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XP é acusada de pressionar funcionário a colocar o pai em investimento que deu prejuízo. Para Eduardo Moreira, esse é o resumo do capitalismo

Empresário recorreu à Justiça contra a XP Investimentos, pedindo que a corretora lhe devolva os valores perdidos numa transação de R$ 15 milhões.
30/08/2024 | 11h45

O empresário Marco Antonio Puerta recorreu à Justiça contra a XP Investimentos, pedindo que a corretora lhe devolva os valores perdidos numa transação de R$ 15 milhões. Ele é pai de um ex-funcionário da corretora, que teria mediado a operação com o empresário após ser pressionado pelo chefe.

Segundo a denúncia, publicada primeiramente no site O Bastidor e, depois, no jornal Folha de S.Paulo, Puerta alega não ter sido alertado sobre os riscos do investimento, cuja contratação teria ocorrido por intermédio de seu filho Gabriel Puerta, que trabalhava na XP na época, mediante pressão e ameaça de seus superiores.

Na quinta-feira passada (22), o juiz André Augusto Salvador Bezerra concedeu medida liminar (provisória) determinando a suspensão da cobrança de juros de empréstimo ligado à operação.

Conforme a ação, que tramita na 42ª Vara Cível de São Paulo, o filho passou a ser alvo de constrangimento contínuo por parte da XP, inclusive com ameaças de demissão, para que seu pai topasse a operação financeira.

O empresário tinha cerca de R$ 22 milhões investidos na corretora em um “fundo private”, com CNPJ próprio e assessores exclusivos. Ele disse que passou a receber propostas para realocar os recursos logo após seu filho ser contratado pela empresa, no final de 2021.

De acordo com a ação, Gabriel convenceu seu pai a fazer uma “operação mista”, que consistia em tirar R$ 15 milhões do fundo exclusivo para aplicá-los em COEs (certificados de operações estruturadas) por cinco anos. Este investimento combina uma parte de renda fixa e ativos mais arriscados, como commodities, moedas e Bolsas estrangeiras.

O investimento também envolvia a tomada de um empréstimo de R$ 15 milhões mediante CCB (Cédula de Crédito), com juros pagos semestralmente.

A lógica era que os rendimentos do COE pagariam com sobra os juros do empréstimo, garantindo um lucro substancial, entre R$ 475 mil e R$ 3 milhões. Mas não foi o que aconteceu.

Operação na XP foi feita em março de 2022 e trouxe grande prejuízo ao pai do funcionário

Segundo informações do processo, a operação foi feita em março de 2022 e só trouxe prejuízo. Além de rebaixar o perfil do empresário de “private” para “unique” na corretora, os rendimentos não eram suficientes para cobrir os juros do empréstimo.

A defesa do empresário disse que seu cliente não foi alertado dos riscos e que a equipe da XP forçou um negócio inútil, desfavorável ao cliente, tão somente para garantir à equipe os bônus de investimento.

No processo também estão anexadas capturas de tela com conversas via WhatsApp que mostram a pressão do chefe sobre Gabriel para forçar o pai a aderir ao investimento.

A defesa pede na ação que a operação seja anulada e que, além de devolver os valores usados, a XP indenize Marco em R$ 3 milhões referentes aos juros do empréstimo (a liminar da semana passada interrompe, por enquanto, a cobrança dos juros).

A defesa também acionou a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre o caso.

Em nota, a XP disse não comentar casos na Justiça, mas afirmou que os “poucos fatos publicados estão fora de contexto” e que vai recorrer da decisão liminar.

Eduardo Moreira comenta caso da XP e afirma que é o resumo do capitalismo

Segundo o economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira, a XP conseguiu transformar a relação entre pai e filho em negócio. Ele comentou os prints das conversas entre o filho do investidor e um colega seu de trabalho à época, em que esse diz: “antes de ser seu pai é seu cliente”.

“Isso é o resumo do modelo capitalista”, afirmou Eduardo Moreira. “A gente vive em um modelo que transforma uma relação familiar em uma relação de negócios”.

Além disso, Moreira salientou que a operação que trouxe prejuízo ao cliente da XP é um COE, tipo de investimento que há cinco anos vem sendo criticado pelo fundador do ICL, que trabalhou por duas décadas no mercado financeiro.

“O pessoal está vendendo no Brasil o que foi proibido lá fora e todo mundo deixa, porque no Brasil é esse oba oba. Se dá lucro, qual o problema? O agrotóxico foi proibido lá fora. Dá lucro? Então libera”, afirmou Eduardo Moreira.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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