Por Leandro Demori
Para além das toneladas de bombas jogadas pelo Exército de Israel em Gaza, o regime de Benjamin Netanyahu luta em outro front: o da opinião pública. Um dos principais soldados dessa batalha é Mosab Hassan Yousef, filho de um dos criadores do Hamas. Mosab virou uma estrela da propaganda da extrema direita israelense ao andar pelo mundo dizendo exatamente o que eles desejam ouvir. Em poucas palavras: que o morticínio em Gaza é justificado e que a Palestina sequer existe.
Yousef trabalhou por anos como informante do serviço secreto de Israel, levando ao país informações sobre Gaza e sobre o Hamas.
Mosab está no Brasil à tiracolo da Stand With us, uma organização de propaganda do regime israelense que vem ganhando espaço na mídia comercial no Brasil. Em uma palestra realizada na sexta-feira (24) no clube Hebraica, em São Paulo, Mosab Hassan Yousef falou para uma plateia lotada que a Palestina “sequer existe”. Foi interrompido pelos aplausos da audiência.
A Stand With Us assim se define: “Uma instituição sobre Israel sem fins lucrativos. Nós acreditamos que a educação é o caminho para a paz”. Soa estranho que esse suposto diálogo pela paz negue a existência da Palestina e se aproxime, de fato, ao da extrema direita.
Surpresos?
A Stand With Us poderia alegar surpresa ao ver Mosab fazer essa declaração em seu evento – a conferência foi apresentada por André Lajst, presidente da organização no Brasil. No entanto, basta uma busca rápida na internet para saber que Mosab está longe de ser um agente da paz: há uma enorme quantidade de falas bélicas e desumanizantes que o propagandista ciceroneado pela Stand With Us comete em programas de entrevistas.
Estados árabes são “lixo”
Algumas delas foram dadas no dia 15 de novembro deste ano, no programa The Jordan Harbinger Show.
“Eu não quero nem pensar em um Estado Palestino. Eu não estou nem aí para um Estado Palestino. Nós temos 22 estados árabes e todos eles são lixo. Eu não quero um novo estado árabe”,
“Estamos em uma guerra feia. E em uma guerra, pessoas morrem”.
“Ok, crianças estão morrendo e é devastador ver aquelas fotos, mas nós temos que erradicar esse grupo islâmico, nós não temos outra opção”.
A posição francamente pró-Israel e anti-Palestina ganha valor estratégico nos eventos da Stand With Us, uma entidade que se diz a favor da educação pela paz, mas que patrocina um personagem que faz propaganda da guerra.
Propaganda no Fantástico
Foi por esse caminho que Mosab apareceu ontem no principal programa dominical da TV brasileira, o Fantástico, como uma das atrações de maior destaque.
Ele contou sua versão sobre a criação do Hamas, fez críticas à violência do grupo contra seu próprio povo e relatou como se transformou em espião de Israel. Passou dez anos como informante dentro do grupo palestino, converteu-se ao Cristianismo, mudou-se para os Estados Unidos e escreveu um livro que está relançando agora no Brasil.
Na entrevista, ele atribuiu ao Hamas a morte de crianças e mulheres em bombardeios feitos por Israel. “Quanto mais crianças morrem, mais irritado o mundo fica com Israel, e é assim que o Hamas vence, ao deslegitimar a única democracia no Oriente Médio”, opinou Mosab. Segundo ele, o grupo militar palestino começou essa guerra.
O programa não mostrou nenhum contraponto à fala do filho do fundador do Hamas.
Esse tipo de lobby já era o seu forte quando, em 2014, Mosab deu entrevista à jornalista Heloisa Villela, que na época era correspondente da TV Record nos Estados Unidos. A impressão que ela teve sobre o personagem e também sobre a entrevista do Fantástico pode ser conhecida no artigo que escreveu para o portal ICL Notícias (clique aqui). No texto, uma expressão se destaca para definir o tour do “filho do Hamas”: “lobby requentado”.
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