Nicolás Maduro promulgou, na noite da última quarta-feira (3), lei que cria a província de Essequibo e torna o território guianense parte da Venezuela. Em resposta, o governo da Guiana informou nesta quinta-feira (4) que não vai permitir a anexação — a região representa dois terços do país e é rico em recursos naturais.
A lei promulgada por Maduro, chamada de “Lei Orgânica para a Defesa de Essequibo” começou a ser discutida pela Assembleia Nacional da Venezuela no fim de 2023. O texto propõe a criação do estado da “Guiana Essequiba”.
Em um referendo, também no final do ano passado, 95% dos eleitores votaram a favor de que o país incorpore Essequibo ao mapa venezuelano.
Lei

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, saúda apoiadores antes de resultado de referendo no país. Foto: Pedro Rances Mattey/ AFP
No texto da lei, fica proibido que apoiadores da posição do governo da Guiana ocupem cargos públicos ou concorram a cargos eletivos. A legislação também proíbe a divulgação do mapa político da Venezuela sem a inclusão do território de Essequibo.
No evento de promulgação da lei, Nicolás Maduro foi ratificado pela Corte Suprema da Venezuela. “O tempo da dominação colonial, o tempo da subordinação na Venezuela acabou para sempre”, disse o presidente.
Maduro afirmou, ainda, que o texto será cumprido ao “pé da letra” e que bases militares secretas do Comando Sul e da Agência de Inteligência dos Estados Unidos foram instaladas em Essequibo, com o objetivo de atacar a Venezuela. A informação é do G1.
Resposta
Em resposta, a Guiana acusou a Venezuela de violar “os princípios mais fundamentais do direito internacional”. Em nota, o governo afirmou que a lei promulgada por Maduro contradiz documento assinado em encontro bilateral com os presidentes dos dois países, em dezembro de 2023, com intermediação do Brasil.
“Neste sentido, o governo da República Cooperativa da Guiana deseja alertar o governo da República Bolivariana da Venezuela, os governos da Comunidade do Caribe e da Comunidade Latino-Americana e Caribenha de Nações, bem como o secretário-geral da Nações Unidas e ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, que não permitirá a anexação, apreensão ou ocupação de qualquer parte do seu território soberano”, informa a nota.
Disputa por Essequibo
A Venezuela e a Guiana disputam há mais de cem anos o controle da região. O conflito, no entanto, escalou no ano passado após a Venezuela realizar um referendo para questionar se os venezuelanos são favoráveis à anexação do território.
A reivindicação da Venezuela se intensificou desde que a ExxonMobil descobriu, em 2015, petróleo em águas disputadas, o que deixa a Guiana com reservas de petróleo comparáveis às do Kuwait e com as maiores reservas per capita do mundo.
O governo brasileiro chegou a tentar intermediar a crise. Em dezembro do ano passado, os presidentes dos dois países se reuniram em São Vicente e Granadinas, país do Caribe, com a presença do assessor da Presidência para Assuntos Internacionais do Brasil, Celso Amorim.
O presidente Lula, após participar como convidado da reunião da cúpula de líderes da Comunidade do Caribe (Caricom), chegou a dizer que é necessário trabalhar para manter “zona de paz” na América do Sul e que “não precisamos de guerra.
Acordo
Guiana e Venezuela, em dezembro do ano passado, assinaram um acordo proibindo ameaças e o uso da força no conflito envolvendo Essequibo. O acordo prevê:
- A resolução de controvérsias de acordo com o que rege o direito internacional.
- O comprometimento em buscar coexistência pacífica e unidade da América Latina e Caribe.
- A ciência sobre a controvérsia envolvendo a fronteira e a decisão do Tribunal Internacional de Justiça sobre o tema.
- A continuidade do diálogo sobre questões pendentes.
- A obrigação em se abster de palavras ou ações que resultem em escalada do conflito.
- Criação de uma comissão conjunta com ministros das Relações Exteriores para tratar questões mutuamente acordadas.
Pergunte ao Chat ICL
Relacionados
Venezuela acusa EUA de sequestrar criança separada de pais deportados
Governo venezuelano pede retorno imediato da criança para a Venezuela
Conheça a técnica usada pelo MST na Venezuela para produzir mais rápido
Modelo Mandala é espaço circular com o plantio de diferentes alimentos; no centro, a produção de proteínas
Familiares pedem justiça para venezuelanos deportados e relatam prisão nos EUA
Venezuelanos foram levados a presídio de segurança máxima em El Salvador acusados de fazerem parte do Trem de Aragua