Por André Borges e Renato Machado
(Folhapress) — Um evento realizado nesta sexta-feira (29) no Palácio do Planalto tinha o objetivo de anunciar investimentos em uma série de obras de infraestrutura em São Paulo, mas acabou dando espaço para um desagravo do governo federal contra a tentativa de golpe de Estado e de defesa da democracia.
Ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), ambos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ministros do primeiro escalão do governo Lula (PT) criticaram os atos golpistas e a trama de assassinato revelada pelas investigações da Polícia Federal.
“Não é fácil para um presidente e vice-presidente, que foram ameaçados de morte, de um golpe de Estado e tudo que assistimos recentemente, manter a mesma atitude de compromisso e respeito ao voto popular”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Esse foi o primeiro encontro direto entre Lula e Nunes e a primeira ida de Tarcísio de Freitas ao Palácio do Planalto, após a Polícia Federal indiciar Bolsonaro e mais 36 pessoas por uma trama golpista para impedir a posse de Lula após a vitória nas eleições presidenciais.
Tentativa de golpe
Na terça-feira (26), o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), derrubou o sigilo da investigação da PF, e os documentos foram enviados à PGR (Procuradoria-Geral da República), responsável por analisar as provas e decidir se denuncia ou não os investigados.
Segundo o relatório final, o ex-presidente liderou a trama golpista no final de 2022, e a ruptura democrática não foi concretizada por “circunstâncias alheias à sua vontade”.
Segundo a PF, “os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca” que Bolsonaro “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado e da abolição do Estado democrático de Direito”.
A PF também diz que uma série de diálogos entre interlocutores, análise da localização de celulares e datas e locais de reuniões indicam que o ex-presidente sabia de um plano para matar Lula, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Após a fala de Mercadante no evento, Rui Costa, ministro da Casa Civil, foi ainda mais enfático, referindo-se a Lula.
“O senhor mostra, mais do que nunca, a figura de um estadista que não se abala um milímetro, mesmo com todas as informações e notícias que vieram à tona, daqueles que tramaram um golpe de Estado”.
“Chegaram a tramar algo que ninguém nesse salão ou no país imaginava que poderia acontecer. Que alguém teria a coragem de tramar a captura, o sequestro, a morte de um ministro do Supremo Tribunal Federal, de um presidente da República eleito e de um vice-presidente da República eleito”, disse Rui.
O ministro da Casa Civil também chamou a atenção para o apoio internacional dado a Lula. “O senhor mostra a força e a convicção do estadista que é, o que ficou explícito na reunião do G20, colocando num mesmo salão o que nem as reuniões da ONU têm conseguido, reunindo ao mesmo tempo, num mesmo horário, tantos líderes de países”.
Outro ministro a falar sobre o tema foi o vice-presidente Geraldo Alckmin. “Quero aqui começar celebrando a democracia. Como é bonita a democracia. Passadas as eleições, os entes federados trabalhando juntos, para o bem comum”, discursou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Ao contrário do que normalmente costuma ocorrer neste tipo de evento realizado no Palácio do Planalto, Lula não discursou e se limitou a trocar cumprimentos e palavras diretas com Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes.
O governador e o prefeito de São Paulo não fizeram nenhuma menção que disse respeito às revelações trazidas pelo inquérito do golpe. Em suas falas, procuraram apenas exaltar as parcerias nas obras, com o apoio do BNDES e do governo federal.
Logo após o indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas, Tarcísio usou suas redes sociais para defender o ex-presidente e afirmou que a investigação da PF “carece de provas”.
“É preciso ser muito responsável sobre acusações graves como essa. O presidente respeitou o resultado da eleição e a posse aconteceu em plena normalidade e respeito à democracia”, afirmou.
Alckmin mencionou, ainda, a diferença de tratamento dada hoje pelo governo federal aos gestores locais, em relação aos tempos da ditadura.
“Estava lembrando quando fui prefeito da minha cidade natal, no período triste da ditadura no Brasil, onde nós, prefeitos, éramos separados pelo partido político. Lembro de uma reunião em Paraíbuna, com a presença do presidente da República, que a cor do meu cracházinho era diferente. As pessoas eram separadas. Só tinha reunião com o governo federal quem fosse do partido do presidente. Triste período já superado. E [vamos] celebrar a democracia, que é respeito ao povo, grande protagonista das mudanças no país.”
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