O Tesouro Nacional anunciou ontem (17) o cancelamento do seu tradicional leilão de títulos públicos, que estava previsto para ocorrer nesta quinta-feira (19). No lugar, será feito um certame de compra e venda de papéis já emitidos.
Serão três dias de leilões: nesta quarta-feira (18), amanhã e sexta-feira (20). As condições das ofertas serão divulgadas nos dias de realização.
Esta será a primeira vez, desde maio de 2020, durante a pandemia de Covid-19, que o órgão cancela um leilão tradicional de títulos públicos.
A recompra de papéis é vista como uma ação complementar à do Banco Central na tentativa de deter a escalada do dólar, que ontem fechou acima dos R$ 6, e que tem sido acompanhada pela alta dos juros futuros negociados em mercado.
Antes de anunciar a medida, o Tesouro a discutiu com o Banco Central. A justificativa do órgão é oferecer suporte ao mercado de títulos públicos, assegurando seu bom funcionamento e o de mercados correlatos.
Ontem, diante da volatilidade nas negociações de títulos, a plataforma de negociação dos papéis foi interrompida por quatro vezes. Os títulos prefixados e IPCA+ atingiram níveis recordes.
Segundo dados do Valor Econômico, o custo financeiro do governo para rolar a dívida chegou a 8% ao ano, em termos reais, os maiores desde 2008.
Mercado pressiona Tesouro a fazer leilões extraordinários
Depois das intervenções no câmbio, uma parcela do mercado financeiro passou a pressionar o Tesouro Nacional a fazer leilões extraordinários de recompra de títulos públicos para enfrentar o estresse do mercado, e dar novos parâmetros de preço ao mercado que é avaliado como disfuncional.
De acordo com analistas, a escalada do câmbio devido ao movimento especulativo dos últimos dias está contaminando o mercado de juros e vice-versa.
A economista e historiadora Deborah Magagna, apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, explica na entrevista a seguir que o mercado financeiro tem o foco exclusivo no pacote de corte de gastos do governo federal. Nada mais importa enquanto o conjunto de medidas fiscalistas não for aprovado no Congresso a contento, diz ela.
Esse tipo de leilão permite que detentores de títulos prefixados do Tesouro já emitidos venda até seis deles para estancar as perdas de fundos de investimento e tesourarias com a atual turbulência no mercado financeiro, com disparada do dólar e dos juros futuros.
O Tesouro pode fazer leilão de recompra pura ou de troca, quando adquire títulos dos investidores e simultaneamente vende os papéis, garantindo novos parâmetros de preços para os ativos do órgão.
Na última sexta (13), o Tesouro anunciou uma ação conjunta com o BC, apenas com a venda de títulos, sem recompra, o que gerou dúvidas no mercado.
A pressão pela recompra aumentou depois que o órgão vendeu no leilão de ontem títulos atrelados ao IPCA (NTN-B) com taxas acima de 8%, o maior nível desde junho de 2008, ano da crise financeira global.
Para exemplificar, a taxa da NTN-B de três anos chegou a 8,24%, a maior desde 9 de dezembro de 2008, quando o governo pagou 8,86% aos investidores. Diante do alto custo, o governo vendeu apenas 11,7 mil dos 50 mil títulos ofertados ao mercado.
No conjunto, o volume financeiro movimentado correspondeu a uma captação de menos de R$ 272 milhões, valor considerado baixo.
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