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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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Fake do PIX: ao vencedor, o purê da hipocrisia

Lorota da extrema direita colou com superbonder no imaginário popular, não havia mago da comunicação que desse jeito; melhor estancar prejuízo político
16/01/2025 | 09h36

Lutar contra fake news é a luta mais vã, no entanto lutamos, mal rompe a manhã.

Começo com uma paródia de um poema do Drummond, só pra gente aliviar um pouco a angústia do noticiário da semana. Também achava, no calor da hora, que o governo Lula não deveria recuar do ato burocrático da Receita Federal que previa a normalíssima fiscalização sobre movimentações financeiras, incluindo o PIX. Achava.

Acontece que a fake grudou com superbonder na cabeça e no imaginário brasileiro. Andavam falando alto pelos botecos, pelos mercados populares, em torno dos carrinhos de pipoca, nos camelódromos, lojas e até o moço do milho da Consolação recusou meu pagamento de sempre (via PIX) com medo de ser taxado. Melhor seria ter investido no meu próprio pé de milho, como fez o colega Rubem Braga no seu apê na Júlio de Castilhos, na Copacabana das antigas.

Lírico milharal à parte, a coisa chegou a um ponto que não havia mago da comunicação capaz de desmentir mais a lorota do PIX. Calma, isso acontece até nas melhores famílias inglesas. Pior é que é verdade: uma fake, com um empurrãozinho das big techs, deu no Brexit, a saída do Reino Unido da Comunidade Econômica Europeia. É uma desgraça, mas acontece.

Ingenuamente, achava que a vida prática e real desmentiria a lorota da extrema direita. Como desmentiu, por exemplo, o boato de que Lula fecharia as igrejas evangélicas. O tempo resolveu naturalmente, como um dízimo moderno no PIX. Simples, simples.

O extrato para simples conferência, no entanto, não foi o suficiente para que os comerciantes acreditassem na equipe do ministro Fernando Haddad. A fake falou mais alto: a taxa, o imposto, vem depois.

Quanto mais as autoridades da Receita respondiam, didaticamente, as dúvidas dos telespectadores, mais o fermento da mentira inflava o bolo da confusão. O bololô ficou gigante, incontornável.

Tem que regular, na lei, as big techs. Tem que investigar os autores da fake news, tem. Tem tudo isso aí que está no noticiário. Tem muito a ser feito na comunicação do governo, óbvio ululante. Só tem. Não falta o que ser feito.

Não poderia, porém, esperar a erosão total da popularidade do presidente, em nome da verdade absoluta. Infelizmente, política nunca é sobre esse valor de face.

Não havia outro jeito para Lula e o ministro Haddad, sob o risco de rifar a reeleição por causa de um ato normativo da Receita.

“Ah, eles vão comemorar, passar na nossa cara, dizer que ganharam a parada”. Sim, isso é chato, mas ainda tem muito jogo (bruto) pela frente. A grande guerra nem começou ainda.

Aos vencedores, não as batatas, mas o frio purê da hipocrisia — como diria um Quincas Borba versão 2025.

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