Por Carolina Bataier — Brasil de Fato
O desmatamento no Cerrado caiu em 2024 e a maior parte da devastação segue concentrada no Matopiba, área de expansão da fronteira agrícola, que abrange o Tocantins e parte de Maranhão, Piauí e Bahia. Os dez municípios mais desmatados no ano passado estão localizados nessa faixa.
Os dados, divulgados nesta quinta-feira (6) pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (Sad Cerrado), indicam que, em 2024, o desmatamento no bioma atingiu 712 mil hectares, área maior que o Distrito Federal. Isso representa uma queda de 33% em relação a 2023. Do total da área desmatada, 78%, ou cerca de 555 mil hectares, está dentro de propriedades particulares.
“Apesar da redução, a área total desmatada segue nos patamares elevados quando comparamos com a série histórica e também com o desmatamento em outros biomas, como a Amazônia”, avalia Fernanda Ribeiro, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e coordenadora do SAD Cerrado.
De acordo com informações do Ipam, cerca de 62% da vegetação nativa do Cerrado está dentro de propriedades rurais submetidas às regras do Código Florestal Brasileiro, que permite o desmatamento de 80% da área total das propriedades fora da Amazônia Legal.
“Apesar do respaldo legal, o desmatamento de áreas privadas traz riscos tanto para a biodiversidade do bioma quanto para as próprias propriedades, que passam a sofrer com secas mais severas e clima mais extremo”, informa a nota emitida pelo Ipam.
Depois das áreas privadas, os vazios fundiários — zonas sem proprietários ou mecanismos de governança definidos — são a segunda categoria fundiária mais desmatada, correspondendo a cerca de 10% dos alertas de desmatamento ou 70 mil hectares de vegetação nativa.
Nas unidades de conservação, que são áreas protegidas pelos estados ou pelo governo federal, a área desmatada corresponde a 5,6% do desmatamento do Cerrado, totalizando 39 mil hectares suprimidos. Nesta categorias, as principais áreas atingidas também foram aquelas localizadas no Matopiba, como a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, que perdeu 12 mil hectares para o desmatamento, e o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, que teve 6,7 mil hectares destruídos.
Cerrado: municípios mais desmatados
Os municípios vizinhos de Balsas (MA), Alto Parnaíba (MA), Mateiros (TO) e Ponte Alta do Tocantins (TO) são os quatro primeiros da lista com maior desmatamento registrado em 2024, totalizando 61 mil hectares desmatados, cerca de 10% da área desmatada no Matopiba.
Balsas lidera a lista e tem 35% do território ocupado por atividades agropecuárias, com destaque para plantio de soja. São mais de 269 mil hectares destinados ao cultivo do grão e quase 65 mil hectares cobertos por pastagem.

Bioma registrou queda de 33% na devastação em 2024; 78% do desmatamento ocorreu dentro de propriedades particulares
O município vizinho de Alto Parnaíba, que ocupa a segunda posição na lista, desmatou 16,6 mil hectares, 29% a menos do que no período anterior. No Tocantins, Ponte Alta aumentou seu desmatamento em 61%, perdendo 15 mil hectares de vegetação nativa, enquanto Mateiros diminuiu 5,7% e chegou a 11,5 hectares derrubados.
O quinto município com mais desmatamento do bioma é São Desidério (BA), que em 2023 foi o mais desmatado. Em 2024, o município perdeu 12,5 mil hectares de vegetação nativa, uma redução de 65% em relação ao ano anterior.
Em todo o Matopiba, 34% da área é ocupada por atividades agropecuárias, com destaque para as pastagens, que dominam mais de 15 milhões de hectares, e as plantações de soja, que ultrapassam 4 milhões de hectares.
A região é também a maior emissora de gás carbônico (CO₂), o principal gás causador do aquecimento global. De janeiro de 2023 a julho de 2024, o desmatamento no Cerrado brasileiro emitiu 135 milhões de toneladas de CO₂, quantidade superior às emissões do setor industrial no Brasil. 80% dessas emissões vieram do Matopiba.
Pergunte ao Chat ICL
Relacionados
Somente 15% dos frigoríficos do Cerrado participam de pacto de combate ao desmatamento
Relatório avalia resultados após um ano de implementação de protocolo de mapeamento do gado para proteção do bioma
Escola infantil resiste contra instalação de termelétrica no coração do cerrado no DF
Termelétrica na periferia do DF será facilitada por novo licenciamento ambiental, mas tem um obstáculo: uma escola rural
Mato Grosso tem maioria dos municípios entre os que mais desmatam a Amazônia
Estado concentra localidades que ficaram de fora de programa federal de redução da devastação