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Andrea Dip

Jornalista investigativa e estudante de psicanálise. Autora do livro-reportagem “Em nome de quem? A bancada evangélica e seu projeto de poder". É pesquisadora na Freie Universität de Berlim e apresenta o podcast Pauta Pública na Agência Pública de Jornalismo Investigativo.

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Finalmente empossado, novo chanceler da Alemanha faz primeiro discurso

Em meio a crises e incertezas, Friedrich Merz diz que quer o exército mais forte da Europa
14/05/2025 | 15h48
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Ao que parece, os próximos anos não serão fáceis para o recém-empossado chanceler da Alemanha Friedrich Merz.

Seu partido, o conservador CDU/CSU, venceu as eleições em fevereiro e o partido de extrema direita AfD — recentemente classificado como extremista pela inteligência alemã — levou o segundo lugar.

Para manter o cordão de isolamento que mantém a extrema direita fora de coalizões e negociações no parlamento, o partido de Merz começou então negociações difíceis para uma coalizão com o terceiro colocado, o partido de centro-esquerda SPD.

E quando parecia que tudo estava finalmente acertado para a posse de Merz como chanceler na terça-feira, 6 de maio, o conservador não conseguiu os votos necessários na primeira ronda de votações secretas, o que significa que mesmo integrantes de sua coalizão não votaram nele.

Cidade de Freiburg, na Alemanha. Foto: Reprodução/Visit Freiburg

Cidade de Freiburg, na Alemanha. (Foto: Reprodução/Visit Freiburg)

Foi uma reviravolta inédita, histórica e simbólica: nunca antes na história da Alemanha moderna um chanceler designado falhou no primeiro turno de votação no Bundestag após eleição federal e negociações de coalizão bem-sucedidas.

Mas uma segunda ronda de votações aconteceu no mesmo dia e finalmente oficializou Merz como novo chanceler. Um começo nada auspicioso em um país que enfrenta recessão econômica, guerras que rondam, relações estremecidas com o governo Trump e o aumento vertiginoso da popularidade da extrema direita.

Na tarde desta quarta-feira, 14, Friedrich Merz fez então seu primeiro discurso oficial. Em 45 minutos, recapitulou os pontos definidos no acordo de coalizão dos partidos, mas também proporcionou alguns momentos reveladores.

Conservador convicto e defensor do liberalismo econômico, o chanceler quer impulsionar a economia, sobretudo reduzindo impostos. Declarou que espera reduzir as alíquotas do imposto de renda corporativo, cortar impostos sobre energia e reduzir a burocracia.

Para o trabalhador comum, no entanto, a perspectiva é um pouco menos clara. Embora a coalizão tenha prometido alívio fiscal para trabalhadores de renda média e baixa, Merz enfatizou na quarta-feira que isso não é definitivo.

Havia esperança de que ele aumentasse o salário mínimo, que na Alemanha é calculado por hora, para € 15 até 2026. Em seu discurso disse que quer fazer isso acontecer mas não deu certeza. “Consideramos um salário mínimo de € 15 em 2026 alcançável e desejável, tendo em vista o desenvolvimento da negociação coletiva, mas não o consagraremos em lei”.

Sobre imigração, o tom do discurso de posse foi um pouco mais suave que o de campanha. Merz tinha mensagens anti-imigração fortes e antes das eleições, chegou a aceitar votos da AfD para aprovar uma medida que reprimia travessias ilegais de fronteiras, gerando grande controvérsia e protestos pelo país.

Nesta quarta-feira, no entanto, o chanceler disse que “A Alemanha é um país de migração” e discorreu sobre a contribuição da migração legal ao país: “Queremos continuar sendo um país amigável e respeitoso, especialmente com as pessoas que vieram até nós, que vivem conosco, que trabalham conosco, que se tornaram cidadãos alemães e que são parte integrante e indispensável do nosso país e da nossa sociedade”, explicou.

Mas afirmou que o número atual de requerentes de asilo é muito alto.

Merz também prometeu desburocratizar e digitalizar os serviços administrativos — para o leitor ter uma ideia ainda se usa fax na Alemanha e toda comunicação com o governo é feita por cartas ou pessoalmente.

Ponto importante do discurso de estreia foi a afirmação de que ele quer que a Alemanha tenha “o exército convencional mais forte da Europa”.

E acrescentou: “Isso é apropriado para o país mais populoso e economicamente poderoso da Europa. Nossos amigos e parceiros também esperam isso de nós. Na verdade, eles praticamente exigem isso”.

Essa tem sido uma pauta importante para o conservador. Mesmo antes da assinatura do novo pacto de coalizão, a CDU/CSU e o SPD abriram caminho para um aumento maciço nos gastos militares. Em março, os partidos — com o apoio dos Verdes — aprovaram uma exceção ao freio constitucional da dívida, permitindo empréstimos ilimitados para impulsionar a defesa.

Isso parece ser um foco importante nos próximos meses. “Fortalecer a Bundeswehr (Forças Armadas) é nossa maior prioridade”, disse Merz. “O governo alemão fornecerá todos os recursos financeiros necessários para que a Bundeswehr se torne o exército convencional mais forte da Europa”.

 

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