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Por Iara Vidal – Revista Fórum

A população de Maceió vive clima de terror em razão das atividades de mineração realizadas pela Braskem. A odisseia de descaso da mineradora, que se autodescreve como uma empresa que trabalha “para melhorar a vida das pessoas, criando soluções sustentáveis por meio da química e do plástico” teve início há cinco anos na capital alagoana.

Desde 2018, quando a Braskem iniciou as atividades em Maceió para a extração de sal-gema, mais de 200 mil pessoas foram expulsas de suas residências devido a tremores e o risco de afundamento do solo. O bairro Pinheiro, um dos mais afetados, se transformou em um bairro fantasma nesse período.

A situação atingiu um ponto crítico nesta semana. Um dos bairros da cidade está afundando cerca de 2,6 cm por hora, de acordo com a Defesa Civil de Maceió.

A região está sob alerta máximo de colapso desde o dia 28 de novembro, quando o solo da mina 18, localizada no bairro do Mutange, apresentou abalos sísmicos. Na madrugada de sexta-feira (1°), a situação se agravou e os moradores da região tiveram que deixar suas casas às pressas.

GREENWASHING
Apesar do descaso da Braskem, que é uma empresa global com unidades industriais no Brasil, Estados Unidos, Alemanha e México, com a população atingida pelas atividades de mineração que realiza em Maceió, chama a atenção o esforço para lavar a própria imagem ao patrocinar iniciativas culturais.

Este ano, pelo segundo ano, a Braskem marcou presença no Lollapalooza Brasil, realizado entre os dias 24 e 26 de março a 2.418 quilômetro de Maceió, em São Paulo capital.

A iniciativa “Rock and Recycle by Braskem” era para promover o descarte adequado de plásticos. De acordo com o site da empresa, no ano passado, cerca de 130 mil itens plásticos foram coletados no festival.

Nas redes sociais, internautas chamaram a atenção para essa contradição das práticas da Braskem.

Esse é um exemplo clássico de greenwashing, o verniz verde que empresas como a Brasken usam por meio e publicidade e marketing para persuadir o público de que seus produtos, objetivos e políticas são ambientalmente amigáveis.

Não para por aí. A empresa também patrocinou o Big Brother Brasil 2023, reality show exibido pela TV Globo, “para incentivar um futuro cada vez mais sustentável”.

TERROR E FRAUDE
Mas para os maceioenses, não tem nem cheiro de sustentabilidade a realidade que têm vivenciado graças às atividades da Braskem.

Representantes do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) afirmam que o clima é de terror. Eles estimam que nos últimos cinco anos cerca de 60 mil pessoas tiveram de deixar suas casas. Muitas, sem ter pra onde ir.

A pesquisadora e mestranda em direitos humanos Rikartiany Cardoso, integrante do movimento e moradora de Maceió, afirmou:

Alagoas, não só Maceió, vive um contexto, um clima e uma realidade de contínuas violações de direitos humanos. Todos os direitos humanos que hoje estão pacificados, não só em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, como assegurados constitucionalmente. A gente tem o direito à cidade violado, assim como direito a moradia digna, trabalho digno, educação. São diversas cidades que sofrem diretamente. Então os últimos cinco anos de Alagoas, não só de Maceió, são anos de terror, não são anos de estabilidade.

Em setembro, o MAM denunciou uma fraude no acordo entre a Prefeitura de Maceió, comandada por João Henrique Caldas (PL-AL), conhecido como JHC.

Aliado de Arthur Lira (PP-AL), JHC fechou acordo que estimava a quantia de R$ 1,7 bilhão para indenização do aparato público e de moradores.

No entanto, cláusula 4.13 do acordo exime a Braskem de qualquer responsabilidade futura, colocando o ônus dos danos em cima dos ombros do município, mesmo que a mineradora seja condenada em processos futuros.

Além disso, o acordo não contempla todas as áreas afetadas, a exemplo das ruas e imóveis que se encontram em isolamento da economia da cidade. A erosão também segue aumentando e atingindo novas áreas.

 

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