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Mariana Castro — Brasil de Fato

Sob o lema ‘Ocupar para o Brasil alimentar’, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se organiza em todo o país para ações da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária.

O evento acontece durante o chamado Abril Vermelho e conta com marchas, ocupações, atividades de formação, solidariedade e enfrentamento à concentração de terras no país.

O mês massifica as ações dos movimentos sociais do campo e tem como marco o dia 17 de abril, quando é celebrado o Dia Internacional de Luta Camponesa. O dia relembra os 21 trabalhadores rurais assassinados pela polícia militar no Massacre de Eldorado do Carajás, em 1996, no estado do Pará.

O movimento aponta a reforma agrária como alternativa urgente e necessária para a produção de alimentos saudáveis para a população do campo e da cidade, para combater a fome, e avançar no desenvolvimento do país, no contexto agrário, social, econômico e político.

“A jornada nacional de abril desse ano traz como lema ‘ocupar para o Brasil alimentar’, entendendo que só a reforma agrária é capaz de acabar com a fome no nosso país e apontar a urgência e a necessidade de o Estado brasileiro realizar a reforma agrária”, explica a dirigente nacional do MST, Margarida Maria.

A jornada ganha ainda mais força entre trabalhadores e trabalhadoras considerando que este é o terceiro ano seguido que o governo federal não destina terras para a reforma agrária, intensificando os conflitos no campo, e as desigualdades socais.

“Os trabalhadores do campo e da cidade estarão nesse debate de poder construir uma jornada nacional com várias ações, em todos os estados, para que possamos dialogar com a sociedade que só podemos contribuir no combate à fome se a terra for democratizada para todos e todas que vivem no campo”, complementa Margarida.

No estado do Pará, a jornada tem um caráter ainda mais intenso, com o Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra — Oziel Alves, que todos os anos é erguido na Curva do S, local onde aconteceu o massacre e hoje é Patrimônio Histórico e Cultural do estado.

“Oziel era um jovem de 17 anos na época, brutalmente assassinado pela polícia na Curva do S, então o acampamento carrega hoje o nome de Oziel por trazer esse caráter de juventude, de um jovem rebelde, que não se submetia a esse projeto de morte colocado pelo Estado sobre os povos que lutam pelos seus direitos. Então [é] uma rebeldia, mas uma rebeldia revolucionária”, explica o dirigente da Juventude do MST do Pará, Romario Rodrigues.

Acampamento do MST reúne familiares de mártires do Massacre de Eldorado dos Carajás

Acampamento do MST reúne familiares de mártires do Massacre de Eldorado dos Carajás. Foto: Igo Galvino

Com a presença de familiares das vítimas de Eldorado do Carajás, o acampamento é erguido de 10 a 17 de abril e promete reafirmar a memória de Oziel e de todos e todas que deram a própria vida na luta por uma sociedade mais digna, justa e igualitária.

O acampamento se encerra no 17 de abril com participação de jovens da região Amazônica, convidados de diversos outros estados e apoio internacional da Via Campesina.

Congresso do MST

Com a participação de cerca de 250 jovens, esse ano o encontro tem um caráter formativo para potencializar a organização e participação da juventude no 7º Congresso Nacional do MST, a ser realizado de 15 a 19 de julho em Brasília.

“A gente vai trabalhar várias metodologias, desde filmes, apresentações, falas de sujeitos históricos como Seu Laurindo, Dona Maria, Gouveia, que foram sujeitos que estavam no massacre e até hoje participam com a gente dos nossos acampamentos”, diz Rodrigues.

Além das 21 mortes registradas e internacionalmente reconhecidas, a Polícia Militar do Estado do Pará feriu outros 69 homens e mulheres que estavam na Rodovia PA-150, hoje Rodovia BR-155, enquanto marchavam em reivindicação da desapropriação da fazenda Macaxeira e implementação de uma vasta pauta de reforma agrária na região sul e sudeste do Pará.

Marcados pelo massacre, hoje sobreviventes e militantes do MST seguem lutando por justiça e contra a impunidade, em uma realidade que segue marcada pela violência no campo. Por isso, o movimento busca manter viva a memória do que aconteceu e a necessidade de luta permanente.

“Para que a partir dali a nossa juventude, sobretudo os jovens que estão se inserindo agora, possam saber de fato o que foi o massacre, numa perspectiva de quem realmente participou, do movimento que viveu aquilo, e não pela perspectiva da mídia burguesa que só discrimina o movimento e inclusive coloca a gente como culpado naquele processo, e sabemos que não foi”, finaliza o dirigente da Juventude do MST.

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