ICL Notícias
Lindener Pareto

Professor e Historiador. Mestre e Doutor pela USP. Curador Acadêmico no Instituto Conhecimento Liberta (ICL). Apresentador do “Provocação Histórica", programa semanal de divulgação de História, Cultura e Arte nos canais do ICL.

Colunistas ICL

O ‘eterno retorno’ de Trump

Com a "tarefa" de barrar a ascensão da nova potência mundial, a China, Trump deixa o mundo todo em tensão absoluta
19/01/2025 | 14h17
ouça este conteúdo
00:00 / 00:00
1x

Todos os temores e atenções se voltam ao início da “Nova” Era Trump. Contudo, sabemos que a “nova” é mais velha que a mentira e as fake news que marcam a trajetória do magnata, cuja família lembra, e muito, a série de TV “Succession”, retrato contundente e tragicômico de um magnata bilionário das comunicações e seus filhos, às voltas com a disputa pela sucessão nos negócios, pelo amor bandido do pai e por um cinismo típico das elites do topo do mundo, uma lição cruel e didática de como somos meros joguetes nas mãos dos poderosos.

Com a tarefa de barrar a ascensão da nova potência mundial, a China, Trump deixa o mundo todo em tensão absoluta, fazendo com que os combalidos órgãos internacionais de negociação dos conflitos, ONU e similares, tenham aquela sensação de que a ordem mundial imposta pelos EUA, em 1945, esteja de fato com seus dias contados, mas com uma consequência nefasta: o grito desesperado de uma potência imperialista que sabe que está em franca decadência.

A questão toda é que a vitória acachapante de Trump pode até contar com uma “Internacional de Extrema-Direita”, mas ignora algo básico da História do Capitalismo. O “destino” das sedes da economia mundial não depende apenas da vontade de seus governantes e de um certo “nacionalismo” démodé, depende das forças mundiais em disputa e dos próprios fluxos de concepção, produção e distribuição das mercadorias. Assim como depende de quem financia e de quem compra a dívida pública.

Em outras palavras, as dinâmicas que fizeram de Gênova, Amsterdã, Londres e Nova Iorque as sedes do capitalismo mundial — onde o sol brilha mais forte — dependeram de inúmeros fatores e de certas lógicas e padrões dos ciclos de acumulação do capitalismo histórico. Ora, muitas vezes o discurso e ações trumpistas parecem aquela tentativa malfadada de reinventar a era de ouro do automóvel americano, um bom fordão, um Chevrolet raiz, enfim, uma matriz automotiva pioneira, mas que hoje está obsoleta e anos-luz atrás dos asiáticos.

De minha parte, nesse latifúndio de guerras sem fim, compartilho com vocês um episódio sintomático. Em 2017 visitei a cidade de Nova Iorque. Uma vez na ilha de Manhattan, fiz questão de visitar a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), complexo modernista, cheio de esculturas emblemáticas, painéis e obras, inclusive, de artistas brasileiros, como o assombroso painel “Guerra e Paz”, de Cândido Portinari. Em suma, o lugar todo é uma ode à pacificação do mundo e um alerta para que não repitamos uma guerra total e nuclear como fora a II Guerra Mundial (1939–1945).

Uma vez na fila do detector de metal, coloquei minha mochila cheia de “bótons” na esteira. Para meu espanto, fui barrado por um segurança com ar grave. Gelei. Ele me trouxe para perto da mochila, apontou para um dos meus bótons (o qual ostentava um sonoro “Fuck 2016”) e disse assim: “Por mais que você odeie 2016, retire!” Demorei alguns segundos para traduzir e entender por que raios ele me censurava por algum bóton da mochila. Seria ele um Trumpista? Constrangido e temeroso de alguma retaliação, logo entendi que meu bóton — na entrada da ONU — parecia suscitar um discurso de ódio que eles pareciam querer evitar naquele ambiente de “paz”.

Acontece que pela cidade toda, desde novembro de 2016 (vitória do Trump), bótons tripudiando a vitória do bufão nos fazia acreditar que a presidência do magnata parecia ser caso isolado, resultado talvez das interferências russas ou das fanfarronices da sociedade do espetáculo. Contudo, o fascismo de Trump é o eterno retorno do século 20 e meu bóton — hoje guardado numa caixinha — é a menor das ameaças que a ONU irá enfrentar. Logo ele, tão fofinho, então: F*&#$@ 2016, 2024 ou 2025! E sorte para nosotros, pois mais do que nunca, iremos precisar.

“Non violence”, sediada nos jardins da ONU em NY, é um projeto e uma escultura do artista sueco Carl Fredrik Reuterswärd, feita após a morte de John Lennon. A obra representa um revólver (Colt Magnum 357) com um nó no cano, simbolizando o repúdio à violência das armas. Existem algumas versões da mesma escultura em diferentes lugares do mundo. (Fonte: UN-NEWS, NY)

Relacionados

Mais Lidas

Assine nossa newsletter
Receba nossos informativos diretamente em seu e-mail