Sem querer ser estraga prazeres ou jogar água no seu chope, a situação por aqui está embaçada. Quando encontrar o camarada Thomas Münzer, lhe agradeça a coragem de te contrariar. Caso tivesse prestado atenção na pregação dele, talvez não tivéssemos este ethos.
Aquela conversa de livre exame da Bíblia remete à importância da invenção da imprensa no seu tempo. Aqui no Brasil, 24,8% das rádios FM´s nas capitais são controladas por igrejas que mantêm conluios políticos. Ao que me consta, nenhuma luterana. Nessa polifonia radiofônica gospel, impossível ouvir tudo e reter o que for bom.
O sacro comércio que você combateu, para funcionar dependia dos discursos que geravam culpa e medo. Venda de indulgências, leilão de relíquias bentas e loteamento de locais sagrados faziam parte do pacote. Os seus paroquianos preferenciais, Lutero, prosperaram economicamente, assumiram o poder político do Estado Moderno e remuneraram adequadamente os teólogos e pastores. As antigas fórmulas não funcionam neste estágio avançado do capitalismo. Por aqui, arrecadações vultosas são obtidas com discurso de ódio, em nome de Deus.
Jesus expulsou os cambistas e empurrou as suas barracas. Eles se reergueram e se reinventaram. Mudaram os métodos sem comprometer o lucro. A tal da “inovação destruidora” tem muito a ver com os cambistas da fé.
A ideia de construir escolas contíguas aos templos foi algo divino. Impossível mensurar o tamanho dos benefícios dessa revolução escolar promovida pela Reforma Protestante. Na atualidade brasileira, alguns obreiros resolveram inovar e participar de um tipo de mutirão de “gente do bem” para construir clubes de tiro. Impossível mensurar o custo disso para as próximas gerações nas igrejas entrincheiradas e com liturgias militarizadas.
Estando com Calvino, transmita minhas estimas. Convenhamos, impossível crer que Deus tenha escolhido quem se vende como eleito. Estou fora do debate que busca na Bíblia algum argumento para justificar a danação eterna de uns e a salvação de outros. Na boa, Lutero, sem querer ofender, tenho sido mais abençoado na convivência com os ditos danadinhos do que na sacralidade com os que se autointitulam santinhos. Não consigo imaginar um céu só com gente que reza pela mesma cartilha e canta só no mesmo ritmo.
A despeito das estruturas eclesiásticas do clero insulado, bem à margem, lá na base, encontro expressões genuínas daquela oração emocionada feita por Jesus: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”. A fé vivida em comunidades simples em que o sentido da partilha supera as manias de patrulhamento moral. A melhor parte dessa história não são as estruturas tipo gaiolas de ferro, mas as pessoas arejadas pela brisa do espírito que se fazem mais humanas.
Por uma vertente eclesiológica inspirada no movimento cultural “slow food” (comida lenta). Aqui no Brasil, alguns cultivam a cultura do fogão a lenha. Pode demorar um pouquinho para a comida ficar pronta. Mas o gosto compensa a espera. Enquanto aguardamos no banquinho da cozinha, damos goladas no café e beliscamos broa de milho. O cheiro da lenha queimando é mística afro-indígena que com nossas orações chega as tuas narinas como gratidão. Pudera, Lutero, que nossos templos fossem mais parecidos com cozinhas do que com a sala de estar para receber visitas protocolares. Confesso minha náusea com as igrejas que fazem o tipo “fast food” (comida rápida). Por uma igreja mais devagar e profunda em que as conversas após o culto durem mais que os sermões.
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