Silas Malafaia está irritado. Em entrevista à coluna de Mônica Bergamo nesta terça-feira (8), o pastor da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo e influenciador político disparou munição pesada contra Pablo Marçal (PRTB), que acusa de tentar dividir a direita e os evangélicos, mas principalmente falou de sua decepção com o senador Magno Malta (PL-ES), com os deputados Marco Feliciano (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A reclamação é basicamente a mesma: apesar de suas orientações e demandas por posicionamento, nenhum deles teria enfrentado o candidato coach derrotado no primeiro turno das eleições municipais em São Paulo. Malafaia diz que por causa da postura “em cima do muro” de Bolsonaro — que apoiou Marçal, depois Ricardo Nunes (MDB), depois voltou a dizer que apoiaria o coach no segundo turno — pastores e rebanhos ficaram confusos, sem saber em quem votar.
“Eu falei para o Bolsonaro: ‘Se esse cara fosse alguma coisa na direita, eu respeitava. Mas ele só tem ganância e ambição. Vai dividir a direita, vai levar metade do voto evangélico. E você está assistindo a tudo isso calado?’ Marçal é uma farsa. Ele não é perigoso para a direita. Ele é perigoso para a nação”, vociferou o pastor à coluna da Folha de S. Paulo e acrescentou que líderes políticos não deveriam ter medo das redes sociais.
Já com a benção do pastor, o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) declarou, durante agenda eleitoral no centro de São Paulo: “No meu palanque não!”, sobre a possibilidade de receber apoio de Pablo Marçal neste segundo turno. Nunes sinalizou, no entanto, que espera receber mais apoio de Bolsonaro, apesar de ter evitado essa aproximação durante a primeira fase da campanha.
Deixou inclusive o ex-presidente de fora de seu discurso de agradecimento após a vitória no primeiro turno. Será mesmo que Nunes vai recusar o apoio de Marçal e a (inacreditavelmente) grande fatia de seu eleitorado? Se fizermos uma rápida análise, promessas e alianças políticas não são assim tão sagradas para a extrema direita ou para a direita radical da qual Nunes faz parte. Basta ver a indecisão do próprio Bolsonaro nesta eleição municipal. Ou quantas vezes o ex-presidente mudou de partido e voltou atrás em ameaças, decisões e declarações: Com relação aos STF, com relação a apoiar ou não a vida política de sua esposa, com relação às vacinas contra a Covid-19, com relação a ter recebido ou não as joias.
Podemos lembrar também do ex-prefeito e ex-governador de São Paulo pelo PSDB João Doria, que durante campanha eleitoral em 2018 tentou emplacar o “BolsoDoria” e, mirando as eleições em 2022, passou a reivindicar o lugar de opositor a Bolsonaro. E, convenhamos, o partido de Ricardo Nunes, ex-PMDB, é famoso por justamente fazer e quebrar alianças de acordo com o momento político do Brasil.
Com a violência e os delírios de Marçal puxando a régua do extremismo, Nunes passou a ser considerado “moderado” mas está longe disso. Enquanto era vereador, fez lobby para anistiar a dívida de templos religiosos e fez campanha para barrar o termo “gênero” do Plano Municipal de Educação, se dizendo contra a “ideologia de gênero”.
Declaradamente de direita, com apoio (que foi buscar) de Bolsonaro, um vice que é coronel da Rota, e se colocando como uma alternativa à fantasiosa ideia de “extrema esquerda” que seria representada por Guilherme Boulos (PSOL), se Nunes ao menos fosse um prefeito competente e popular poderia tentar atrair os eleitores da direita sem alianças com grupos golpistas e não democráticos. Mas não parece ser o caso.
Indignados com a falta de apoio ao candidato coach no primeiro turno, eleitores de Marçal já inundam as redes bolsonaristas ameaçando votar em Boulos no segundo turno só por vingança. Se Nunes e Bolsonaro irão ignorar os marçalistas veremos nos próximos dias. Caso Nunes volte atrás e receba o coach em seu palanque irá desapontar Malafaia, mas surpreenderá ninguém.
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