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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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 Efeito ‘tororó’ de Anitta barra cachês milionários de prefeituras

Treta sobre tatuagem da cantora, provocada por artista sertanejo, rendeu uma denúncia e uma operação do Ministério Público sobre verbas oficiais
31/05/2025 | 04h59
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A Justiça do Mato Grosso decidiu esta semana que o cantor Leonardo terá que devolver R$ 300 mil aos cofres da Prefeitura de Gaúcha do Norte, a 595 km de Cuiabá. O sertanejo recebeu, há um ano, um cachê de R$ 750 mil para um show no município. O valor, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), foi superfaturado.

Por mais bizarro que pareça, os cachês milionários — com dinheiro público — só começaram a ser barrados no Brasil depois que Zé Neto (da dupla com Cristiano) atacou a cantora Anitta: “A gente não precisa fazer tatuagem no ‘toba’ para mostrar se a gente está bem ou mal. A gente simplesmente vem aqui e canta, e o Brasil inteiro canta com a gente”.

Para bajular Jair Bolsonaro, em plena campanha eleitoral à reeleição, Zé Neto ainda repetiu a tese do presidente sobre a “mamata da Lei Rouanet”.

Anitta reagiu com humor à crítica sobre a tatuagem no “tororó” — como ela prefere definir na sua lição informal de anatomia —, mas acabou falando também sobre esquemas de desvios de verbas municipais por intermédio de cachês superfaturados.

A produtora dos seus shows havia recebido propostas do gênero. “Falei não”, disse ela.

A partir desse momento, o Ministério Público de vários Estados iniciou uma série de investigações sobre shows com valores suspeitos. Graças ao “efeito tororó”, o assunto nunca mais saiu da lupa dos procuradores.

O primeiro escândalo foi descoberto em Roraima, em 2022. A prefeitura de São Luiz, município com 8.232 habitantes, contratou o cantor Gusttavo Lima por R$ 800 mil.

Gusttavo Lima e Bolsonaro (Foto: Reprodução/Instagram @gusttavolima)

Depois de muita polêmica e investigação do MPE, o mesmo cantor teve um contrato de R$ 1,2 milhão cancelado em Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais.

Outro inquérito foi aberto na cidade de Magé, no Rio de Janeiro, onde Lima faria mais um show do milhão. Na Bahia, o Tribunal de Justiça cancelou uma apresentação na Festa da Banana de Teolândia — o cachê seria de R$ 704 mil.

A decisão levou a prefeita Rosa Batinga (PP) ao choro. “A minha dor é muito grande, vocês não têm ideia. Eu queria estar hoje, de vermelho e preto, arrumada para o Embaixador (apelido de Gusttavo Lima)”, disse, em lágrimas.

Conhecido informalmente como “CPI do Sertanejo”, o escândalo provocou debate no país inteiro. Em Alagoas, o MP pediu cancelamento de uma apresentação do ídolo popular Wesley Safadão que levaria R$ 600 mil da prefeitura de Viçosa. No entendimento dos procuradores, esse gasto com as festas não deveria ultrapassar o limite de R$ 100.

Acossado pela maioria das investigações, Gusttavo Lima chorou, em um live no Instagram. “Sou um cara que faz poucos shows de prefeitura. E quando a gente faz algum, a gente é massacrado como bandido, como se fosse um ladrão que estivesse roubando dinheiro público. E não é isso”.

No ano passado, reportagem de Deborah Magagna e Chico Alves no ICL Notícias revelou que shows de Gusttavo Lima consumiam até 50% de orçamento de cultura de pequenas cidades.

O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, prestou solidariedade ao cantor. “Fique firme, meu irmão! Você é um cara do bem! Deus proverá”, escreveu nas redes sociais. A essa altura, o “efeito tororó” havia provocado o cancelamento de 40 shows.

A bendita tatuagem — com a palavra “Love” em destaque —  tem feito um bem danado aos cofres públicos.

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