O anúncio de que o promotor Alexandre Murilo Graça, titular da 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada da Capital, do MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro), ofereceu denúncia apenas contra sete servidores e ex-funcionários de Carlos Bolsonaro (PL-RJ), mas excluiu o vereador causou perplexidade em integrantes da promotoria e do Tribunal de Justiça do Rio que acompanharam o caso ao longo dos últimos cinco anos.
Carlos era investigado como líder de uma organização criminosa que funcionou dentro do gabinete dele e que obrigava os servidores, que não trabalhavam, a devolver a maior parte de seus salários. A investigação foi instaurada em 2019 após uma reportagem da revista Época revelar até áudios de confissões de ex-servidores de Carlos sobre o esquema.
Desde 2019, o caso tramitou por diversas instâncias dentro do MP do Rio, o promotor Alexandre Murilo Graça atua no caso desde 2021. A coluna conversou com diferentes fontes que acompanharam as investigações desde 2019.
Uma dessas pessoas escreveu à coluna: “Não é possível. Estou estarrecido” e completou: “Tem coisa que desafia demais a inteligência”. Outro comentário, de um servidor público que teve contato com os autos, inclusive dados financeiros, foi: “Isso é brincadeira. Não me surpreendo se a denúncia estiver inepta”. Isso ocorre quando não atende aos requisitos básicos de clareza e objetividade, tornando-se incompreensível. A opção da denúncia apenas pelos servidores também foi descrita como “inaceitável”.
O promotor Alexandre Murilo Graça optou por denunciar Jorge Luiz Fernandes, que exerce o cargo de chefe de gabinete do vereador, e junto com ele, outros seis servidores. De acordo com a investigação, o grupo era composto por Juciara da Conceição Raimundo da Cunha, Alexander Florindo Baptista Junior, Thiago Medeiros da Silva, José Francisco dos Santos, Andrea Cristina da Cruz Martins e Regina Célia Sobral Fernandes, além de Jorge Fernandes. Todos os envolvidos foram nomeados para cargos de assessoria no gabinete de Carlos Bolsonaro durante o período investigado.
Investigação sobre Carlos arquivada
O MPRJ informou que o denunciado Jorge Fernandes, utilizando sua influência e proximidade com a “família Bolsonaro”, conseguiu a nomeação dos demais acusados, que repassavam parte de seus vencimentos a ele. O esquema teria resultado em um desvio de pelo menos R$ 1,7 milhão. A denúncia destaca que Jorge Fernandes era o líder do grupo e que utilizava uma conta bancária específica para gerenciar os valores desviados.
A investigação sobre Carlos foi arquivada. O MP do Rio afirmou na denúncia que “as provas produzidas somente conseguiram demonstrar o fluxo financeiro entre esses denunciados”. No entanto, o promotor ignorou pagamentos feitos por Jorge Fernandes até para Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro no período investigado.
Em julho deste ano, a coluna revelou que, durante a análise bancária do vereador e de seus funcionários, a promotoria verificou que Fernandes pagou sistematicamente boletos de despesas de Carlos, como faturas de cartão de crédito, plano de saúde, impostos e multas de trânsito.
Foram encontrados 23 contas do vereador e de pessoas ligadas a ele pagas por Fernandes entre 2012 e 2019, que somam um total R$ 27.929,66. Ao mesmo tempo, só foi identificado uma transferência online de R$ 8 mil de Carlos para Jorge em dezembro de 2011. O Laboratório de Combate à Lavagem de Dinheiro e Corrupção do MP-RJ analisou por amostragem esse tipo de movimentação financeira — sorteando aleatoriamente um número de documentos. Isso significa que o número pode ser ainda superior.
O caso segue agora para apreciação na 1ª Vara Criminal Especializada da Comarca da Capital do Rio de Janeiro, onde os acusados serão ouvidos para apresentar defesa.
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