Por Gabriela Moncau — Brasil de Fato
A Fundação Nacional dos Indígenas (Funai) está proibida de prestar assistência, com a entrega de suprimentos, alimentos e água, para indígenas Ava Guarani que estão sob cerco de fazendeiros nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Paraná. A determinação do juiz João Paulo Nery dos Passos Martins, da 2ª Vara Federal de Umuarama, foi publicada nesta terça-feira (23). A Funai informou que vai recorrer.
Esta é a nona decisão do mesmo desembargador que desfavorece os indígenas apenas nos últimos seis dias. No último dia 5 de julho, os Ava Guarani retomaram parte da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavira, sobre o qual está a Fazenda Roda D’água, da família Ferraz Braga.
Sobreposta por cerca de 165 fazendas, a TI está delimitada desde 2018 pela Funai. A continuidade do processo demarcatório, no entanto, está suspensa por um pedido das prefeituras de Guaíra e Terra Roxa acatado pela Justiça Federal em primeira instância.

No último sábado (20), fogo foi ateado em parte da área retomada pelos Ava Guarani no oeste do Paraná (Foto: CGY)
Ataque aos indígenas
Cansados de esperar a demarcação, os indígenas ocuparam parte da área no início deste mês e, desde então, são alvo de incêndios e ameaças por parte de produtores rurais da região.
O reforço do policiamento, o envio da Força Nacional e a visita de uma comitiva do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) não estão sendo suficientes para fazer a tensão arrefecer, de acordo com indígenas ouvidos pelo Brasil de Fato.
Segundo a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), organização que articula comunidades Guarani do Sul e do Sudeste, nesta quarta-feira (24) homens destruíram o plantio de mudas feito pelos indígenas na retomada.
Para a CGY, a pressão sobre o povo Ava Guarani no oeste do Paraná escala a cada nova decisão judicial. Foram nove até agora: seis reintegrações de posse e três interditos proibitórios.
As ordens de despejo, impetradas por Idelma Triches, as famílias Rodolfo Ferreira, Samara e Rubert, são contra as comunidades Y’vohy, Guasu Guavirá e Yvayju Avary e têm os dias 29 e 30 de julho como prazos finais antes da remoção forçada.
“Essas determinações de reintegração de posse expedidas pela Vara Federal de Umuarama expõe as comunidades a risco de expulsões violentas e extrapola os limites do conflito, ao propor, em todas as decisões, uma intervenção indevida na questão da aquisição de terras por Itaipu Binacional, e a clara intenção de deixar os Ava Guarani em situação de extrema vulnerabilidade e insegurança alimentar”, ressalta a CGY.
A organização indígena se refere ao fato de que parte do território tradicional dos Ava Guarani foi submerso pela instalação da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Em algumas de suas decisões, o juiz João Paulo Nery dos Passos Martins proíbe que a Itaipu negocie a compra de terrenos de fazendas para a promoção de reparação territorial aos indígenas.
Nesta quarta (24), o desembargador impôs o interdito proibitório que impede o suporte da Funai às comunidades a pedido, entre outros de mesmo sobrenome, do fazendeiro Carlos Ferraz Braga.
“Em que pese a missão institucional da Funai de prestar assistência às comunidades indígenas e se garantir o mínimo existencial”, afirma o desembargador, após citar as ordens de despejo por ele determinadas, “cumpre observar que a Funai tem dever de colaborar com a execução das decisões judiciais e, em especial, estimular o cumprimento voluntário como forma de prevenir a desocupação forçada”.
SAIBA MAIS:
Empresa vende lotes de território indígena como NFTs sem conhecimento da Funai
Povos indígenas: vítimas de mais de 1,2 mil violações patrimoniais e 200 assassinatos em 2023
Relacionados
O que explica o aumento dos processos na Justiça do Trabalho?
Fim da sucumbência faz com que demandas judiciais criadas pela reforma trabalhista cresçam no país
Coaf aponta que esposa de desembargador do TRF-1 recebeu R$ 938 mil de alvo da PF, diz site
Informações estão nas investigações sobre um suposto esquema de venda de decisões judiciais liderado pelo lobista Andreson de Oliveira Gonçalves
Justiça aceita denúncia de Neymar contra Luana Piovani por injúria e difamação
Treta ocorreu em 2024 por causa do projeto de privatização das praias brasileiras