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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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Efeito Orloff com Cloroquina derruba favorito Javier Milei

Milei pode ser maluco, mas não é kamicaze para continuar recebendo conselhos de Eduardo Bolsonaro depois da decepção eleitoral
23/10/2023 | 19h20

Dessa vez prevaleceu o efeito Orloff com Cloroquina. A comparação do candidato Javier Milei com seu hermano ideológico Jair Bolsonaro, tema explorado na campanha do peronista Sergio Massa, deixou uma ressaca braba no comitê da extrema direta dos argentinos.
O efeito Orloff, para explicar aos mais jovens, era uma expressão usada na década de 1990 em qualquer comparação econômica entre o Brasil e a Argentina. A origem é um anúncio publicitário da vodka brasileira. Nos vídeos, disponíveis no Youtube, um bebedor profissional alertava: “Pense em você amanhã, exija Orloff hoje”. Os interlocutores, assustados diante da profecia, indagavam quem era aquele sábio boêmio. Ele virava para a câmera, com um certo ar cafajeste, e dizia: “Eu sou você, amanhã”.
Mesmo com uma economia em rebordosa, ter um presidente com elevado teor bolsonarista causou um mal-estar de véspera — algo como uma náusea provocada por um coquetel de vodka batizado com a Cloroquina do “kit preventivo” que o ex-presidente recomendava nas suas “lives” durante a pandemia de Covid-19.
Uma cena comprovou como os argentinos ficaram perturbados diante da possibilidade de convivência com as tonterias dos extremistas brasileiros. No domingo da eleição (22/10), os apresentadores do canal de tv C5N retiraram do ar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), durante uma entrevista ao vivo. O filho 03 do capitão, cabo eleitoral de Javier Milei, defendia o armamento em massa da população da Argentina.
O que seria, entre os brasileiros, apenas mais uma louvação bolsonarista ao tiroteio e à morte, soou intolerável aos jornalistas da emissora de Buenos Aires. Assustados, disseram não ao fascismo do trabuco.
No dia seguinte à pregação do parlamentar, São Paulo testemunhou mais uma tragédia com a marca da política armamentista herdada do ex-presidente. Uma aluna foi morta e outros três estudantes ficaram feridos na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste da capital. O autor do atentado foi o colega L.O.T., de 16 anos, que portava o revólver 38 do pai.
Depois do efeito Orloff com Cloroquina, resta saber se o candidato Javier Milei continuará recebendo os conselhos eleitorais de 03, o embaixador da extrema direita tropical na América Latina. Provavelmente não. Milei pode até ser definido como maluco — vide a proposta de venda de rins humanos no livre mercado —, porém não seria tão kamicaze ao ponto de morrer abraçado com o terror do vizinho bolsonarista.

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