O presidente Lula orientou todos os integrantes da equipe do governo para que não façam atos ou produzam material para marcar os 60 anos do golpe militar. O receio do presidente é criar novas resistências na caserna, área com que tem relação muito delicada. Nos últimos dias, Lula tem feito esforço pessoal para tentar impedir manifestações desse tipo.
Apesar da orientação do petista, vários grupos de militantes políticos estão marcando atos para lembrar a data.e repudiar o que aconteceu no Brail em 1964. Em uma dessas manifestações, dezenas de entidades, grupos de militantes e ativistas políticos, parlamentares, prefeituras, sindicalistas e profissionais diversos estarão integrando a Marcha da Democracia que, no dia 1º de abril.
Uma das parlamentares que estarão na marcha é a deputada estadual fluminense Marina do MST, que é petista. “É papel dos movimentos sociais ocupar as ruas e defender as nossas pautas históricas. E a reparação dos crimes da ditadura é uma delas”, afirmou Marina, ao ICL Notícias. “Não podemos nos acomodar pelo fato do Lula ter sido eleito. Lembrar a ditadura é a melhor maneira de evitar que aqueles pesadelos nos assombrem novamente. São muitos. O da censura, da tortura, da mordaça, da fome, da hiperinflação, da corrupção sem investigação”.
Uma das organizadoras é Nadine Borges, doutora em Sociologia e Direito e atualmente secretária de Direitos Humanos e Cidadania em Niterói. Ela também não concorda com a orientação de Lula.
“Pode ser uma estratégia dele pra não atritar com as Forças Armadas agora e avançar na investigação do 8 de Janeiro, mas a outra opção é ele estar fazendo o que sempre fez: nunca enfrentou esse tema”, avalia Nadine. “Dilma enfrentou e sofreu um impeachment. Nos 60 anos do golpe é nosso dever organizar o povo na rua, com ou sem governo apoiando.Nos acomodamos com os governos e recuamos na luta”.
As caravanas que partirão do Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e região da Zona da Mata Mineira se encontrarão com a família do ex-presidente João Goulart e outros familiares de personagens que fizeram a história da resistência democrática naquela época, num grande ato em praça pública na cidade mineira de Juiz de Fora, às 16h.
Também o coordenador da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bonfim, confirmou que a agenda de atos em defesa da democracia, prevista para março, está mantida.
“Estaremos organizando atos no dia 23 para marcar o 60 anos de golpe, defender a democracia e que não haja anistia e para os golpistas”, disse Bonfim, ao ICL Notícias.
Sentido inverso à marcha do golpe
Os quase 180 quilômetros que separam o Rio de Juiz de Fora serão percorridos na marcha reversa da que o então general Mourão Filho fez na madrugada do 01 de abril de 1964 com destino ao Rio de Janeiro. A viagem terá início às 8h da manhã do dia 01 de abril, na Cinelândia, palco das grandes manifestações políticas do Rio, quando haverá um evento e terá duas paradas simbólicas: uma em Petrópolis e outra na ponte da antiga divisa dos estados de Minas e Rio de Janeiro.
Em Juiz de Fora, estão previstas atividades que começarão pela manhã, com a abertura do II Seminário Nacional de Jornalismo ABI/FACOM/UFJF e prosseguirão à tarde com a entrega pela Universidade Federal de Juiz de Fora do título de Doutor Honoris Causa, pós-morte, ao ex-presidente João Goulart, seguida de uma marcha até a Praça Antônio Carlos, no Centro da Cidade, onde já estarão se apresentando grupos artísticos e culturais à espera do encontro das caravanas que virão do Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e região da Zona da Mata Mineira.
A proposta do coletivo de entidades que organiza a marcha reversa é lembrar o que foi o golpe, suas consequências durante mais de duas décadas de ditadura e dar uma resposta firme aos que ainda hoje insistem em tentar derrubar a democracia brasileira, construída com muita luta e resistência, como foi no episódio do 08 de janeiro de 2023.
Duas paradas
Na programação dos atos para lembrar os 60 anos do golpe, haverá ainda no dia 13 de março um grande evento da Associação Brasileira de Imprensa – ABI, no Rio de Janeiro, quando a sede da entidade vai reproduzir o ambiente do comício feito por João Goulart no dia 13 de março de 1964.
A Marcha da Democracia fará duas paradas para atos simbólicos em memória aos mais de 50 mil perseguidos políticos dos 21 anos da ditadura. A primeira será em frente ao “Quitandinha”, na entrada de Petrópolis. Naquela cidade serrana está localizada a chamada Casa da Morte, um dos maiores centros de tortura de pessoas executadas e desaparecidas, descoberta a partir do movimento pela anistia e graças à persistência e luta da única sobrevivente do lugar, Inês Etienne Romeu (1942–2015). O prédio será tombado pelo patrimônio histórico e, ali, será instalado um Centro de Memória.
A segunda parada será sobre a ponte do Rio Paraibuna, na antiga divisa do Rio com Minas Gerais, nos municípios de Levy Gasparian (RJ) e Simão Pereira (MG). Naquele fatídico abril de 64, as estruturas da ponte foram preenchidas com dinamites pelas tropas do general Mourão, para inibir qualquer reação ao golpe. Nesta revisita ao local, haverá um ato em defesa da democracia e da paz, com a participação de estudantes da região.
Na terceira etapa, às 16 horas, quando todos se encontrarão na Praça Antônio Carlos em Juiz de Fora.
Participam da organização do evento do dia 01 de abril a Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, representantes das vítimas da ditadura, partidos políticos, sindicatos, o MST, a ABI, o CDDH de Petrópolis, as(os) deputadas(os) federal Reimont (PT/RJ), Ana Pimentel (PT/MG), as(os) deputadas(os) estaduais Marina do MST (PT/RJ), Dani Balbi (PC do B/RJ), Yuri Moura (PSOL/RJ), o Levante Popular da Juventude, as Prefeituras de Juiz de Fora (Margarida Salomão/PT), Petrópolis (Rubens Bomtempo/PSB) e Levy Gasparian (Claudio Manarino/MDB), a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), as secretarias estaduais e municipais.
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