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‘Justiça é falha’, critica viúva de músico fuzilado, após primeiros votos no tribunal militar

Luciana Nogueira dos Santos questiona da redução das penas proposta por ministro do STM. Julgamento foi adiado
05/03/2024 | 06h00

Por Luiz Almeida

“Essa decisão demonstra que a Justiça é falha. É lamentável”. O desabafo é da enfermeira Luciana dos Santos Nogueira, viúva do músico Evaldo dos Santos Rosa, assassinado, em abril de 2019, com mais de 60 tiros de fuzil, por militares que patrulhavam uma rua de Guadalupe, bairro na zona norte do Rio de Janeiro. Ela se refere aos primeiros votos no julgamento dos homens do Exército que atiraram em seu marido.

Na última quinta-feira (29), o ministro Carlos Augusto Amaral de Oliveira, do Superior Tribunal Militar (STM), votou pela redução das penas que tinha sido estabelecidas em 2021. Oliveira votou para que o tenente Ítalo da Silva Nunes Romualdo, que comandava a ação e havia sido condenado a 31 anos de prisão, tenha pena reduzida para  3 anos, dez meses e 24 dias. Já as penas dos outros sete militares passariam de 28 anos para três anos, dois meses e 12 dias.

“A Justiça, infelizmente, ainda não foi feita. É uma sensação de impotência muito grande e isso é muito ruim. Eu esperava que o STM fosse dar uma resposta, mas não aconteceu. Ficamos de mãos atadas, porque são militares sendo julgados por um tribunal militar”, reclama Luciana.

Sem justiça

Como argumento, o ministro Carlos Augusto Amaral de Oliveira fez uso de um vídeo do momento em que os militares ainda estavam trocando tiros com um assaltante próximo de onde estavam o músico e sua família. Por este motivo, o ministro entendeu que os militares teriam reagido em legítima defesa.

Oliveira entendeu que os soldados não tiveram intenção de matar Evaldo, e por isso o ato foi culposo.

“Eles vieram para matar, sim. Foram 257 tiros. Não pediram nem mesmo para a gente parar, não nos abordaram. Atiraram mesmo para matar. Foi uma barbaridade o que fizeram”, rebate a enfermeira.

Adiamento

O voto do ministro Carlos Augusto Amaral de Oliveira foi seguido na íntegra pelo ministro revisor do caso, José Coêlho Ferreira. O julgamento, no entanto, foi suspenso. A ministra Maria Elizabeth Teixeira fez pedido de vista. A sentença só será definida após os votos dos 15 ministros da Corte.

“Todos esses adiamentos só nos trazem mais tristeza. É voltar ao passado, voltar ao 7 de abril de 2019. Eles não sabem o quanto isso interfere na nossa vida, na vida do meu filho. Estamos há quase cinco anos sem resposta da Justiça”, critica Luciana.

Execução

No dia 7 de abril de 2019, Evaldo dos Santos Rosa, esposa Luciana Nogueira dos Santos, o filho do casal de cinco e o avô materno da criança passavam pela Estrada do Camboatá, em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro, quando o carro da família foi alvejado por mais de 257 tiros de fuzil disparados por militares do Exército.

Baleado, Evaldo dos Santos não resistiu e morreu no local — o pai de Luciana também foi atingido, mas conseguiu sobreviver. O catador de materiais recicláveis Luciano Macedo tentou socorrer Evaldo, mas foi fuzilado pelos militares e também morreu.

 

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