daria mais problema ainda”, disse.
Em algum momento, segundo André, esse mecanismo deve ser retomado com mais vigor para ajudar nesse controle de preços. Como medida emergencial, ele avalia que talvez dar isenções momentâneas para determinados produtos pode ser uma saída ou concessão de crédito para melhorar situações específicas do setor.
Com os estoques reguladores, o governo compra normalmente produtos quando o preço está baixo, geralmente no preço mínimo, porque, quando o preço está baixo, isso significa que há excesso de oferta, o que não foi o caso, por exemplo, do ano passado.
O estoque serve como uma reserva de segurança alimentar, mas, obviamente, existem custos para mantê-los. No entanto, pode ajudar a beneficiar a população em momentos em que os preços dos alimentos estão mais altos. Por outro lado, ela é também beneficiada quando há falta de alimentos.
Assista no vídeo abaixo ao comentário de André Campedelli no ICL Mercado e Investimentos:
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