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Vivian Mesquita

Apresentadora, Repórter e Editora Chefe Executiva com passagens pela Editora Abril, Rede Globo e Canais ESPN Disney. Especialista em esportes de ação em mercado mundial. Profissional com formação consolidada na área de mídia e conteúdo esportivo, com mais de 20 anos de experiência em TV. Relacionamento sólido com a comunidade criativa local, produtoras, talentos, atletas, marcas e mídia. Habilidades em gestão de equipes, processos organizacionais e comunicação. Apresentadora do ICL Notícias - 1ª Edição.

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Fazer análise deixa alguém mais inteligente?

O óbvio só é óbvio depois
13/09/2024 | 06h33

A reflexão é da psicanalista e escritora Ana Suy — de quem sou fã. Ela comenta num post de Instagram, de agosto deste ano, que frequentemente a neurose atende pelo nome de burrice, dedo podre e até mesmo mercúrio retrógrado! É uma delícia ler e ouvi-la.

O que ela explica é que quando estamos em análise, o que descobrimos sobre nós mesmos são sutilezas, coisas que não parecem nada demais, mas que depois de sabidas, ficam até óbvias. O caso é que o óbvio só é óbvio depois. Temos a tendência de descartar as coisas pequenas, mas cuidado, elas podem ser as mais valiosas.

O recente caso da suposta importunação e assédio sexual atribuído ao agora ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, contra a ministra da Igualdade Racial Anielle Franco e outras mulheres, desestabilizou o campo progressista. Aqui uma explicação: eu digo “suposta” porque foi aberta uma investigação e há apurações sendo feitas, isso é importante, e eu também me solidarizo a Anielle.

Mas eu queria mesmo é falar das sutilezas, daquilo que é da ordem do inconsciente e que a gente só entende se mergulhar mais profundamente. Eu já sofri importunação e assédio sexual, conheço o sentimento por experiência, aliás, acho difícil encontrar uma mulher que não tenha ao menos um caso pessoal para contar.

O que acontece é que às vezes a gente leva meses e até anos para assimilar que sofreu uma violência. O óbvio só é óbvio depois. Homens não conseguem entender a sutileza dessa fronteira porque não experimentam uma existência com raízes na servidão. Mulheres não são livres. Forçar um contato íntimo ou acessar qualquer parte do corpo sem consentimento simplesmente não pode. E não pode sempre, não é de hoje. Esse tema precisa ser tratado com responsabilidade, sem lacração.  O linchamento digital também não protege mulheres.

Eu trouxe a reflexão da Ana Suy sobre o processo analítico porque o caso da Anielle, agora que compreendo melhor as minhas sutilezas, me levou para lugares escuros que eu ainda não quero visitar. Assim como eu acho que ela, Anielle, está diante de uma carga pesadíssima para carregar. Essa não é uma situação fácil para ninguém, mas é importante admitir que a balança ficou mais pesada para o nosso campo. Todos perdemos.

Aqui acho que vale um pouco do que ensinamos para os nossos filhos quando eles ainda não conseguem expressar sentimentos em palavras. Se você está passando por uma situação incômoda de alguma forma, ainda que você não tenha a exata clareza do que é, fuja. O óbvio só é óbvio depois.

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