Como chegamos até aqui? Como um golpe de Estado com plano de assassinato da chapa de um presidente eleito democraticamente é gestado no coração das Forças Armadas? “Isso só foi possível porque, durante os quatro anos do governo Bolsonaro, nós aceitamos naturalizar o absurdo”. A análise é do professor João Cezar de Castro Rocha.
Bolsonaro e os generais Augusto Heleno e Braga Neto estão entre os 37 indiciados esta semana no inquérito da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe que por muito pouco não se concretizou no Brasil nos últimos dois meses de 2022, logo após Lula ser eleito. Não há dúvidas de que flertamos de perto com a possibilidade da abolição do Estado Democrático de Direito. Nesse contexto, talvez nem essa coluna ou a possibilidade dela existiriam.
Não podemos perder a capacidade de nos indignar, mas a lista do que, na prática, já tratamos como natural é imensa, e é por isso que esse indiciamento é tão importante, urgente e tem caráter didático. A Justiça precisa sinalizar que não vamos mais tolerar absurdos na vida pública ou política e nem fake news espalhadas indiscriminadamente nas redes sob o pretexto da liberdade de expressão.
Acampamento de golpistas na frente do QG do Exército em Brasília, quebra-quebra na sede da Polícia Federal, destruição das sedes dos 3 Poderes, é tudo liberdade de expressão, defendem os golpistas.
Batizada de “Punhal Verde e Amarelo”, a operação previa o assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre Moares. Um plano organizado, segundo investigações, por generais e comandantes do Exército, policiais federais, um ex-presidente, membros do primeiro escalão do governo passado e até um padre. São 37 homens que devem responder por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Mas ainda tem gente acreditando que é tudo um plano de comunista para punir velhinhas que foram passear em Brasília e saíram de lá com tornozeleira eletrônica. No Brasil dos absurdos, cuidado, nem tudo que reluz é ouro, mas se for diamante, tudo bem, é presente personalíssimo.
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