Passado o Oscar e a premiação do filme brasileiro “Ainda estou aqui”, podemos apontar com base nas redes sociais que o filme foi um elemento aglutinador de usuários como não era possível observar há muito tempo.
Em um cenário onde temas analisados geraram picos de menções que não ultrapassaram o volume de 21 mil ocorrências por hora, os nomes de Fernanda Torres e “Ainda estou aqui” foram verdadeiras catarses nas redes sociais. Entre 00h e 01h do dia 03/03, foram geradas mais de 1 milhão de ocorrências apenas em português no X (antigo Twitter). Em comparação, nem mesmo Donald Trump conseguiu tal proeza no período: seu pico de menções máximo foi de 721 mil ocorrências/hora (mesmo em todas as línguas).

O pico de menções gerado pelo filme “Ainda estou aqui” no Brasil foi extraordinário até mesmo se comparado com outros temas, como as menções ao presidente Lula e Jair Bolsonaro
O perfil do usuário que se engajou com o debate sobre o Oscar, a atriz e o filme é completamente distinto do observado em temas ligados à política. Ao analisarmos a bios dos usuários se destacam termos como FAN, AMO, FLAMENGO, LIVROS, CORINTHIANS, MUNDO, SÉRIES, PERFIL, TAYLOR, KPOP, CORAÇÃO, GOSTO, BTS, entre outros.

Termos mais presentes na bios dos usuários que citaram o filme
Em comparação, no mesmo período, os termos que se destacam nas menções ao presidente Lula ou Bolsonaro são DEUS, FAMÍLIA, CONSERVADOR, PATRIOTA, ESQUERDA, LULA, AMO, LIBERDADE, PAI, PÁTRIA, BOLSONARO e CRISTÃO, por exemplo.

Termos mais presentes na bios dos usuários que citaram o Lula ou Bolsonaro
Para além da premiação e do buzz gerado pelo filme nas redes sociais, o principal ponto a ser analisado aqui foi o caráter viral do longa-metragem. O apelo midiático permitiu que a temática política de denúncia contra a ditadura militar e em defesa das famílias de desaparecidos políticos pudesse extrapolar o debate polarizado nas redes sociais ao longo dos últimos meses. Essa conquista é uma das maiores vitórias do filme, principalmente quando consideramos o cenário tão polarizado e até mesmo de certa ojeriza a temas políticos por parte de clusters não-polarizados.
O filme “Ainda estou aqui” é sem dúvida um exemplo de “Frente Ampla” para o Brasil, nas ruas e nas redes. Sob a perspectiva das redes sociais, o Oscar tem seu inegável peso, mas a capacidade de transformar o debate sobre desaparecidos políticos durante a ditadura militar em uma pauta viral e de unidade nacional é de fato o feito mais impressionante de todos.
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Jornal pertence ao mesmo grupo empresarial da Globoplay, que produziu o filme de Walter Salles