Por Igor Carvalho — Brasil de Fato
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denunciou neste domingo (27) o despejo ilegal de cerca de 300 famílias em Dourados (MS), em ação da Polícia Militar (PM) de Mato Grosso do Sul.
A operação contou com a participação da Tropa de Choque e do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), e foi executada sem mandado judicial, em área ocupada no sábado (26) por trabalhadores sem-terra, segundo o movimento. A terra, de propriedade da empresa JBS, estaria improdutiva há mais de 12 anos e é reivindicada para fins de reforma agrária.
Segundo o MST, drones sobrevoaram o local após a ocupação e, no mesmo dia, a polícia fez três investidas no acampamento, informando que uma liminar seria expedida. No entanto, durante a madrugada, sem decisão judicial, a PM fechou a rodovia que dá acesso ao acampamento, isolando as famílias. Mesmo após questionamentos sobre a legalidade da ação, os policiais avançaram contra os ocupantes com balas de borracha e gás lacrimogênio, além de destruir os barracos improvisados, aponta o movimento.
A ocupação é uma ampliação do Acampamento Esperança, onde 270 famílias vivem há dois anos às margens da rodovia MS-379. O MST denuncia que a repressão destruiu também as roças de subsistência já cultivadas pelas famílias e repudia a violência contra o acampamento. Apenas em 2024, a comunidade foi alvo de três incêndios e um ataque de pistoleiros.
Representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) conseguiram acesso ao local após o confronto na tentativa de mediar a situação. As famílias seguem mobilizadas e bloqueiam a rodovia em protesto, exigindo o fim da repressão policial e o assentamento definitivo das famílias acampadas.
Abril Vermelho do MST
A ocupação em Dourados faz parte da Jornada de Lutas pela Reforma Agrária, também conhecida como Abril Vermelho. Desde o início do mês, o MST realizou 30 ocupações em todo o país. Além da ação em Mato Grosso do Sul, o movimento também ocupou neste sábado (26) uma fazenda improdutiva em Arapiraca, no agreste de Alagoas.

Ocupação em Dourados faz parte da Jornada de Lutas pela Reforma Agrária, também conhecida como Abril Vermelho
Em Arapiraca, 300 camponeses montaram barracos de lona em uma área próxima à Vila Bananeira e iniciaram mutirões para preparar o solo para plantio. Segundo Margarida Silva, da coordenação nacional do MST, as famílias foram ameaçadas por homens armados ligados à pistolagem local e ao movimento Invasão Zero, que enviou cerca de 20 caminhonetes com homens armados para intimidar os acampados.
A PM bloqueou temporariamente o acesso ao acampamento e a entrada de alimentos, mas a barreira foi retirada após negociações com representantes do Incra, do governo estadual e de órgãos de segurança. A fazenda ocupada, pertencente ao Grupo Bananeira, está improdutiva desde 2012, segundo o MST.
“Queremos mudar a cara desse local: o que antes era improdutivo, nós queremos diversidade de produção, preservação dos bens da natureza e famílias vivendo com dignidade”, afirmou Margarida Silva.
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