A greve anunciada pelos ferroviários de São Paulo está marcada para começar à meia-noite do dia 26 de março (de terça para quarta-feira) contra a privatização das linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O Sindicato dos Trabalhadores de Empresas Rodoviárias da Zona Central do Brasil informou que, depois de uma assembleia na noite de quinta-feira (20), ficou clara a “necessidade de intensificar a luta”.
O leilão das três linhas de trem por parte do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) está marcado para esta semana. A gestão, que já privatizou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), pretende agora efetivar uma concessão de 25 anos para a linha privada, com previsão de investimentos de R$14,3 bilhões.
Em entrevista ao ICL Notícias, o ferroviário e militante do Movimento Luta de Classes, Vanderlei Rolim Rosa, disse que a greve foi motivada pela falta de diálogo com o governo de São Paulo. Segundo ele, mais de 4 mil empregos podem ser encerrados com a privatização e a população ainda deve pagar mais caro por um serviço precarizado. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Com o objetivo de impedir a venda para a iniciativa privada, os ferroviários aprovaram a formação de um comando de greve e uma manifestação em frente à bolsa de valores B3 na terça-feira (25) às 9h. A decisão dos trabalhadores é de manter a greve até que haja uma garantia por escrito do governador Tarcísio de cancelamento do leilão.
Em janeiro deste ano, o Ministério Público de São Paulo instaurou um inquérito civil para investigar a concessionária por irregularidades na operação de 35 trens. O sistema vem relatando constantes falhas e acidentes nas linhas privatizadas. Ofícios foram enviados para a ViaMobilidade, a CPTM e a Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI), pasta do governo estadual responsável pelo leilão agendado para a próxima semana.
As linhas que a gestão Tarcísio pretende privatizar conectam o centro de São Paulo com a Zona Leste e cidades da região metropolitana, entre as quais Mogi das Cruzes, Suzano e Guarulhos. Cerca de 4,6 milhões de pessoas vivem nos territórios atendidos por estas linhas. De acordo com a SPI, três grupos demonstraram interesse no empreendimento. Os ferroviários não aprovaram.
Entrevista com Vanderlei Rolim Rosa sobre a greve em SP
1. Qual foi a motivação da greve?
A greve foi motivada pela falta de diálogo do governo de São Paulo, liderado por Tarcísio de Freitas, com a população e os trabalhadores ferroviários. Mais de 4 mil empregos estão na linha com essa privatização, famílias inteiras que estão para perder sua fonte de renda, sem contar os passageiros (que também inclui a nós, ferroviários) que passarão a pagar mais caro por um serviço precarizado. Nós não vamos deixar.
Privatizar as linhas 11, 12 e 13, resultará em demissões em massa. A greve busca impedir o leilão e defender os empregos com o lema “Greve Geral contra as Privatizações, em Defesa dos Empregos”.
2. Quais os principais problemas da privatização?
As privatizações são um grande erro para o Brasil e para o estado de São Paulo. Elas só beneficiam os muitos ricos, a burguesia. A gente vê isso de forma clara em vários aspectos. Quando o governo vende empresas estatais essenciais como a Sabesp, Metrô ou busca privatizar escolas, rodovias, parques e outros, o resultado imediato é que os serviços se tornam mais caros e menos acessíveis para a população. Isso afeta principalmente as pessoas de baixa renda, que são as mais dependentes de serviços públicos de qualidade. E não é só isso, a privatização aumenta as desigualdades sociais. As empresas privadas têm um único objetivo: lucro. E elas vão investir onde o retorno é maior.
3. Quais os prejuízos disso para os usuários?
O impacto mais duradouro será a demissão em massa dos trabalhadores e a piora nos serviços com a privatização. A greve é uma luta para garantir transporte público de qualidade para todos.
4. Quais as possibilidades de reverter esse processo?
A greve acredita plenamente na reversão do processo. Exigimos que o governo cancele o leilão e realize um plebiscito oficial. A população é contra as privatizações e tem o direito de decidir sobre o futuro dos serviços públicos.
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