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Estudo aponta que celular não é o único responsável pela distração

Uma nova pesquisa sugere que, embora os celulares sejam grandes fontes de distração, eles não são os únicos culpados pela falta de foco no dia a dia
07/04/2025 | 15h06
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O estudo, publicado no Frontiers in Computer Science, revela que as pessoas se dispersam independentemente da presença do celular e que a busca por distrações é um comportamento humano natural.

A distração vai além do telefone

Imagine a seguinte situação: você se senta para fazer sua declaração de impostos no computador, mas decide enviar uma mensagem para seu parceiro sobre um detalhe financeiro. Em questão de minutos, essa simples mensagem leva a uma rápida verificação do e-mail, algumas rolagens nas redes sociais e até mesmo uma visita a um site de compras. Quando percebe, já passou uma hora sem que você tenha avançado no que realmente precisava fazer.

Esse cenário, comum para muitos, mostra que a distração não depende apenas dos celulares. Segundo o pesquisador Dr. Maxi Heitmayer, professor de Psicologia na University of the Arts London, os smartphones aumentam o tempo gasto com distrações, mas não são os únicos responsáveis pela perda de foco.

Para testar essa teoria, Heitmayer conduziu um experimento com 22 participantes que passaram duas sessões de cinco horas trabalhando no computador — uma com o celular por perto e outra sem acesso imediato ao aparelho. O estudo confirmou que, quando o telefone estava ao alcance, os participantes o usavam mais. No entanto, quando não podiam pegá-lo, recorriam ao computador para se distrair.

Proibir o celular não resolve o problema

O pequeno número de participantes limita a possibilidade de generalizar os resultados, segundo o Dr. Noah Castelo, especialista em comportamento do consumidor da University of Alberta. No entanto, a pesquisa indica que simplesmente restringir o uso de celulares em escolas ou locais de trabalho pode não ser eficaz para melhorar a atenção.

Em vez disso, Heitmayer sugere que focar nos hábitos das pessoas e na forma como interagem com a tecnologia pode ser um caminho mais eficiente para lidar com distrações.

Por que nos distraímos?

O próprio Heitmayer percebe que muitas pessoas não gostam do tempo que passam no celular, mas acabam presas a ele. Isso acontece porque os dispositivos são projetados para capturar a atenção do usuário constantemente.

“No seu bolso, há uma batalha pela sua atenção”, explica. “Os celulares são ferramentas incríveis, mas os aplicativos são desenvolvidos para nos manter engajados o máximo possível.”

Contudo, as distrações não se limitam aos smartphones. O ser humano sempre buscou se manter atento ao ambiente ao redor, um comportamento que tem raízes na evolução. “Não somos robôs programados para manter o foco absoluto. Nosso cérebro busca estímulos variados ao longo do dia”, afirma o pesquisador.

Além disso, grande parte das distrações não é provocada pelo celular em si, mas pela própria mente da pessoa. Segundo um estudo anterior de Heitmayer, 89% das interrupções acontecem porque o próprio usuário sente a necessidade de conferir o telefone, mesmo sem receber notificações.

celular

Se distrair é um comportamento comum do ser humano. (Foto: Reprodução)

Reduzindo o tempo no telefone

Se a intenção é diminuir o tempo de uso do telefone, um dos métodos mais simples e eficazes pode ser deixá-lo fora do alcance. O estudo mostrou que os participantes passavam quase o dobro do tempo no celular quando o aparelho estava ao lado deles, em comparação com quando precisavam se levantar para pegá-lo.

Esse comportamento também sugere que o celular não funciona exatamente como um vício clássico. “Ao contrário de uma substância viciante, quanto mais você usa o telefone, mais você quer continuar usando”, diz Heitmayer. “Por outro lado, quando ele não está acessível, sua atenção naturalmente se volta para outras atividades, como conversar com alguém ou dar um passeio.”

Como criar hábitos mais saudáveis?

Lidar com o uso excessivo do celular não significa eliminá-lo completamente, mas sim aprender a utilizá-lo de forma mais consciente. O Dr. Paul Pavlou, da University of Miami, destaca que, quando usados de maneira produtiva, os smartphones podem até melhorar o desempenho acadêmico e profissional.

Heitmayer reforça que, em vez de culpar os dispositivos, é mais eficaz refletir sobre os próprios hábitos. “As pessoas tendem a dizer: ‘O telefone é o problema’, mas, na verdade, é a forma como o usamos que nos afeta.”

Estudos indicam que limitar o tempo de tela pode incentivar hábitos mais saudáveis, como praticar exercícios, socializar pessoalmente, ler e desenvolver hobbies. Além disso, educar as pessoas sobre como aplicativos são projetados para capturar sua atenção pode ajudá-las a fazer um uso mais consciente da tecnologia.

No fim, a chave para evitar distrações não está em banir os celulares, mas em entender como utilizamos nosso tempo e desenvolver estratégias para equilibrar o foco e o lazer.

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