Imbuído da imortalidade, o presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, 74 anos, decretou, em seu artigo no jornal O Globo, o fim político de Lula em 2026.
O petista “não terá idade” para enfrentar uma campanha à reeleição.
“Será quase na base do sacrifício”, diagnosticou, em definitivo. O imortal apressou a sentença por causa da queda sofrida pelo presidente da República, no banheiro do Palácio da Alvorada.
O imortal não está sozinho no seu augúrio (ou seria desejo?). Muita gente foi às redes sociais, nos últimos dias, com a mesma opinião. Não faltou inclusive quem achasse que Lula já estaria morto.
Responsável por diversos obituários do PT, o acadêmico apostou, como ninguém, no ex-juiz Sérgio Moro no papel do coveiro-mor do Partido dos Trabalhadores. A falecida, no entanto, acabou sendo a própria Lava Jato.
Na sua viuvez lavajatista, o presidente da ABL, qual um corvo de Edgar Allan Poe, entende que aos 80 anos é impossível o pernambucano segurar o rojão da política.
“Never more”, crocita o corvo nos umbrais do Planalto. “Nunca mais”, traduz o mesmo agourento bicho.
O jornalista poderia recorrer também ao punk-gótico Augusto dos Anjos para o seu vaticínio: “Ah! Um urubu pousou na minha sorte!”
Augusto, lembre-se, que não obteve a mesma glória do articulista carioca — alcançou apenas a imortalidade estadual (Academia Paraibana de Letras) ou municipal (Academia Leopoldinense de Letras).
Portador de imortalidade nacional, Merval esquece que o seu patrão e guru, Roberto Marinho, trabalhou firme até os 98, quando se despediu dos pobres mortais e velhos companheiros da imprensa.
Doutor Roberto, diga-se, também agraciado com o dom da imortalidade. Ocupou a cadeira 39 da ABL, na vaga do escritor e jornalista Otto Lara Resende, bravo funcionário da família no jornal e TV Globo.
Escrever obituários pode ser uma arte. É o que vemos, por exemplo, em “O livro das vidas”, uma seleção de textos sobre mortos ilustres e anônimos do “The New York Times”. É importante, porém, ter certeza que os personagens já partiram desta para outra.
No caso do fim de carreira política, por idade ou forma física, seria prudente esperar pelo menos até 2026. Uma queda no banheiro não permite, muita calma nessa hora, a redação de um obituário. Por mais que o autor se sinta inspirado pelo chá da imortalidade.
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